Com a devida vénia, transcrevemos crónica de J.L. Pio Abreu no "Destak" de hoje:
Houve um tempo em que não existia oxigénio na atmosfera terrestre. Aliás, o oxigénio era tóxico para os organismos então existentes.
Mas houve um deles – a bactéria azul – que, além de resistir ao oxigénio, produzia-o em resultado do seu metabolismo. Na verdade, foi a precursora das árvores e plantas actuais, que expulsam o oxigénio como detrito do seu alimento.
Nessa altura, porém, existiu uma guerra de morte: todos os organismos sensíveis à toxicidade do oxigénio acabaram envenenados. Durante mil milhões de anos, a Terra ficou exclusivamente coberta pela bactéria azul.
Os outros organismos tentavam reproduzir-se, por vezes escondendo-se na água. À superfície da Terra só sobreviveram os que resistiam ao oxigénio. Mas o maior êxito foi daqueles que, para além disso, começaram a usar o oxigénio em seu proveito.
O veneno passou a ser alimento. Os seres vivos diversificaram-se, ganharam autonomia, povoaram a Terra e deram origem aos humanos. O oxigénio já fazia parte da atmosfera.
Os humanos lá foram evoluindo, adaptando-se a todas as contingências, Trocavam bens entre si até produzirem dinheiro. O dinheiro, a princípio, apenas substituía os bens. Mas depois autonomizou-se e correu à volta do mundo.
No seu caminho, já provocou desastres e foi venenoso, embora beneficiasse quem se alimentava dele. Hoje, faz parte da atmosfera dos humanos, e é produzido sem cessar pelos Bancos Centrais, a nova bactéria azul. Se é veneno ou alimento, depende do modo como nos adaptamos a ele.
José Luís Pio de Abreu
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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3 comentários:
Em termos biológicos, julgo conveniente não considerar o oxigénio um alimento. Nem mesmo em sentido figurado. É, isso sim, um comburente muito eficaz na oxidação total de compostos orgânicos - o verdadeiro alimento - no metabolismo celular, com a consequente libertação faseada de grandes quantidades de energia, continuamente transferida para as indispensáveis moléculas de adenosina trifosfato (ATP).
O dinheiro é um "comburente" social? Ou, mais do que isso, tornou-se o próprio "alimento"? Alimento não é certamente, mas a ganância humana o faz muito mais do que isso...
Aparecerá algum novo Cristo ou algum novo Karl Marx que nos ilumine sobre como resistir à toxicidade do dinheiro?
Ou seremos vítimas (objecto?) de uma selecção socio-biológica (ainda) não teorizada?
Nada sei, é o que digo. E no entanto, digo...
E ainda bem que diz, porque assim podemos ouvir...
BACTÉRIA AZUL
Vista do céu, a terra que habitamos
parece toda azul, da cor do mar
nos dias em que o ar que respiramos
límpido está, sem nada o macular.
Nasceu azul a vida, sabe-se hoje,
há biliões de séculos atrás,
essa divina cor que ora nos foge
ora em diversas outras se desfaz.
Bactéria azul: foi dela que partiu
a vida no universo, dando origem
ao ser humano... que a desiludiu.
Quando olho para trás, dá-me vertigem
considerando as formas que tomou
até chegar àquilo que hoje sou!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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