“Abyssus abyssum invocat” ("O abismo chama outro abismo"), Salmo de David, 1015?-975? a.C.
Foi hoje publicado no "Jornal I" uma reportagem em que é estabelecida uma comparação entre o ensino (e respectivos exames) no tempo do Estado Novo e na actualidade.
De interesse me parecem os testemunhos de algumas figuras públicas sobre o ensino anterior a 25 de Abril, de que destaco três testemunhos: os de Fernando Negrão (ex-ministro), de Germano Marques da Silva (penalista) e de Simone de Oliveira (cantora). Para que não possa ser levantada a suspeição de a “direita” ter uma opinião favorável ao ensino de antigamente e desfavorável ao ensino de hoje, detenho-me, em primeira mão, no depoimento de Simone de Oliveira, tida como sendo de "esquerda".
Criticando um ensino baseado na memorização, diz Simone de Oliveira não perceber porque "tinha de saber todos os afluentes do Tua”, acrescentando que antigamente “a forma de ensino era mais rígida”, mas hoje “há menos respeito quer dos alunos com os professores, quer o contrário”. E para não deixar lugar a dúvidas sobre a sua opinião não se escusa a acrescentar, em jeito de certeza e desabafo: “Em termos de cultura geral sabíamos mais [do que os estudantes de hoje]. Qualquer dia, ninguém sabe quem foi o Luís de Camões, desabafa”. Seja-me permitido que eu acrescente, numa perspectiva da era “das máquinas pensantes”, que, se o professor perguntar quem foi o nosso épico ou mesmo o primeiro rei de Portugal, apenas terá que esperar um pouco para que o aluno dê a resposta certa carregando nuns botões por mais cábula que ele seja.
Mas isso não se passará só com alunos do básico ou do secundário. A ignorância é bem mais profunda, atingindo outros estratos de ensino. Lembro, a propósito, que a antiga secretária de Estado da Educação do Partido Socialista, de seu nome Ana Benavente (a que se seguiram, na mesma linha política, partidária e educativa, uma ministra antipática até dizer chega e outra de sorriso fácil e simpático), se fez vestal de um altar assente no dogma de que a melhoria do ensino estaria na razão inversa da exigência formativa dos respectivos professores substituindo, em alguns casos, a exigência da formação universitária por uma formação politécnica. Como escrevi, na altura, num artigo de opinião: “Ponham-se no caixote de lixo todas as reformas educativas para daqui se partir para a formulação de uma política educativa nacional que retire Portugal da cauda da União Europeia. No Portugal de hoje, para além de cabeças bem recheadas (que são a excepção), torna-se imperioso corações abertos a valores morais ancestrais da sociedade portuguesa e a princípios humanísticos à escala planetária. Nada adianta o unguento destinado ao tratamento de uma simples borbulha espalhado numa carne em adiantado estado de gangrena!" ("Diário de Coimbra", 20/02/2003).
De Fernando Negrão, respigo [referindo-se ao exame da 4.ª classe, logo seguido do exame de admissão ao liceu]: “Era muito exigente do ponto de vista psicológico e emocional. Foram momentos de grande tensão mas também de grande aprendizagem. Hoje a escola é muito virada para a estatística e menos centrado no aluno”.
Por seu turno, Germano Marques da Silva diz, entre outras coisas: “No liceu o estudante era considerado um trabalhador”; “hoje os alunos não têm ginástica intelectual nem memorização”; “arrepia-me ver universitários a dar erros de ortografia que não dava na 4.ª classe”.
Não faço comentários a estes três depoimentos. Eles falam por si numa altura em que há um sistema de ensino que é tanto para jovens dotados de “massa cinzenta” como para mandriões com cabeças sem nada lá dentro. Desta forma, sabendo ou não, todos os alunos passam de ano num sistema em que a massificação significa mediocratização, um sistema sem exames ou com exames que são uma fraude para os alunos aplicados ao mesmo tempo que são quebra-cabeças para os cábulas que nada sabem. Uma passagem de olhos pelos enunciados dos exames de admissão aos liceus no ano de 1943 (que constam da referida reportagem do “Jornal I”) demonstra que eram bem mais difíceis que os actuais exames do 9.º ano.
Gastar dinheiro e fazer perder tempo a professores e alunos com este simulacro de exames em época de crise, numa época que obriga a desumanos programas de austeridade das classes mais desfavorecidas, é um atentado a uma sociedade justa e democrática. Com as "Novas Oportunidades" e as "Provas de Acesso ao Ensino Superior para maiores de 23 anos" é tudo um questão de (re)abrir umas tantas desacreditadas universidades privadas de papel pardo e lápis de bico rombo para Portugal apresentar uma percentagem de diplomas com a chancela de superiores mas com a qualidade de inferiores que deixarão boquiabertos os países honestos na formação da sua juventude. É a esperteza nacional no seu melhor!
26 comentários:
As coisas não são asim tão lineares, especialmente pelo qie respeita ao ensino superior. JCN
Não há volta a dar-lhe, continuamos a não perceber que o modelo social em que vivíamos – acabou, a escola desse modelo social – estoirou, ainda não perceberam!
O que é que é preciso acontecer mais nas vossas escolas para que os senhores professores olhem por cima do muro da escola e contemplem uma sociedade colapsada.
Apelos á velha ordem moral, não servem para nada. Não procurem as causas na escola, ou no método de ensino, isso é apenas o efeito.
Caro Professor (comentário 22:20):
Sei bem que as coisas (atrever-me-ia a dizer, todas as coisas) não são, quase nunca, lineares. Todas as moedas têm verso e anverso.
Por exemplo, quando falo no ensino universitário privado não meto tudo no mesmo saco. Sei, sabemos todos, haver escolas que pedem meças ao ensino superior estatal.
Mas sucede ter havido um boom de frequência no ensino superior oficial a que o estado não teve capacidade de resposta, dando azo a que aparecessem escolas privadas que transformaram este ensino num verdadeiro e rendível negócio em declarada queda de rendimentos. Que fazer?
Eureka!,facilitar a entrada no ensino superior com as Novas Oportunidades (que eu tempos chamei de Novos Oportunismos) e Provas de Acesso para maiores de 23 anos.
Julgo que tempos virão em que as universidades privadas se tornarão focos de excelência como o acontecido nos países anglo-saxónicos, por exemplo. Para isso, torna-se necessário que a sociedade portuguesa tome consciência do autêntico logro em que se transformou um ensino "pour épater le bourgeois"...em que estamos a criar "alunos que não sabem ler, nem escrever", no desassombrado testemunho da Drª Maria do Carmo Vieira, professora do ensino secundário, uma lutadora incansável na defesa da Língua Portuguesa.
Este apenas um pálido retrato ou simples sinopse que um simples comentário consente...
Cordialmente,
Em 1950, a minha mão estudava a antiga 3ª classe, no Alentejo, terra de gente pobre. Os meus avós trabalhavam, conforme o horário oficial para os trabalhadores do campo da época, do nascer do sol ao pôr-do-sol e, por isso, não havia muito tempo para o acompanhamento escolar dos filhotes. Um espanto não terem saído todas elas crianças traumatizadas, adolescentes bandidos e adultos deprimidos.
Mas sigamos.
Pois, no exame final dessa 3ª classe a minha deu um erro de português: escreveu «igreija».
Em conformidade com as boas práticas pedagógicas vigentes, levou um estalo da professora que lhe pôs a cabeça a andar à roda e que, segundo palavras da minha mãe hoje, não doeu tanto como a vergonha de ter dado um erro e de ter levado uma estalada em frente à turma.
Relembro: 1950, Alentejo, 3ª classe.
Ontem, 60 anos depois, em 2010, nos arredores de Lisboa, terra de gente remediada, com o Ministério da Educação a gastar mais dinheiro do nunca na educação e, acreditando nos dados estatísticos do mesmo ministério, com os níveis de sucesso escolar nos seus mais elevados índices, com os papás a trabalhar por lei das 9 às 18, uma professora do 7º ano, na última aula do ano, a de auto-avaliação, colocou a pergunta-chave pela qual todos os que andaram na escola passaram: Que nota achas que mereces e porquê?
Pois, no meio da total desgraça que foram as respostas, no meio da chuva de erros inacreditáveis, erros capazes de fazer chorar uma pessoa que pare para pensar no que eles nos dizem do nosso futuro enquanto país, chuva de erros que são indicador claro da gigantesca incompetência da maioria dos nossos alunos da periferia de Lisboa (e relembremos que aqui vive mais de 30% do país e a subir) no domínio da língua portuguesa (não falemos da matemática… por favor!), pois no meio de tudo isto, saiu a seguinte resposta que, por ser especialmente paradigmática vos deixo aqui: «2 porque os textes não ção bões».
E, repito, não ponho aqui este exemplo por ter sido o único, nem sequer a minoria, nem sequer apenas metade... ponho aqui porque é sombriamente engraçado e paradigmático.
Relembro: 2010, Lisboa, capital, 7º ano.... 1... 2... 3... 4... 5... 6... 7.
Alguém me explica por favor como é possível esperar que os nossos alunos aprendam, seja o que for, se não dominam as ferramentas básicas de acesso à informação, por exemplo a língua em que estudam?
Caro José Gabriel,
Pode explicar o seu conceito?
Caro José Gabriel:
Plenamente de acordo. A Escola é o reflexo da sociedade que a criou. Mas há que começar por algum lado e tentar uma escola mais exigente para que a sociedade sinta os reflexos benéficos dessa exigência.
Haver uma escola para ricos (exigente) e uma escola para pobres ou ricos oportunistas (fácil) não resolve o problema. Cada vez mais o agrava.A escola deve estar preparada para dar resposta aqueles que não pactuam com vigarices de qualquer espécie. A vida profissional saberá fazer a devida triagem entre bons e maus profissionais se (o eterno se) essa triagem não for feita pelo estado para quem tanto vale um diploma sério como um outro trafulha.
Este o verdadeiro drama da sociedade portuguesa que é incapaz de separar o trigo do joio dando valor ao esforço e penalizando a mandriice.
leia-se a entrevista, «Estamos a criar 'alunos que não sabem ler, nem escrever'», da Prof. Maria do Carmo Vieira, in: http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1071906.html
Onde posso encontrar uma versão electrónica dos exames de 1943?
Portugal comunidade em colapso.
Portugal é uma comunidade com 10 milhões de indivíduos.
40% São pobres. Depois das transferências sociais 18% continuam pobres.
20% Dos pobres trabalham.
10,6 % Da população trabalhadora está desempregada.
O desnível entre o rendimento dos ricos e o rendimento dos pobres e a maior da União Europeia.
A nossa persistência intergeracional, ou seja a capacidade que os indivíduos tem de se afastarem dos níveis de rendimento da família e das mais baixas da OCDE, sintoma de uma comunidade organizada em castas.
Perante uma crise do modelo global de sociedade o que é que nós fazemos, reduzimos despesas com quem tem menos e proporcionamos mais receitas para os que têm mais.
Eu digo nós, porque todos mesmo os que não são militantes partidários são coniventes com o que os partidos fazem, na assembleia da Republica e no Governo, não há inocentes meus caros. Cuidámos das nossas carreiras, da educação dos nossos filhos e dos amigos mais próximos e esquecemo-nos de cuidar da sociedade, agora temos mandar subir o muro da vivenda por causa dos assaltos.
A escola e a educação é um detalhe no meio de tudo isto, só é uma coisa importante para os seus membros – como é natural.
Sigam o exemplo do Guilherme Valente e mandem os vossos alunos apedrejarem o ministério, mas cuidado com as pedras.
Caro Professor Doutor Rui Baptista
Falar de educação é sempre difícil para quem está metido dentro dela...
Concordo em absoluto com todas as opiniões dos entrevistados, sejam de esquerda ou de direita.
Julgo que olhar o problema sob uma visão partidária não faz sentido.
Todas as medidas educativas que têm vindo a ser decretadas têm só dois objectivos:
a) estatístico, o número em abstracto;
b) contenção de despesas.
No ensino é preciso:
- Memorizar e por isso, treinar a memória;
- Ter um espírito crítico, para isso é preciso conhecer;
- Saber e conhecer para construir o pensamento lógico.
Para tal é preciso:
- Trabalhar (sem olhar à pressão dos números, uma escola é bem ou mal avaliada consoante o número de retenções no fim do ano);
- As faltas deviam ter peso significativo;
- A escolaridade obrigatória é um bluff e em nada valoriza quem é obrigado a aprender contrariado. O nível de ensino, neste caso, desce para ir ao encontro destes alunos o que é um erro crasso.
Leia se puder esta petição:
http://www.peticaopublica.com/?pi=P2010N2387
Outras questões pertinentes:
- Formação dos professores só é louvável se tiver uma forte componente científica e não meramente pedagógica.
- Sub-avaliação dos professores que têm mais estudos.
Há muito para dizer mas, não quero ocupar mais tempo nem estender este comentário que já está longo. Aliás, peço desculpa pela extensão do mesmo.
Prezada Ana:
O seu a seu dono: sou apenas licenciado com uma larga vivência na docência, desde os ensinos técnico, liceal, médio ao universitário (Universidade de Coimbra e Universidade do Porto).
Muito apreciei o seu comentário não o tendo, de forma alguma, por extenso. As verdades, por mais duras que sejam, enquadram-se no comentário de António Sérgio a Malheiro Dias:"A indignação que se deve ter com os excessos de tirania, a ferocidade na omnipotência, a maldade desrazoável e a teimosia na estupidez".
A Ana mais não fez que denunciar situações que devem ser criticadas por merecerem a nossa indignação. Se todos os professores fossem da sua estirpe o ensino não teria chegado ao cúmulo de Isabel Alçada ter afirmado hoje na Assembleia da República: "O salto do 8.º para 10.º ano é transitório".
A que regime transitório se referia a Ministra da Educação? Até que todos os filhos dos validos (sem acento) tenham usufruído desta medida que mais não é que o descrédito da democracia em que não deve haver filhos e enteados?
Caro Rui Baptista
Precisamos de um 28 de Maio.
Já tudo terá sido explicado por Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron na obra que fez o seu tempo e cujo título parece esclarecer, também, tudo o que à volta deste tema se tem comentado, “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino” (Paris: Minuit, 1970), depois de “Les héritiers. Les étudiantes et la culture” ( Paris: Minuit, 1964).
A desigualdade mantém-se porque cada classe tem o seu código de conduta social (aproximação, distanciamento) bem caracterizado, além dos capitais sociais, económicos e culturais bem diferenciados, e não porque a inteligência seja exclusiva das classes privilegiadas.
O primeiro trabalho incide sobre a acção desenvolvida pela pedagogia nas escolas, porque a considera a trave mestra da violência simbólica, e simbólica se se considerar a dissimulação que lhe subjaz por esconder as relações de força do poder, primeiro, do governo e depois da pedagogia que o mesmo governo inculca nos professores e interioriza nos alunos a cultura das classes dominantes do poder.
Para se entender de algum modo a pedagogia normatizada da classe dominante do poder, toda ela votada em princípio para a excelência da escola, verificamos a inversão de valores arbitrários, vocacionados para a sua destruição singularizada pela formatação do primeiro ministro, no qual se funda a forma-matriz que orientará a escola do futuro.
O mesmo é dizer que, assim como Salazar teve como conselheiro um padre que aconselhava a fechar as escolas para um domínio perfeito sobre a ignorância, assim Sócrates tem como conselheiro a sua formação cultural para ir reduzindo as escolas e minguando as pedagogias, para que o conhecimento vá minguando e dê lugar à ignorância crescente.
As acções e omissões a que os professores têm assistido, têm o objectivo declarado de acabar também com o professorado, quer aumentando a classe quer eliminando escolas, transformando-os em marionetas e impulsionando-lhes o conflito. As relações do mundo do trabalho ficam assim estereotipadas e retratadas nas escolas, e dá-se aos Sindicatos a força paralela, sem que os mesmos se apercebam que também contribuem para os objectivos do governo, quando defendem e igualam cursos.
O poder vigente sabe o que está a fazer, e mal, mas escolhe os meios através dos dissimulados critérios escolares, avaliações forçadas e das pretensas melhorias do ensino. E o povo assiste incrédulo e espantado ao assalto.
Relativamente à segunda obra, « Les Héritiers. Les étudiants et la culture », os autores criticaram a ideia generalizada de que “estudantes e o meio estudantil seriam uma classe social à parte na sociedade. E seriam responsáveis, em razão de sua juventude e de sua disposição para a acção, pela liderança da transformação social.”
A resposta a este desafio de estímulo involuntário da juventude vimo-la em Maio de 1968, em Paris. Os autores provocaram a maior mobilização de revolta dos estudantes, dos intelectuais e dos franceses.
E tudo mudou.
Precisamos de um 28 de Maio.
Lembre-se, caro Dr. João Boaventura, que aqueles que em Portugal quiseram fazer algo parecido com o "Maio de 68"... estão hoje no poder. Quem os desaloja?! JCN
Caro Nuno Silva:
Grato pelo seu comentário, com o exemplo de sua Mãe, que veio consolidar o mau exemplo do ensino depois de 25 de Abril em que não houve a preocupação em aproveitar o que de bom havia e expurgar o que de mau existia.
A ordem era destruir para que da terra queimada tudo quanto brotasse, mesmo monstruosidades, fosse tido como um milagre de "geração espontânea"...em que os resultados de uma escola de vergonhoso facilitismo estão bem à vista!
Caro JCN:
E muitos dos que cantavam hossanas ao Estado Novo fizeram uma inversão de marcha de muito proveito político e económico.
Caros participantes deste blog, façam-me um favor: se não vos der muito trabalho, enviem o endereço do blog à Sr.ª Ministra da Educação. É que a Sr.ª, e creio que o Ministério que coordena, talvez tenham necessidade de saber alguma coisinha sobre a educação e o estado em que a têm vindo a colocar, os condóminos do referido Misitério, ao longo de muitos anos. Até parece que a cada um dos seus ocupantes cabe a tarefa de fazer sempre algo de mau, de preferência pior que o antecessor. Assim, sempre lhes era oferecido um pequeno momento de confronto com a realidade e, quem sabe, desse impacto nascesse alguma ideia proveitosa para o ensino no nosso país. É um favor que lhes peço! Os meus agradecimentos,
Do lado de cá
De tudo houve um pouco infelizmente, caro Dr. Rui Baptista, e na confluência de uns e outros resltou a sociedade espúria... que temos hoje. De onde virá a salvação? JCN
Caro Professor:
Em resposta à sua pergunta - "de onde virá a salvação?" -, do actual Ministério da Educação não. Decididamente, não.
Segundo a voz popular,"cesteiro que faz um cesto faz um cento desde que tenha verga e tempo". "Mutatis mutandi", Ministério da Educação que faz uma asneira...
E desde quando, Dr. Ruy Baptista, é que o Ministério da Educação (ou Instrução) deixou de fazer "asneiras"? Por que seria que Salazar nunca assumiu essa pasta? Não seria por constatar que era tarefa superior às suas forças e que, de antemão, estaria condenado ao fracasso? Deixou esse ónus... para a actual e sorridente ministra... no intervalo de duas novelas infantis. Tenhamos fé! JCN
O meu comentário parece ter fugido para a verdade, mas não é, como se subentende no comentário de JCN compaginado por Rui Baptista.
Involuntariamente saiu-me o 28 de Maio quando deveria ter escrito Maio de 68, em Paris, como aliás está implícito no penúltimo parágrafo.
O 28 de Maio foi um golpe militar.
O Maio de 1968 foi um golpe cultural, provocado pela publicação de "Les héritiers" de Bourdieu e Passeron, e cujo trabalho sociológico procurou demonstrar que a universidade alimenta a desigualdade, porque identifica a cultura escolar com a cultura da elite, e só permite privilegiar a segunda portadora de capital social, económico e cultural positivos, já que a natureza da primeira se insere no âmbito de capital social, económico e cultural negativos.
Portanto, a igualdade pretendida nas universidades é meramente formal, porque nada altera o capital herdado por cada um, mantendo-se os privilégios da cultura de elite, em detrimento dos que apenas possuem cultura escolar.
Esta chamada de atenção à realidade do ensino é que provocou o Maio de 1968, mais conhecido por Maio de 68,em Paris.
Portanto corrijo (embora um 28 de Maio talvez limpasse a lama e a sujidade deste País):
Precisamos de um Maio de 68
A propósito do Maio de 68 podem ler-se alguns considerandos nesta Prova Escrita de Francês, do 12.º ano, apresentada nos exames de 2006.
Caro Anónimo (dia 16; 14:21):
Não me esqueci do seu pedido sobre a versão electrónica dos exames de 1943. Até agora, debalde!
Mas vou continuar a tentar: a minha fonte de informação foi um exemplar do "Jornal I".
Cumprimentos cordiais.
Julgo que a versão electrónica pedida é esta:http://www.ionline.pt/adjuntos/102/documentos/000/178/0000178745.pdf
Senhores professores-pelos vistos são-no todos ou a grande maioria dos que aqui blogam-já repararam que o Ministério da Educação sempre esteve entregue a... professores e aos sindicatos e aos que tentam ainda criar uma Ordem? Veja-se o que têm sido as grandes manifestações de professores e os resultados que têm conseguido,o que prova que, mesmo com razão não deixam de ter força. Ora se a têm tido para salvaguardar os seus direitos, por que não aproveitá-la para colocar a educação no bom caminho? Eu propunha que se pusesse o professor Medina Carreira em Ministro da Educação ou outros que defendem posições semelhantes e aguardemos pelo desfecho...
Em Portugal nunca nada está bem nem há-de estar - "come-se" por ter cão e por não ter. Se o tempo que se gasta a "retorizar" fosse empregue a trabalhar com a mesma veemência que aqui se critica talvez estivessemos, sem dúvida, bem melhores, enquanto sociedade, economia e cultura. Mas somos o que somos...
José Figueiredo
Caro José Figueiredo:
Obrigado pelo seu comentário,e pela forma correcta, embora discordante, como expressa a sua opinião. Todos somos poucos para manifestarmos a nossa discordância ou concordância com o rumo que o sistema educativo português tem seguido nestes últimos decénios.
Não me escusarei em defender a posição por mim tomada nesta temática porque, como escreve, "somos o que somos". Julgo não estar o José Figueiredo à espera que eu fosse uma excepção, não sendo o que sou.
Defendi (defendo e defenderei) a criação de uma Ordem dos Professores, embora sabendo da sua desvalorização na hora que passa em que se criam ordens profissionais, a eito e sem jeito, como se criaram cursos superiores que não valem um chavo, na previsão de Manuel Laranjeira, “O Norte”, 1908: ”…num país, onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e de escrúpulos - o diagnóstico impõe-se ‘per se’”.
Se reparar, para Manuel Laranjeira, "o diagnóstico impõe-se 'per se'". DEsta forma, compete ao professor Medina Carreira fazer esse diagnóstico, e ao Ministério da Educação ministrar a terapia. Pôr Medina Carreira a dar essa terapia é como passar um atestato de completa incompetência ao actual ministério da Educação a quem incumbe essa função. Pelo que deduzi do seu comentário não é esse o diagnóstico que faz dessa tutela...Ou será?
O problema do ensino e da escola em Portugal (certamente nos outros países será semelhante ou talvez não) é que há mais preocupação com os profissionais e os restantes sectores à sua volta, em manter os direitos de todos e de cada um, e menos a de responder aos verdadeiros interesses do país, da cultura e da própria economia, sim. Trabalho há 25 anos no sistema, por opção, mas não sou professor... e na escola parece que apenas estes contam, até se dizendo que as reformas têm de ser feitas com eles!... Tenho assistido ao longo destes anos a profundas "jogadas" de interesses privados à custa da propagação do bem público... veja-se só o que agora não terá acontecido entre a tutela e os parceiros do acto negocial para que os mega agrupamentos estejam a passar sob o silêncio das vuvuzelas dos sindicatos... interessante, já pensaram? Onde é que estão as 200 mil vozes de há uns meses atrás? Ainda há dias num Conselho Pedagógico alguém com intervenção activa (ista!) sindical colocava a questão se valeria a pena fazer alguma manif contra o mega agrupamento que se está a construir localmente.
Continuo a afirmar que se quizessemos verdadeiramente inverter o estado da situação da escola deveríamos utilizar a força que outrora foi utilizada para se ter alcançado o que certamente agora impede os profissionais da educação de se continuarem a manifestar.
Quanto à tutela, enquanto ela continuar a ser dominada por maus professores como sempre foi - daqueles que nunca gostaram de dar aulas no terreno e assim que puderam fugiram para esses lugares, jamais teremos hipótese de melhorar. O Dr. Alexandre Ventura conheci-o como secretário dum Conselho Directivo numa das escolas de Aveiro. A educação tem de estar ao serviço do público que serve - os alunos, as famílias e as comunidades e o país. Enquanto não nos convencermos disto não existirão reformas sérias mas tão só respostas pontuais condicionadas aos interesses corporativistas dos velhos tempos. E Portugal não sairá da cepa torta, ficando entre- gue cada vez mais aos velhos e aos turistas da 3ª idade.
josé figueiredo
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