sexta-feira, 4 de junho de 2010

O triunfo do "eduquês" - 1

Ninguém sabe ao certo

- o que é o "eduquês", pois as afirmações que o traduzem além de ilegíveis admitem sempre o seu contrário, pelo que as tentativas de esclarecimento redundam invariavelmente em sínteses confusas,

- de onde surgiu e quais são os seus pressupostos, apesar de podemos invocar um rol de teorias filosóficas, sociológicas, pedagógicas, psicológicas… onde, eventualmente, terá adquirido forma e substância,

- nem porque é que surgiu, apesar de termos bastas razões para duvidar da bondade das suas conjecturas e propostas, ou daquilo que entendemos delas,

- nem quem são os seus verdadeiros mentores, apesar de conhecermos bem os seus executores,

- nem para onde nos conduz, apesar de temermos seriamente os resultados das práticas que ele impõe.

Podemos conjecturar em torno destas questões, mas não conseguimos responder-lhes sem margem para dúvidas.

Na verdade, o "eduquês" tem uma existência fluida, insinuante, difusa, que por pode até aparentar uma não-existência. O facto de alguém – Marçal Grilo – lhe ter atribuído uma designação, conferiu-lhe substância, permitiu reconhecê-lo, ou pelo menos, evitar a sua negação.

Ainda assim, o "eduquês" tem-se implantado nos sistemas educativos ao ponto de os dominar, em particular nos mais uniformes e frágeis sob o ponto de vista do conhecimento, como é o caso do nosso. E isto sem resistências de maior por parte de académicos, de intelectuais, e da sociedade, em geral.

Paulatina e determinadamente o "eduquês" tem avançado, desprezando dados da investigação científica, resultados de provas de exame credíveis, vozes que interrogam... tudo deixa pelo caminho.

Não há secretários de estado, nem ministros que, nessas qualidades, lhe resistam, antes se lhe submetem. Mais até: legitimam-no, tranformam-no em letra de lei.

O "eduquês" tem vencido, e infelizmente continuará a vencer, reconheçamo-lo.
(Continua)

7 comentários:

Anónimo disse...

É verdade que o eduquês penetra por todo o lado. Um aspecto que me intriga é o do vocabulário. Conheço ferozes adversários do eduquês (a maior parte professores do Superior) que só falam (ou escrevem) ensino-aprendisagem, competências, etc. Não gosto, quando me perguntam que competências devem adquirir os meus alunos costuma responder: nenhumas, têm é de saber a matéria caso contrário chumbo-os (não gosto do retanho-os). Mais, no ensino superior, até agora relativamente livre do eduquês, já circulam impressos (de avaliação e não só) em que o vocabulário e o que se pretende é tirado do eduquês. Os adversários andam alegremente a propagar o vocabulário que eles inventaram. Já vi planos de cadeiras universitária (perdão, unidades curriculares!) estipualndo o programa e quantas aulas para cada tópico que...enfim só dos eduqueses retintos. Actas e relatórios inúteis começam a proliferar no superior...
Quanto a Marçal Grilo, bem, quando era Ministro parece que não tinha notado muito o que era o eduquês, foi só depois de sair. David Justino, idem. Era um dos ferozes adversários (eu sei) mas enquanto Ministro nunca disse nada. Como explicar isto?

Daniel disse...

Só há eduquês ou lá o que isso significa devido ao controlo das escolas pelo ME.

Extingam o ME e as suas estruturas e a praga acaba.

Mas mais grave do que isto é o extrangulamento da rede escolas com as mega-escolas e os mega-agrupamentos.

Anónimo disse...

Caro Daniel:
Estou de acordo. A minha experiência de contacto com professores leva-me a pensar (poderei estar enganada) que a grande maioria dos professores não se revê no eduquês. Mas...

Luis Neves disse...

Se estas pessoas que vêem o "Eduquês" em tudo o que é mau no nosso Sistema Educativo, e que atribuem a um termo criado em Portugal o "Eduquês" um significado quase mistico, sem Rosto, sem responsáveis concretos das Políticas Educativas seguidas em Portugal, como é que se pode avançar para um programa alternativo da Educação em Portugal?
Como pode, quem tem esta visão negra do nosso ensino, dar uma Alternativa ao nosso Sistema Educativo, por exemplo extinguindo por completo o que chamam de "Eduquês" das Escolas.
Podem ser ferozes criticos do "Eduquês" e responsabilizarem o "dito" por tudo, mas o que faria a Helena Damião ou o Prof.Doutor Fiolhais no caso de serem os Ministros da Educação?
Voltavam atrás em quê ?
Por exemplo , Exames na 4ª classe? Exames para os Professores permanecerem na carreira? Castigos Disciplinares do mesmo tipo que existem por exemplo no Colégio Militar ou Casa Pia?
Se estamos sempre a criticar um "Sistema" uma "Força invisivel" ou uma "entidade oculta" e, não responsabilizarmos ninguém por políticas erradas, e por deixar de investir na Educação, Eu para mim, acho que se está a perseguir moinhos de vento como o Dom Quixote.
Luuis Neves

Ana disse...

Tenho de confessar que ainda estou a aprender o que é isso do eduquês eheheh, ou pelo menos aquilo que entendem como eduquês. Tenho rabujado muito à custa desse mesmo eduquês, que entendo, por exemplo, como os lindos palavrões burocráticos que temos nos programas (perdão, referenciais) dos cursos profissionais e de formação (sim, estou nessa vertente, nomeadamente nos EFAs, tão mal afamados, mas sem metade dos problemas com que se debatem os professores nas escolas ditas normais...não os invejo...), a burocracia maravilhosa com outros tantos palavrões que têm de ser entregues para avaliação e justificação de actividade, enfim... mas, há como dar a volta a isso e não trazer o que chamam de eduquês para a sala de aula. Faz-se o melhor que se pode com o que se tem; temos, contudo, uma posição priveligiada para contribuir para a mudança de mentalidades. Não há esforço/sucesso que não seja premiado. Tal como a preguiça mental não recebe qq prémio. É possível vencê-los juntando-nos a eles. Querem eduquês?? tomem. Mas dentro da sala e fora dos trâmites e do alcance da burocracia, a conversa é outra e o trabalho desenvolvido também.

Não menosprezemos os bons profissionais e seres humanos que ainda existem e que se esforçam todos os dias para contribuir para um futuro melhor com pessoas melhores e mentalidades melhores.

Idealismo, amadorismo (como lhe chamaram aqui, uma vez...concordemos em discordar...)? Pois que assim seja! O que é certo é que tem dado os seus frutos.

Graça Sampaio disse...

Posso ficar muito mal vista aqui no meio, mas nada tenho a perder! Primeiro quero dizer que gostei do comentário do Luís Neves. Depois, deixem-me dizer que isso do 'eduquês' neologismo que se colou rapidamente aos ouvidos de quem diz mal de tudo, deve-se principalmente a duas classes profissionais: os psicólogos e as suas falinhas mansas sobre os 'meninos' e os professores que deixaram de querer ensinar, dar matéria, transmitir conhecimento, fazer os alunos repetirem, trabalharem, estudarem, copiarem matérias, tirar significados, fazerem resumos, etc. etc. E não me venham dizer que foram os Ministérios que os proibiram de o fazer que eu estou lá desde 73 e sei como tem sido.

Carlos Albuquerque disse...

Parece que o eduquês é o "diabo" da nossa educação. Personifica todo o mal e serve para se atirar às coisas de que não gostamos.

Não seria possível um pouco mais de rigor metodológico, sobretudo por parte de quem se queixa do que vai mal no ensino?

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