quinta-feira, 10 de junho de 2010

"TOMA LÁ EDUQUÊS" DE MANUEL ANTÓNIO PINA

Foi lançado na feira do Livro do Porto o novo livro de crónicas do escritor Manuel António Pina:

- "Por Outras Palavras e Mais Crónicas de Jornal", Modo de Ler

que reúne muitas das suas bem pensadas e melhor escritas crónicas saídas no "Jornal de Notícias" (JN) e outros jornais.

Não resisto a transcrever uma, que saiu no JN a 14 de Junho de 2007 e que se intitula "Toma lá Eduquês":
O ex-ministro Marçal Grilo cunhou o termo "eduquês" para caracterizar a langue de bois, ou cassete, usada no Ministério da Educação (ME) e nas chamadas Ciências de Educação, cujo jargão afectado, confuso e obscuro passa por profundidade de "pensamento educativo". Como escreve Nietzsche, as águas profundas são sempre escuras; logo, o obscurecimento da linguagem passa facilmente por profundidade e densidade, mesmo que o que se diz tenha a profundidade da piscina de Charlot nos tempos Modernos.

Leia-se o que consta do site do ME sobre o Plano Nacional para a Matemática, agite-se, esprema-se e verifique-se o que fica: trivialidades: Mas, lá que parece "ciência" parece. E da "difícil"...

O "eduquês" manda há anos no ME (os ministros vão mudando mas o "eduquês" fica) e a ele fundamentalmente se deve o estado de catástrofe a que chegou a educação em Portugal. Os sucessivos ministros têm sido impotentes para contrariar a situação, reféns, como na série Yes, Minister, de "cientistas" da Educação a quem não é exigível qualquer responsabilidade política. Se a verificação experimental é o critério da verdade de qualquer teoria científica, olhe-se em volta e veja-se no que tem dado a experimentação desta espécie de ciência.

3 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Ora, não tinha conhecimento desta crónica. Com prejuízo meu.

Há portanto muitas pessoas que sabem que o eduquês existe, que o eduquês é triste e que o eduquês parece um dos nosssos fados.
Mas não é impossível contrariar os fados.
Tenho a certeza, porque é isso que todos os dias eu e outros vamos tentando fazer. Mas com cuidado. Porque (não) sabemos (sempre) o chão que pisamos e a engrenagem de interesses é muito forte. E impiedosa. Mas, como pouco valem a minha carne e os meus ossos, posso usá-los tanto quanto possível a ajudar o melhor que sei e posso os meus alunos.
E é muito gostoso e compensador saber que os alunos nos entendem, e apoiam. Além de (imaterialmente) agradecerem.

António Daniel disse...

já é tempo dos profs fazerem uma espécie de levantamento popular e ocupar o espaço do poder educativo. Porque não fazer uma greve, Fechar escolas durante um período e fazer valer os argumentos do verdadeiro ensino? Assim se ganhava respeito e legitimidade para acções futuras. Enquanto os professores não ocuparem o seu espaço, continua a proliferar opiniões pseudo-conhecedoras que mais não são que pura doxa. E a doxa domina. Contudo, o que começo a lamentar é que essas atitudes já estão na escola.
Não falo como um iluminado mas como alguém que está farto.

Carlos Albuquerque disse...

Mas afinal o que é o eduquês?

Se é caracterizado por:
"O "eduquês" manda há anos no ME (os ministros vão mudando mas o "eduquês" fica) e a ele fundamentalmente se deve o estado de catástrofe a que chegou a educação em Portugal."
então o eduquês é a necessidade urgente de estatísticas de sucesso com redução de despesa.

Já passaram pelo ministério muitos responsáveis diferentes mas na hora da verdade a opção é sempre: o que é que custa menos dinheiro e dá mais estatísticas de sucesso?

Quanto ao resto, a vacuidade da definição de eduquês é ela própria um excelente exemplo de... eduquês.

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