Cabe, porventura, na cabeça de alguém que nos últimos Jogos Olímpicos se tivesse decidido, por exemplo, o vencedor dos 100 metros de atletismo através de um juiz árbitro (ou mesmo de um por cada finalista) a quem competiria decidir os lugares do pódio? O mesmo para o caso dos 100 metros livres da natação?
A resposta a estas perguntas talvez ajudem a compreender a falta de senso da FIFA em não tentar evitar os últimos e escandalosos casos ocorridos no Campeonato Mundial de Futebol 2010, que desvirtuaram a verdade desportiva.
Sem pôr em causa os respectivos méritos, refiro-me, como é evidente, aos jogos Alemanha/Inglaterra e Argentina/México de que saíram vencedores, respectivamente, a Alemanha e a Argentina. Mas méritos ensombrados na primeira partida com o jogo anulado ao futebolista Lampard, depois da bola ter entrado na baliza alemã, e na segunda partida com a validação do 1.º golo da Argentina em evidente fora de jogo de Tevez.
E aqui surge o eterno se…se o golo tivesse sido validado à Inglaterra o resultado final do duelo anglo-germânico teria sido de 4-1 favorável à Alemanha? Igualmente, o jogo entre a equipa dos pampas e a equipa mexicana teria sido favorável à primeira por 3-1?
Será que as modernas tecnologias só encontram lugar no futebol na preparação físico-técnico-táctica das equipas? Em todo o resto o futebol tem sido pasto da utilização de modernas tecnologias com gastos fabulosos no campo da investigação entre os colossos da venda de equipamento desportivo como, por exemplo, a Nike e a Adidas.
A moderna tecnologia na descoberta de novos tecidos trouxe-nos camisolas com grande poder de absorção do suor e fatos de banho de competição que diminuem o atrito à água, no aspecto das botas de futebol passaram a ser botas em que a sua maleabilidade em nada se identificam com o couro duro e rígido das botas por exemplo “dos cinco violinos” da equipa do Sporting na década de 50 (as equipas argentinas foram as primeiras a terem consciência da vantagem de botas de futebol que bem se adaptam aos pés e tratam a bola com a subtileza das habilidades circenses).
Quanto à bola de futebol, diva principal da magia do golo que entra ou passa ao lado da baliza, a sua feitura obedece a princípios do domínio da balística (vide, crónica de Carlos Fiolhais, "Ora bolas!", publicada no semanário “O SOL” , em 25 deste mês, e transcrita nesse mesmo dia neste blogue). A vara do salto à vara evoluiu para as actuais varas de fibra, etc.
Não é mais possível, portanto, o futebol de alta competição, com ecrãs gigantescos de televisão colocados no próprio campo em que decorre o jogo, continuar a viver da dúvida do que aí acontece e que venha a servir de assunto de discussão dos jornais desportivos do dia seguinte em que se dividiam as opiniões, ou mesmo “teses”, dos especialistas do jornalismo desportivo.
Para além disso, esta visão dos erros intencionais ou não dos árbitros pode ser motivo de uma maior tensão e consequentes motins entre claques. "For Good of the Game", vão os meus votos para que no jogo do mata-mata de hoje, entre equipas de países que habitam esta “jangada de pedra”, o coração sinta os que os olhos vêem.
18 comentários:
Esta rejeição teimosa da FIFA às novas tecnologias para auxiliar as arbitragens é incompreensível.
Mas eu compreendo. A dependência da avaliação humana através de um árbitro faz parte das emoções fabricadas pelo futebol. Se lhe tirarem isso, perde-se muito. Quem já ouviu (e participou) uma mole humana gritar ritmadamente "fora o árbitro, fora o árbitro..." ou mesmo "filho da puta, filho da puta..." quererá abdicar disso? Aceito que se ganha em rigor mas perde-se em emoção...e lá se vai o futebol....
Anónimo (19:24):
Eu não compreendo. A emoção do jogo transformada numa espécie de "roleta russa" entregue a erros de arbitragem em prejuízo de jogadores que, esforçadamente se entregam ao jogo, para num segundo verem o seu esforço deitado a perder por uma falta de atenção da arbitragem ou mesmo um erro intencional? Eu favoreço a verdade do jogo em prejuízo de uma multidão que, em catarze das chatices da vida, chama nomes ao árbitro. Ao árbitro e à pobrezinha da mãe que até pode ser uma senhora muito respeitável...
Mas terá sempre de estar entregue a erros dos jogadores, dos treinadores e do público. Claro, pode tornar-se tudo asséptico com tudo previsto sem margem para erros nem emoções de nada nem de ninguém. Nem os átomos jogam assim como afirmou Hesenberg. Se eliminarmos todas as possibilidades de imprevisto (ou erro) não fica nada salvo a morte.
Catarze: mas o futebol não é para isso mesmo? Ou depois já nem para catarse serve?
Como se costuma dizer na esgrima, "touché": catarse. E como manda a educação, obrigado.
A FIFA não tem voz activa para mudar regras de futebol, que são da estrita competência da International Football Association Board (IFAB), fundada em 1882, pelas quatro federações britânicas (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte).
A FIFA, criada 22 anos mais tarde, em 1904, limitou-se a adoptar as regras da IFAB mas, dada a grande difusão do futebol a nível mundial, o órgão legífero da IFAB acabou por integrar a FIFA no seu seio.
As decisões para as mudanças das regras do jogo ocorrem duas vezes por ano, Fevereiro e Março, meses em que a Assembleia Geral Ordinária se debruça sobre as eventuais alterações propostas pela FIFA ou por cada uma das federações britânicas que as proporão um mês antes da referida Assembleia.
Desconhecemos que propostas apresentaram este ano A FIFA mas, de qualquer forma, elas, só são aprovadas desde que mereçam a aprovação de, pelo menos duas federações britânicas.
Portanto não é suficiente a proposta da FIFA, porque, se duas federações britânicas não aceitarem… nada feito.
Conclusão: a FIFA não põe nem dispõe das regras da IFAB.
A Deus o que é de Deus, à Grã-Bretanha o que é da Grã-Bretanha, porque foi aí que nasceu o futebol e se criaram as respectivas regras.
Quanto à discussão do critério instituído há 128 anos, já é outro problema.
Caro João Boaventura: Eu não abordei quem tem competência para introduzir ou não as novas tecnologias no futebol em prol da verdade desportiva. Ainda hoje, por exemplo, no jogo Portugal/Espanha, através de imagens televisivas, se ficou a saber que o golo de Espanha foi marcado fora de jogo.
Mas agradeço-lhe as explicações, bem elaboradas, para concluir que "a FIFA não põe nem dispõe das regras da IFAB".Ou seja, manda quem pode, obedece quem deve!
Em complemento ao meu anterior comentário a João Boaventura:
Salvo melhor opinião (mesmo que as regras do futebol sejam da competência da IFAB, como esclarece), as novas tecnologias não alteravam essas regras (elas manter-se-iam). Apenas, o seu correcto cumprimento seria coadjuvado por essas tecnologias.
Prezado Professor JCN:
Sobre o comportamento de Cristiano Ronaldo, sem comentários (elas falam por si), transcrevo estas ” desculpas de mau pagador”, publicadas no “Sapo” no próprio dia do jogo, às 23:43:
«Cristiano Ronaldo justificou a sua reacção no final do jogo com a Espanha, para o Mundial de futebol, no qual Portugal perdeu por 1-0, com o facto de se sentir “destroçado e com uma tristeza inimaginável”.
O avançado do Real Madrid, quando confrontado pelos jornalistas, após o jogo, a comentar a derrota, remeteu para o seleccionador: “Perguntem ao Carlos Queiroz”.
“Espero que não sejam criados fantasmas onde eles não existem. Sinto-me destroçado, completamente desolado, frustrado e com uma tristeza inimaginável”, explicou, em declarações publicadas no site da Gestifute, empresa do empresário Jorge Mendes, que gere a sua carreira.
Ronaldo considera que a frase que proferiu é “simples e inocente”, mostrando-se estupefacto com as reacções que suscitou, respondendo directamente a um comentário de António Simões que integra a equipa técnica de Carlos Queiroz, para quem “um capitão tem uma responsabilidade acrescida”.
“Sei que sou o ‘capitão’, sempre assumi, como assumirei as minhas responsabilidades, mas naquele momento não conseguiria dizer mais do que três ou quatro frases lúcidas”, disse Ronaldo, a tentar justificar a frase que proferiu aos jornalistas.
Chega mesmo a explicar que, quando disse para perguntarem ao seleccionador, fê-lo porque este “estava na conferência de imprensa” e os jornalistas podiam “escutar as suas explicações”, em vez de lhe perguntarem a ele, que não se sentia em condições “para dizer o que quer que fosse”.
Lembra que “é um ser humano”, que está a “sofrer” e que tem o direito de “sofrer sozinho”, jamais lhe passando pela cabeça que a “frase inocente” que proferiu provocasse “tanta polémica”, solicitando, a terminar: “Não se encontrem fantasmas onde não existem ou casos que não são casos”»
Quanto ao Hino Nacional. No início de outros jogos da Selecção, Cristiano Ronaldo quando televisionado mexia apenas os lábios como quem balbucia sabe-se lá o quê. Desta feita, pelo menos, foi mais sincero cerrando os lábios. Eu até compreendo que jogadores nacionalizados portugueses o façam em respeito pela terra que foi seu berço…e mais não digo!
Moral da história:
1. Ronaldo pode ostentar o troféu de melhor jogador do mundo ensombrado por ter sido o pior jogador em campo neste jogo depois de, em declarações anteriores, ter feito a promessa de “ir dar tudo por tudo”, como se diz na gíria desportiva.
2. Mas o cerne da questão, quanto a mim, reside no facto do seu desportivismo (pior do que isso, regras de conduta de cidadão) deixar muito a desejar.
Bem sei, como escreveu António José Saraiva, figura grande da Cultura portuguesa, que “este mundo é duro; haverá sempre inquisidores e fogueiras”. Ronaldo não merece inquisidores e, muito menos, fogueiras. Mas é bom que as críticas que lhe são feitas, num período infeliz da sua vida, mereçam por ele serem meditadas porque não basta ser um dos melhores do mundo a dar pontapés na bola. Isto mesmo sem exigir que o desporto seja uma escola de virtudes que, infelizmente, o não é neste verdadeiro circo romano em que se tornou sem ter conhecido o apogeu de uma cultura integral helénica. Que quer, meu Caro Doutor JCN, sinais do tempo…
Mais uma vez a desatenção ou "má visão" dos árbitros fez das suas.
No jogo Portugal/Espanha deste Campeonato do Mundo o golo de Espanha, segundo mostram as imagens televisivas, foi obtido fora de jogo.
Será que a verdade desportiva tiraria o condimento necessário para que os jogos de futebol mantivessem o seu estatuto de arrastarem multidões pelo facto de denunciarem os erros de arbitragem da condição humana? Será?
Caro Rui Baptista
A minha informação pretendia esclarecer Miguel Galrinho porque é do sendo comum que a FIFA pode alterar as regras quando bem entender, e que não o faz "por teimosia", como foi a impressão do primeiro comentário. Daí o meu esclarecimento
Quanto ao resultado do jogo, a Espanha encontrou a solução do problema, e Portugal tem um problema para resolver.
Cordialmente
Quanto à regulação das novas tecnologias a FIFA tem três opções:
1. A dos duelos entre equipas - utilizada no râguebi onde, como se sabe, cada jogador tem 295 m2 de espaço individual de interacção e, portanto, mais próximo do futebol onde o espaço é de 322 m2.
Neste caso o árbitro recorre ao vídeo-árbitro, só nos encontros mundiais televisionados, e não com a frequência que seria desejável. Parece o mais ajustado ao futebol.
2. A dos duelos individuais - utilizada no ténis, no "snooker" e no críquete, com o célebre sistema "hawk-eye" (olho de falcão), instituído em Wimbledon, em 2007, mas com custos proibitivos, na ordem de 15000 euros por unidade e por semana, o que obrigou a organização a usá-lo apenas no court n.º 1 e nos courts centrais. Cada jogador tem direito a três verificações por "set".
Para uma informação mais detalhada propõe-se uma visita ao Hawk-Eye, onde a aplicação ao futebol parece estar já estruturado.
3. A do "chip" na bola já fabricada pela Adidas e experimentada no Mundial de Sub 17, salvo erro, em 2005, mas, apesar do grau de precisão ter sido de 95%, a fiabilidade parece oferecer ainda algumas dúvidas. Parece a opção menos acertada.
Cabe agora à FIFA a decisão de apresentar à IFAB o melhor sistema e esperar que duas federações britânicas o aprove.
A quem estiver interessado.
Outro desenvolvimento sobre o Hawk-Eye, permite um conhecimento mais alargado sobre o sistema.
Por último, um novo sítio onde se conclui que também no Hawk-Eye há erro.
Ver aqui.
IDEAL OLÍMPICO
Ao Dr. Rui Baptista, em consonâmcia
Não basta a força, a rapidez, o jeito
peculiar de cada desportista
para, tirando o dom de dar na vista,
dele fazer um jogador perfeito.
Há que ter alma, espírito de luta,
vontade de vencer de forma airosa,
honesta, categórica, espantosa,
sem recorrer a tramas na disputa.
Neste contexto foi que em tempos idos,
na Grécia antiga, se imortalizaram
os cidadãos aos jogos admitidos.
Não se consegue a condição de atleta
sem se dispor de formação completa,
como na escola, aliás, nos ensinaram!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Finalmente o Ronaldo.
Ganhou o estatuto do melhor jogador do mundo por aquilo que fez no Manchester United, dob a direcção de Fergunson, estatuto que manteve no Real Madrid, sob a batuta de Pellegrini.
Falta saber as razões que justificam a sua má prestação quando joga por Portugal.
A hipótese que avento é a de que tem existido uma incompatibilidade entre o modelo de jogo da selecção, desde Scolari, e a posição de Cristiano no esquema técnico e na estrutura táctica.
A partir daí o permanente desintegrado Ronaldo na máquina da selecção, mas sempre integrado nas fórmulas do Manchester United e agora no Real Madrid.
Figo não se pode arvorar em mentor sobre as responsabilidades de um capitão. Com Scolari saíu amuado quando foi substituído, levando o seleccionador a disfarçar a atitude do jogador com a explicação de que Figo estaria rezando pela equipa no balneário.
Seria também por isso, caro Dr. João Boaventura, que ele se escusou a cantar o hino nacional? JCN
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