quarta-feira, 16 de junho de 2010

Para evitar tentações...

Noticia o jornal i que a Ministra da Educação justificou, perante a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, a polémica medida que permite a alunos com quinze anos passar do 8.º para o 10.º ano com os seguintes argumentos:

- a medida tem um carácter transitório, sendo válido apenas para este ano.

Legitimamente, podemos perguntar se não será introduzir mais uma injustiça, neste caso em relação aos alunos que estarão nas mesmas condições nos próximos anos?

- a medida destina-se a evitar esses alunos "sejam tentados pelo abandono escolar", quando o que se pretende é que continuem a escolaridade obrigatória, agora até ao 12.º ano.

Legitimamente, podemos perguntar: os alunos que não "sofrem dessa tentação" não deveriam beneficiar das mesmas possibilidades?

- a medida não é facilitista pois os alunos têm de fazer ONZE exames.

Legitimamente, podemos perguntar: não será um pouco irrealista pedir aos alunos com um percurso académico problemático para se prepararem para tantos exames, em dois meses, vá lá... três?

Mais terá dito que será "quase impossível" os referidos alunos ultrapassarem esses exames de carácter nacional e de escola...

Legitimamente, podemos perguntar: não haverá aqui uma contradição evidente!? Ou seja, procura-se evitar a tentação de certos alunos abandonarem a escola, mas se é quase impossível superarem a provação, então, o mais certo é que a abandonem. Logo, a medida é ineficaz.

11 comentários:

Anónimo disse...

Evidente... por demais! JCN

Fartinho da Silva disse...

Cara Helena Damião,

Para ter uma ideia do que se passa nas "escolas" patrocinadas pelo Ministério da "Educação", deixo aqui esta informação.

Acabou de me telefonar um amigo professor numa "escola" pública no norte do país dando-me a informação que a ordem é "passar tudo"! Mas tudo mesmo. A situação mais extrema parece que foi esta: um aluno do 8º ano de "escolaridade" com média de 2% (dois por cento) a Matemática, 8% (oito por cento) a Português e 28% (28 por cento) a Geografia foi aprovado... em "conselho de turma"!

Segundo a mesma fonte, a direcção deixou claro que ou os "conselhos de turma" colaboravam ou a direcção resolvia o assunto.

Este caso é extremo, mas pelas informações que tenho recebido a verdade é que o laxismo está a ultrapassar tudo o que se possa imaginar! Desde passar "alunos" com 8 negativas em "conselhos de turma" até passagens com 10 negativas em "conselho pedagógico"! E isto está a acontecer em imensas escolas de norte a sul do país.

As justificações são as habituais, ou seja: o contexto social do aluno e/a a idade do aluno...

FC disse...

Se a relação entre o sorriso e a inteligência é a evidenciada pela ministra, torna-se mais fácil aferir o QI da Gioconda...

Anónimo disse...

Pelo que respeita à ministra, caro sr. FC, será que exista essa "evidência" ?! JCN

maria disse...

pois , sendo a escolaridade obrigatória até ao 12 º e/ou até 17 anos (? )- suponho que haverá um limite de idade -, esses alunos , sem essa medidinha , ficariam no 8º , 9º no máximo , até esse limíte de idade ... não custa perceber o que pretendem.
o retorno de tudo o que pagamos pela escola pública anda quase a roçar o zero. vamos ter de rever o conceito em breve...

Anónimo disse...

Depois de alguma reflexão, coloco a seguinte questão: quem nos governa é o que se sabe, quem nos governará, daqui a alguns anos, serão talvez pessoas muito preparadas, dessas que transitaram com 8 ou 9 negativas, que passaram do oitavo para o décimo ano, ou que acederam ao ensino universitário através de uma nova oportunidade. Será que nessa altura o país conseguirá, então, afirmar-se?
Conheço algumas funcionárias de limpeza e trolhas, (a quem reconheço todo o mérito no seu trabalho e postura) desempregados de vária ordem, alcoólicos, "amigos do alheio", a quem são reconhecidas as suas competências. Não nego que as tenham, cada um na sua área. Depois, durante uns tempitos, vêem-se crescer, com os seus diplomas de 9.º, 12.º anos, a auto-estima bem elevada. Mas... (há sempre um mas...) passado algum tempo reparo que a profissional da limpeza continua de vassoura na mão, o trolha, no trabalho do costume, o alcoólico (a quem obrigarm a ir para a escola para receber o subsídio, continua às voltas com os copos e os trambulhões, e... a auto-estima está outra vez "nas ruas da amargura". Serão estas as novas oportunidades?
Pior foi aquele dia (quando se falava de datas de diplomas) em que me perguntaram se sabia em que dia da semana fora passado o meu! E eu, temi... então não é que não sabia. E se tivesse sido passado num domingo? Como sairia dessa?
Também esta nova oportunidade... transitória (os alunos deste ano devem ser mais importantes que os do anterior ou do próximo)... mais não é que um engano. Nem ao menos os respeitam... Quem serão essas inteligências tão raras que, carregadas de negativas, serão capazes de tão grande proeza? Ou será que os exames já trazem as respostas dadas e basta colocar-lhes o nome em cima? Ai, ai, este país perdeu o tino!...

Anónimo disse...

Sou professor e a única palavra que me ocorre para falar sobre o que se passa no ensino é: BANDALHEIRA. E sobre o que se passa nas escolas, DITADURA.

Poderá uma mudança de governo inverter o actual estado de coisas? Há alguma esperança para o moribundo papel do professor na sociedade? É que isto é tudo uma sucessão de "inacreditáveis": quando pensamos que pior não é possível, constatamos que afinal é. Não há por aí ninguém que precise de um motorista, ou qualquer outra coisa que dê para sobreviver?

Anónimo disse...

Vou escrever este comentário como anónima, porque se o director da escola onde lecciono o lesse e identificasse a minha pessoa, tomaria de imediato medidas que me prejudicassem (incluindo trabalho até à exaustão e tarefas inexequíveis, para poder colocar umas cruzes conducentes a uma avaliação negativa).

Recebemos instruções no sentido de a retenção dos alunos ser uma medida excepcional. Nos casos "excepcionais" em que, apesar do medo dos professores e de todo o facilistismo, os alunos conseguem acumular 5, 6 e 7 negativas, a retenção tem de ser muito bem fundamentada, em acta. Essa fundamentação tem de se basear nas vantagens, para o próprio aluno, da retenção. Ou seja, argumentos de que o aluno não adquiriu os conhecimentos previstos ou de que esteve o ano todo a gozar com o sistema, não são permitidos. (falo de casos em que a situação sócio-econímica dos alunos é absolutamente normal).

Quando afirmámos que não sabíamos como fundamentar por escrito a retenção de um aluno sem alegar os resultados da sua avaliação, foi-nos dito que se não sabíamos, então não havia razão nenhuma para o aluno ficar retido.

Não estou a brincar e muito menos a especular.

Helena Damião disse...

Caros leitores identificados e anónimos

Quem está no terreno escolar ou o conhece de perto facilmente percebe que uma coisa é o que se encontra formalizado em documentos da tutela e outra é o que se "sugere" aos professores para fazerem.

Que os vossos comentários sirvam para que se saiba que há pessoas que estão perfeitamente conscientes que essas "sugestões" existem e que as consideram contestáveis.

Obrigada,
Helena Damião

petra disse...

só tenho a dizer que no tempo da " outra senhora" , em que a escola era para alguns , o benefício dessa escola , difícil e exigente , era muito para a sociedade em geral . dela sairam grandes cabeças , disciplinadas e trabalhadoras. hoje em dia , com a "escola para todos" ? baixou o nível da escola e oferecem diplomas de Ronaldo até a quem tem 2 pés esquerdos. como sociedade perdemos muitissimo.
e ninguém diz nada desta palhaçada de escola ?

Anónimo disse...

É só para corrigir os "trambolhões" do comentário que há dias fiz.

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