terça-feira, 29 de junho de 2010

O VELHO ZIRCÃO (2)


Crónica de António Piedade saída antes no "Despertar":

O Zircão é um mineral que nos conta a história da formação da crusta terrestre e marítima. Permite-nos, também, determinar qual a idade deste “planeta azul" e perceber a dinâmica da formação dos continentes e dos oceanos.

O zircão é um mineral classificado no grupo dos nesossilicatos. É, de facto, um silicato de zircónio (elemento químico com o número atómico 40, descoberto em 1789 por Martin Klaproth, e isolado impuro, em 1824, por Berzelius) que apresenta a fórmula química ZrSiO4.

O seu nome deriva do termo “zargum”, que é palavra árabe para “vermelho” e também nome persa para “dourado”.

Dependendo do local onde é encontrado, o minério zircão pode ser incolor ou ter matizes amarelo douradas, vermelhas, castanhas ou mesmo verdes! E este minério pode ser encontrado em quase todas as partes na Terra! A razão para esta ubiquidade terrestre advém da sua antiquíssima origem e formação. De facto, ele está presente nos três principais grupos de rochas: as ígneas, que são aquelas que resultam da cristalização directa; das metamórficas, que resultam da transformação química e física de outras rochas que lhes dão origem; das sedimentares, formadas da acumulação em determinadas zonas, depressões na topografia, de sedimentos de outras rochas transportados pelo vento e pela água (erosão).

Esta constância geológica dos zircões e a sua dispersão por todo o planeta, indica que ele pode, e de facto tem sido, ser utilizado para estudar, não só os estados iniciais da formação e estabilização do planeta Terra, como a génese de magmas, mas também a formação de outros planetas. Ou seja, esta gema semi-preciosa, substituto do diamante, é uma jóia analítica para a emergente astro-geobiologia.

Mas como é que a partir de um minério, como o zircão, é possível sabermos a idade dos estratos geológicos, das rochas onde ele é encontrado?

É referido que o zircão mais velho até à data encontrado (na Austrália) foi formado há cerca de 4,38 mil milhões de anos! Como é que os geoquímicos e geofísicos sabem medir isto?

Felizmente para a nossa curiosidade científica e para a nossa vontade/necessidade em compreender como a Terra e, consequentemente, a vida de que fazemos parte, se formou, o minério zircão é “hospedeiro”, ou “aloja”, duas “impurezas”, cujas propriedades radioactivas nos oferecem, de bandeja, a datação de períodos de tempo muito longos. Esses elementos da engrenagem do nosso contador de idade da Terra são o urânio e o tório (símbolos químicos U e Th, respectivamente). Assim, temos o compósito montado para abrir uma janela no passado longínquo: um minério, o zircão, que se forma desde o início do planeta; dois elementos radioactivos que nos fornecem informação sobre há quanto tempo estão alojados no zircão, ou seja, quando é que ele foi formado.

Na próxima cónica, sobre este assunto, explicarei como é que esta datação é efectuada e o que é que tem sido possível saber através dela.

4 comentários:

Carlos Faria disse...

É tão bom ver que existem pessoas dispostas a fazer divulgação científica de uma forma simples e clara na blogosfera portuguesa. Fico a aguardar o próximo episódio da saga do zircão.

Anónimo disse...

"O VELHO ZIRCÃO"

Ao Dr. António Piedade, minha fonte de inspiração

É curioso como a natureza
constitui um arquivo que permite,
com precisão e a máxima certeza,
determinar seu berço e seu limite.

É o caso de o zircão conter no seio,
dentro de si, os próprios documentos
que desde logo mostram donde veio
bem como os seus telúricos momentos

Por mim jamais o vi, mas imagino
como seja essa pedra singular,
esse arcaico minério... genuíno.

Se um dia o encontrar no meu caminho,
hei-de guardá-o e pô-lp num cantinho
da minha colecção particular!

JOÃO DE CASTRO NUNES

António Piedade disse...

Viva Caro Drº. João de Castro Nunes

Um destes dias, deveríamos juntar as minhas crónicas e as poesias, que a propósito ou despropósito delas, tem aqui colocado na forma de comentários singulares. O que me diz a este desafio?

Um cumprimento de gratidão.

António Piedade

Anónimo disse...

Acho que era uma excelente ideia, meu caro Dr. António Piedade; só que os meus poemas não estão à altura das suas esplêndidas crónicas científicas. São meras poetizações de conhecimentos que me transcendem, mas de forma clara e acessível postos ao meu alcance de aprendiz de humanista. Deixe-me ir comentando sempre que a matéria me saia ao caminho e me desvaneça o espírito... ávido de maravilhoso! JCN

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