domingo, 6 de junho de 2010

Almada Negreiros e a consciência nacional

“Uma nação que não valoriza convenientemente a inteligência está condenada.”
(W.S. Gilbert, 1836-1911).
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Bem a propósito, um comentário de Vani, ao desassombrado post de Helena Damião, “O triunfo do eduquês – 3”, traz à memória “a conversão de cursos pré-Bolonha em cursos de Bolonha”.

Fui daqueles que se bateram até à exaustão, perante a passividade de muitos e o silêncio de quase todos, contra a aberração do grau de licenciado português pós-Bolonha em substituição (ou, pior do que isso, em péssima tradução) da palavra inglesa bachelor. Inúmeros artigos em jornais e outro tantos post's meus aqui publicados o certificam.

Acrescenta ainda Vani que o verdadeiro mercado de trabalho se encarregará de fazer a devida depuração entre a boa e a má moeda. Certo! Mas se unicamente essa referência se reportar a empregos no sector privado, porque o mesmo não sucede em concursos estatais para a docência.

Actualmente, em concursos para a docência de escolas oficiais do 2.º ciclo do básico, concorrem licenciados universitários a.B, mestres saídos da universidade d.B. e das escolas superiores de educação. Em suma, uma mistura deveras explosivo em que o critério de escolha é a nota do diploma e anos de serviço anterior, como se o aparecimento dos primeiros cabelos brancos fossem sinal de sabedoria e não, como sucede em muitos casos, de velhice mais ou menos precoce. “Mutatis mutandi”, trata-se de um verdadeiro pandemónio em que a medida da passagem, em saltos de canguru, de alunos do 8.º ano do terceiro ciclo do básico para o 10.º ano do secundário é mais uma árvore de artimanhas que esconde uma floresta de injustiças tanto ou mais graves.

Repare-se que no caso dos professores do 1.º ciclo do ensino básico o que inicialmente estava determinado como habilitação era uma licenciatura d.B. Logo a acção sindical se fez sentir ao exigir um mestrado d.B. porque, como escreveu Eugénio Lisboa, “para tudo isto os sindicatos têm dado uma eficaz mãozinha, não raro intervindo, com desenvoltura, em áreas que não são, nem da sua vocação nem da sua competência” (“JL”, n.º 964, de 12 a 25. Set.2007).

Ou seja, estamos perante uma situação em que o Ministério da Educação faz uns tantos disparates por conta própria e outros sob pressão sindical em que os resultados têm sido desastrosos, ou mesmo patéticos, em termos de rendimento escolar, mas verdadeiramente “honrosos” em termos estatísticos para inglês ver e satisfação dos patronos de um princípio que tem feito, nas últimas décadas, carreira neste país: quanto melhor pior.

Ora um dos maiores méritos do comentário de Vani está precisamente em pôr o dedo na ferida: o facilitismo com que se formam docentes e discentes misturando tudo num mesmo saco vazio de responsabilidades para que o Ministério da Educação (com esta e anteriores tutelas) tire coelhos para espanto de papalvos e gáudio próprio! Mas chegará o tempo em que a voz de Almeida Negreiros despertará a consciência nacional: “Não tenho culpa de ter nascido em Portugal, e exijo uma pátria que me mereça”!

Notas:
1. a.B (antes de Bolonha): d.B (depois de Bolonha).
2. Na imagem, retrato de Almeida Negreiros.

10 comentários:

Ana disse...

Eh lá! É bom saber que não estamos sozinhos em certas e determinadas opiniões :). Concordo que em termos estatais ou até públicos não se vejam diferenças entre os méritos, mas continuo a ter fé/esperança que uma vez em que se entre em acção, o trigo se destaque do joio... e, faço questão de indicar no meu currículo que os meus cursos são pré-bolonha. Mas, neste aspecto serei algo privilegiada, pois no mercado em que me integro o currículo e a competência ainda falam por si...pelo menos assim tem sido com a maioria das equipas que integrei até agora (falo da mal afamada educação e formação profissional...).

E o que dizer do facto de que quem tira um mestrado pré-bolonha, independentemente da nota final (que é dada em Bom ou Muito Bom), apenas vê um valor adicionado à média da licenciatura (não interessa se teve Bom ou Muito Bom...) e nos casos pós-bolonha é feita a média de licenciatura e a de mestrado e assim se apresenta a média final?... Onde está a justiça nisto?...

Em breve teremos um mercado repleto de desempregados doutorados...

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui Baptista,

Quando temos políticos incompetentes e uma população medíocre, a mistura é explosiva...

Anónimo disse...

Caro Fartinho da Silva,

Estou quase sempre de acordo com as suas opiniões, mas discordei da que postou no "Eduquês 3". As razões do mesmo estão neste artigo.

João Moreira

Anónimo disse...

Cara "Vani",

Concordo, em absoluto, com o que postou. Infelizmente, nem todos podem sentir-se tão seguros com a distinção ente a.B e d.B. No final, o saco é o mesmo e a "bola preta" sai, por acaso, sempre ao mesmo...

João Moreira

Ana disse...

João Moreira, olá! Concordo, a separaçao aB e dB não é assim tão segura. Apenas quis referir que no meu meio têm sido privilegiados os cursos aB. No entanto, também há injustiças. Por exemplo, um bacharel em Eng. Civil (aB) não tem habilitação para a docência de nivel secundário. Mas, um licenciado dB (que na prática é um bacharel...), já tem. E o primeiro é preterido ao segundo. Justiça?...Igualdade de oportunidades?...

Aproveito para "reclamar" sobre o seguinte: o post não é da minha autoria :) (como o João Moreira disse "com o que postou", fiquei na dúvida), apenas se pegou num comentário anterior que fiz num post anterior, nada mais. :)

Fartinho da Silva disse...

Caro João Moreira,

Tem muita razão neste seu reparo. Escrevi o inverso daquilo que estava a pensar. Obrigado por me ter chamado a atenção, senão nem reparava.

Rui Baptista disse...

Para clarificar os conceitos de post e comentário:

1.Fui eu autor do post “Almada Negreiros e a consciência nacional”

2. Teve ele origem um comentário de Vani a um post anterior de Helena Damião, intitulado “O triunfo do eduquês – 3”.

Ou seja, “o seu a seu dono” para o bem ou para o mal, assumindo eu, em qualquer dos casos, a paternidade da minha escrita.

Unicamente a título de pedido de esclarecimento a Vani no que respeita a esta parte do seu comentário: “ Por exemplo, um bacharel em Eng. Civil (aB) não tem habilitação para a docência de nivel secundário. Mas, um licenciado dB (que na prática é um bacharel...), já tem. E o primeiro é preterido ao segundo”.

Devido à profusão de graus académicos universitários e politécnicos aB e dB: O licenciado dB cujo exemplo evoca obteve a sua licenciatura no ensino universitário ou no ensino politécnico?

Anónimo disse...

Vani,

Como a entendo!!!

João Moreira

Anónimo disse...

Caro Rui Baptista,

a.B. - Licenciados eram os engenheiros com Curso tirado nas Faculdades (5 anos).
- Bachareis (ditos, engenheiros Técnicos) os que obtinham Curso tirado nos Institutos de Engenharia.

João Moreira

Rui Baptista disse...

Caro João Moreira:

Julgo que não foi essa a interpretação dada por Vani. Se assim fosse, Vani, julgo eu, não encontraria matéria para a denúncia de uma qualquer injustiça. Mas esperemos pelo esclarecimento da Vani.

Cordialmente.

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