"Outra linha definidora desta nossa "tragi-comédia" é o que se está a passar no ensino. Como se não bastasse essa outra dimensão do problema, que é o facto de estarmos a desaparecer enquanto povo devido à baixíssima taxa de natalidade, quem nos governa só ajuda a que cada vez mais casais desistam da ideia de ter filhos. Sem urgências nem maternidades e com cada vez menos serviços públicos de proximidade, fora dos centros mais populosos do litoral, as populações vão definhando. Agora, foi anunciado o encerramento de mais de 900 escolas com menos de vinte alunos, quase todas do interior. Eis uma medida que claramente brotou da mente de um daqueles génios incompreendidos que vagueiam pelas alcatifas do poder. Em vez de remeter os génios à procedência e assim contribuir para a poupança, o Governo acolhe estas visões mesquinhas de curto prazo sem pensar no amanhã. E o amanhã é um deserto, porque as pessoas não se resignam ao abandono e ao esquecimento. Agora, já se percebe para que estão a ser construídas tantas auto-estradas: é para todos se virem embora mais depressa."
domingo, 13 de junho de 2010
A nossa "tragi-comédia"
Dum artigo de opinião, da autoria de Áurea Sampaio publicado na revista Visão no passado dia 9 de Junho, transcrevemos uma passagem incidente na educação escolar e no seu contexto:
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4 comentários:
O decidir tudo em cima do joelho não é só um problema dos nossos decisores políticos, é, também e infelizmente, um problema muito português. A nossa desorganização crónica e histórica leva a que quase tudo seja decidido desta forma.
Mas, como diria Bordallo Pinheiro, ninguém nos bate... em capacidade de improvisação! JCN
Ontem mesmo fiz o percurso desde a aldeia do Piódão (concelho de Arganil), pelas faldas da Estrela, até ao Tortosendo e Covilhã. Eu e o que mais cinco dezenas de pessoas testemunhámos foi uma paisabem impressionante, mas humanamente desertificada. As aldeias morrerão com os últimos anciãos. Ficará apenas o mato, que as chamas ceifarão, de x em x anos?...
E esse sentimento é fácil de constatar, basta falar, ou melhor, ouvir, as pessoas que por lá "esperam a morte", agarradas ao torrão em que nasceram, como se fossem parte dele. E são.
E bastava isso, para merecerem outro respeito.
Fechamos as escolas, pois.
Mas construímos estádios faraónicos que, ou não servem para nada - Algarve, Leiria, Aveiro - ou satisfazem o orgulho de brilhantes arquitectos, por preços de custo e manutenção astronómicos, como em Braga.
Mas, que valem os humildes do interior serrano comparados como os génios da bola?
Compensemo-los ao menos com a eutanásia, ou outras benesses do género, mesmo que eles não queiram.
Porque os génios é que sabem...
Ou não é o que a realidade demonstra?
desengane-se quem pense que isto são meras desorganizações; não é nem pode ser inocente que há mais de 30 ano se mantenham e promovam as mesmas políticas para o ensino. Isto tem propópsito! uma escola reprodutora das desigualdades sociais e não produtora de conhecimento e estatuto, o fosso cada vez maior entre escolas de primeira e de segunda e de alunos de primeira e de segunda serve os interesses de quem pretende manter o estado de coisas .
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