terça-feira, 1 de junho de 2010

Ginástica Sueca versus Ginástica Respiratória (1)

“Não faço exercício. Se Deus quisesse que eu me curvasse, teria posto diamantes no chão” (Joan Rivers, comediante e actriz norte-americana).

Mal adivinhava eu, quando em leda e cultural actividade retirei os olhos do livro que estava a ler dirigindo-os para o ecrã da televisão, que me iria deparar com a imagem de uma entrevistada que defendia - como quem anuncia uma novidade de muita erudição - a prática de exercícios respiratórios nas longas filas de automóveis como forma de diminuir o stress.

Essa ocorrência, de certo modo fortuita, obriga-me à publicação de um novo post sobre a polémica gerada pelo “método Weisss de Oliveira e que eu tive, a par do conceito de Educação Física, como o perigoso destapar de uma caixa de Pandora motivante de comentários de grande fôlego argumentativo, e exigente rigor bibliográfico, por parte do Dr. João Boaventura em confronto com comentários meus menos "oxigenados", apesar de ter feito, em heróica paciência de Job, “ginástica de fole” durante todo um ano lectivo de estáticos exercícios respiratórios em benefício (sei-o agora) de uma possível longevidade, a fazer fé no dito de um anónimo com inegável sentido de humor: “Quando me querem convencer que correr prolonga a vida, lembro-me logo da tartaruga que não corre e vive mais de 150 anos”!

A publicação aqui do meu texto “A Ginástica de Fole” teve uma dupla intencionalidade:

1. Uma bem séria e em dever de cidadania: alertar os meus concidadãos para os efeitos nefastos para a saúde de uma prática respiratória dentro do automóvel em ponto morto pela inalação de gases tóxicos.

2. Outra, pela recordação bem humorada (o próprio título o indicia: “A Ginástica de Fole”) do meu sétimo ano do antigo curso dos liceus quando os meus pulmões eram solicitados para um trabalho de fole durante as aulas de educação física ministradas por um médico fiel a um seu colega esculápio, o Dr. Weiss de Oliveira.

Isto é, Weiss de Oliveira, um médico que deturpou, em benefício próprio e glória científica da sua ginástica respiratória, o Método de Ling, defendido por um outro médico, de nacionalidade francesa, Phillipe Tissié, vice-presidente do Instituto Internacional de Educação, organismo que viria a dar lugar, em 1953, à Federation Internacional d’ Education Physique (FIEP), de que se tornaria presidente o português Leal de Oliveira (1958-1970). Weiss de Oliveira, referindo-se, em cínico preito de homenagem, a Phillipe Tissié, dizia ser ele “seu mestre e amigo” (que bem se aplica aqui ao dito popular: “Quem tem amigos destes não precisa de inimigos!”).

Daqui o facto de eu ter atribuído a paternidade da ginástica respiratória escolar portuguesa a Weiss de Oliveira, como o fizeram diversas personalidades da vida portuguesa, não desmerecendo, com isso, o facto de ela, segundo o testemunho, na Assembleia Nacional, do deputado e médico otorrinolaringologista Moura Relvas, ter sido utilizada anteriormente na reeducação pós-operatória aos adenóides. Seja como for, há que fazer a necessária destrinça entre uma ginástica respiratória escolar e uma ginástica respiratória de recuperação terapêutica. Como se costuma dizer, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

Mas isto são contos largos que justificam o virar de páginas de um livro lido da frente para trás, e em que o “método Weiss de Oliveira” fica como que ensanduichado. Assim, corria o ano de 1915 quando o governo português nomeou uma comissão de 12 membros com a finalidade de criar um "Regulamento Geral de Educação Física" (de aplicação a quartéis e escolas), que foi publicado em 1920 visando, apenas, a escola e o robustecimento do indivíduo, a formação de cidadãos úteis à pátria dotados de vigor, agilidade, flexibilidade, etc., através de ginástica educativa combinada com jogos educativos e, posteriormente, com a prática desportiva, tendo como inspiração o método sueco.

Embora continuando a ter como génese, havida como bastarda, a ginástica sueca, doze anos depois, é dado suporte legislativo à ginástica respiratória pela aprovação do "Regulamento de Educação Física dos Liceus" (Decreto 21:110/32 de 4 de Abril). Situação logo aproveitado por Weiss de Oliveira que se apossa, em nome do seu declarado fervor religioso, desta nova corrente doutrinária de Educação Física escolar, em traição a Tissié, alterando 18 preceitos defendidos por si defendidos na qualidade de “apóstolo do método sueco no mundo”, como escreveu Weiss de Oliveira.

Um dos argumentos que Weiss de Oliveira evocou em defesa da sua fragilizada dama residia nesta sua declaração: “Educando a respiração combate-se num certo sentido a inclinação para o mal que para o físico veio em consequência do pecado original”. E, acrescenta ele ainda, “o que é bom na Suécia não é bom em Portugal”.

(CONTINUA)

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