Em 30 de Maio último receberam um Silver Award no Festival Europeu de Design (um dos mais importantes acontecimenos na área do design que neste ano decorreu em Roterdão) pelo trabalho de concepção gráfica da colecção Minotauro, da editora Almedina, que inclui livros de ficção espanhola contemporânea. Na passada semana receberam a notícia de que esses livros, a concurso no American Institute of Graphic Arts, em Nova Iorque, tinham sido incluídos na selecção anual dos “50 livros e capas mais bem desenhados” do mundo. São razões suficientes para que o De Rerum Natura tivesse falado com eles.
P: Começo esta conversa pela pergunta clássica: o que significa para vós os prémios de tanto prestígio que têm recebido, com particular destaque para os dois últimos?
R: Significa, antes de mais, uma enorme alegria. Em particular este segundo prémio é um prémio muito valioso para qualquer designer. Ficámos muito orgulhosos de estarmos na mesma selecção de muitos dos nossos “heróis” do design de capas e de livros. Significa também que estamos no bom caminho. É o reconhecimento pelo nosso investimento neste projecto.
P: Ainda sobre os dois últimos prémios, uma das coisas que a Ana e o João disseram em várias entrevistas é que leram a maior parte dos livros que trabalharam graficamente. Entraram, portanto, no espírito de uma colecção, mais do que de um livro. Que espírito foi esse que vos inspirou?
R: O desenho desta colecção foi a resposta a um programa muito bem definido por parte do editor. Quando assim é, torna-se mais fácil trabalhar e, regra geral, os resultados são também melhores porque quando um problema é bem formulado é mais fácil dar-lhe uma boa resposta. Assim, mesmo antes de lermos os livros pensámos o design da colecção enquanto matriz na qual todos os livros deverão poder existir graficamente. O desenho de uma colecção é diferente do desenho de uma capa avulsa. É preciso prever soluções que funcionem para todos os livros. Pensada essa parte foram lidos, de facto, integralmente a maioria dos livros e determinada a expressão plástica das ilustrações. A leitura dos livros determinou o motivo da ilustração de cada capa pois só assim se percebe o tom, os personagens e a paisagem que o constitui.
P: Destacaram também que trabalham nesta periferia que é Portugal. Trata-se de uma periferia vantajosa ou desvantajosa no que, em particular, diz respeito à vossa área?
R: Essencialmente desvantajosa. Portugal é um país periférico também porque é pequeno. Desenhar um livro em Portugal é caro porque os recursos utilizados e as despesas tidas numa pequena edição são praticamente as mesmas que de uma edição de tiragem muito superior num país em que há mais gente e mais gente a ler. Há uma série de gastos que um livro envolve, quer tenha uma tiragem de 500 ou 5000 exemplares. Custos de direitos de imagem, de horas em projecto de design, de utilização de fontes legais, etc. Isto encarece muito os livros e tende a levar à poupança nos recursos o que restringe muitíssimo as opções de técnicas de produção e materiais utilizáveis para quem desenha livros. Também o acesso a materiais de melhor qualidade como por exemplo alguns papéis estrangeiros, se torna mais difícil devido a essa periferia.
P: Como acham que, de modo geral, se apresenta em termos gráficos, nesta periferia, o objecto livro?
R: O panorama melhorou mas é em termos gerais ainda medíocre. Os livros são muitas vezes mal desenhados por curiosos que não dominam os conhecimentos necessários e depois disso produzidos sem grande cuidado sobre fracos materiais. Ou então desenhados de forma deslumbrada, disfarçando a falta de ideias com tudo o que é “efeito especial” numa mesma capa: relevo, verniz, papel especial... e aí também é mau, só que é um mau mais caro.
P: Temos acesso imediato ao vosso trabalho olhando para as capas dos livros, que são belíssimas, mas ele vai muito mais além: está presente na mancha gráfica, no tipo e tamanho de caracteres, nas margens, na paginação, nas fitas marcadores, no tipo de papel… é frequente um designer ter possibilidade de apresentar uma colecção de livros em todas estas vertentes? E o que é que isso significa?
R: Não é muito frequente. São requintes que nem sempre é possível trabalhar. Neste caso foi porque fazia parte do programa inicial fazer um investimento um bocadinho maior e desenhar livros não só para um público que gosta de ler mas que também gosta de livros.
Fotografias, por ordem, de Sérgio Azenha e de Daniel Santos.
2 comentários:
Muito Parabéns pelo reconhecimento e trabalho magnífico e belo que têm desenvolvido.
Parabéns João Bicker e um Abraço.
António Piedade
Colecção é erro. É coleção.
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