Com o apoio da Fundação BNP Paribas e do Ministério da Cultura do Brasil foi publicado o livro "De Vandelli para Lineu. De Lineu para Vandelli: correspondência entre naturalistas", que, como o título indica reúne o texto de cartas trocadas entre o grande naturalista sueco Carl von Lineu (1707-1778) (na imagem) e o também naturalista italiano Domenico Vandeli (1735-1816), que foi professor da Universidade de Coimbra:
Logo as duas primeiras cartas são deliciosas pela forma com que os dois sábios se tratavam. Estas formas barrocas, que infelizmente caíram em desuso, são, de facto, muito bonitas!
"De Lineu para Vandelli
Uppsala, 3 de Fevereiro de 1759
Carlos Lineu saúda afetuosamente o digníssimo e celebérrimo varão, Doutor em matéria divina, Domenico Vandelli, filósofo e médico agudíssimo
Nestes dias, ó celebérrimo varão, não esperando nada semelhante, debrucei-me sobre a tua obra verdadeiramente divina, Dissertationes tres. Quando examinei as estampas coloquei de lado todas as obrigações, e não pude cessar de ler antes de ter devorado todo o livro, do começo ao fim.
Estupefacto, vi a ti como uma fênix em meio à tua gente: insatisfeito com a casca exterior da natureza, não te deténs no seu vestíbulo, mas adentras, penetras os segredos divinos e trazes as claras os que estavam encerrados no sacro interior da natureza.
(...) Deus permita que vivas com corpo são e com a álacre alma voltada ao engradecimento e ao ornamento da arte. Saúdo-te e segue estimando-me.
De Vandelli para Lineu
Bolonha, idos de Março de 1759
Domenico Vandelli saúda afetuosamente o mais alto e celebérrimo varão, Doutor em matéria divina, Cavaleiro Carlos Lineu:
Recebi, nas Calendas de Março, as cartas que me mandaste na terceira nonas de Fevereiro, e elas foram para mim motivo de grande alegria. Com efeito, como eu não me regozijaria, não me alegraria veementemente por Lineu, o maior dentre os homens doutos de todos os tempos, ter escrito a mim? Por causa dele a história das coisas naturais e os estudos botânicos refloresceram e parecem ter alcançado seu mais alto ponto. 'E a ele a Itália reverencia,bem como aos outros povos aos quais chegou algum culto das letras.' Por isso te devo e ofereço meus agradecimentos.
(...) Tem vida longa e saúde; conserva as musas e as letras todas que possuis e também a diligência pelas investigações naturais e botânicas; faze de modo que elas rapidamente se difundam, para o bem de toda a comunidade literária. Quanto a mim, quero que saibas que, nestes tempos, não há uma única pessoa que eu considere tão caro. Conservo-te nos olhos. Tenho apreço por ti, e mais, estimo-te. Saúdo-te!"
1 comentário:
Uma ligeira observação quanto ao nome de Lineu:
Até à sua nobilitação, em 1757, o seu nome era Carl (em latim: Carolus) Linnaeus (geralmente aportuguesado para Lineu); a partir da nobilitação, passou a chamar-se Carl von Linné.
Alberto Sousa
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