segunda-feira, 28 de junho de 2010

MÚSICA NA COROA SOLAR

Nova crónica de António Piedade, saída no "Diário de Coimbra":

À frente de uma colmeia, algumas abelhas esvoaçam a preguiça e descrevem uma dança distinta da do dia anterior. É alvorada, e nada indica que as ditas abelhas estejam a comunicar a localização de um certo campo de flores, rico em pólen, eventualmente detectado na véspera, ao crepúsculo, mesmo antes de regressarem para a colmeia para mais uma noite: “Se o Sol não subir amanhã no horizonte, ninguém sai da colmeia”, zumbem ao adormecer. Mas hoje não é esse o caso. O astro amigo da vida, aparece cada vez mais intenso, mais radiante, inebriando as abelhas com luz matinal; a sombra do velho carvalho, que retardava que o sol iluminasse a colmeia logo pela manhã, já a não escurece. Algo mudou e não foi a colmeia! Parece que começou uma nova estação solar. É isso! Começou o verão e isso muda a dança dos dias!

Ali ao lado, uma multidão de gente, vinda de todas as partes, reúne-se ao redor de uma construção megalítica circular. Tal como a sombra ausente do carvalho sobre a colmeia, os humanos também observam e festejam o alinhamento do Sol com algumas das pedras erguidas no círculo; no seu centro e fora dele. Milhares de observações, ao longo de igualmente milhares de anos, levaram a que civilizações, da designada Idade do Bronze, edificassem tridimensionalmente, um monumento para celebrar a regularidade incansável dos astros, em particular do rei de todos eles: o Sol. A direcção da sombra, causada pela exposição solar das pedras iluminava o espanto da repetição: naquele mesmo dia há centenas de anos, o Sol também estava naquele ponto no horizonte celeste! E isso anunciava, a toda a criação, que o astro rei iria estar mais quente nos próximos tempos. A regularidade astral dava sustento à contemplação e ao fascínio que o Universo causa em seres sensíveis e mínimos. A certeza sediava-se em milhares de observações milenares registadas em edificação pétrea “3D”. Também anunciava que, dentro de pouco tempo, a noite começaria a crescer em relação ao dia, mas, e por enquanto, com uma temperatura estival.

Iluminados pela luz estival acabada de chegar, astrónomos na Universidade de Sheffield, no sul da Inglaterra, utilizam computadores e matemática avançada para interpretar e traduzir os dados enviados por satélites (da NASA e da ESA), que observam e recolhem informação sobre o Sol, a proximidades infernais, e converter esses dados em música! (aqui)

Com o rosto a sorrir de verão, o Professor Fáy-Siebenbürgen, director do projecto Sun Shine (aqui), ouve os últimos acordes (aqui) proporcionados pela “tradução” do movimento das projecções na coroa solar (projecções em “loops” para o espaço de matéria no estado de plasma na superfície solar, na realidade hidrogénio e hélio a altíssimas temperaturas) quais tsunamis no “oceano” de plasma de partículas sub-atómicas que banha a superfície solar, em acordes, harmonias da coroa solar, que sensibilizam a nossa audição e originam uma estranheza neuronal. Com uma temperatura de cerca de 2 milhões de graus Celsius, o ambiente musical deve estar sublimado! Os cientistas associam estas projecções na coroa solar (origem do vento solar) á actividade magnética do Sol. Sabem que uma grande mudança na actividade origina as chamadas tempestades solares. Estas, grandes quantidades de energia na forma de campos de campos electromagnéticos, “visíveis” no ultravioleta, causam perturbações nas comunicações tecnológicas humanas e interferem com instrumentação de base electrónica (telemóveis, computadores, televisões, satélites, linhas de transporte de alta tensão eléctrica, etc.). As avarias são comuns durante as tempestades solares. Deste modo, a possibilidade de prever, não o início de uma nova estação, mas o aumento significativamente intenso da actividade solar, reveste-se de uma importância crucial para a sociedade em que vivemos. E se essa predição se realizar através da audição musical da actividade solar, melhor: é a sinfonia solar, música com que a tempestade se faz anunciar!

Resta-nos ouvir essa música (aqui) e ver a dança das abelhas à frente das colmeias. Será que estes sensíveis insectos dançam ao som/visão da mesma música, sensíveis que são ao ultravioleta? Por outras palavras: conhecerão as abelhas o fascínio do multimédia?

3 comentários:

António Piedade disse...

Acrescento este link http://www.youtube.com/watch?v=hmwL2cLgD4k&feature=related sobre o Sol e bela música humana.

António Piedade

ana disse...

Parabéns António Piedade. É muito interessante a associação que fez no texto para falar sobre astronomia.

Anónimo disse...

OUVINDO A MÚSICA SOLAR

Ouve o poeta estranhas sinfonias
oriundas não sei donde, como ou quando,
que nos seus versos vai transfigurando,
origem dando às suas poesias.

São como intraduzíveis melodias
que dos remotos céus lhe vão chegando
e que ele vai no verso interpretando
de termo em termo ao longo dos seus dias.

Será talvez a mesma sensação
que experimentam junto das colmeias
as douradas abelhas no verão,

quando os ventos do sol impetuosos
as deixam tontas e por dentro cheias
de mágicos arroubos capitosos!

JOÃO DE CASTRO NUNES

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