terça-feira, 31 de março de 2009
OS JUDEUS NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Meu texto sobre a exposição "Coimbra Judaica" para ser publicado nas actas do colóquio com o mesmo título (na figura o médico Jacob de Castro Sarmento):
Alguns dos melhores portugueses foram judeus. Isso foi assim em geral em todo o país e também o foi na cidade de Coimbra e na Universidade de Coimbra, que, no seu melhor, têm sido sempre parte do melhor do país. Infelizmente, muitos deles foram, ao longo dos séculos, vítimas de intolerância religiosa. Se hoje não somos um país melhor, a responsabilidade vai, em larga medida, para a perseguição que, a partir do reinado de D. Manuel I, foi movida aos judeus. De facto, alguns dos que conseguiram fugir à sanha inquisitória guindaram-se a posições de topo nos países que os albergaram, melhorando esses países. Também aqui a sua fama alcançou justa repercussão.
As obras dos judeus portugueses que foram escolhidas para a exposição “Coimbra Judaica” realizada na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra abrangeram os mais variados domínios do saber humano, do direito à filosofia, da literatura à economia. Foi também na ciência que alguns judeus se distinguiram entre nós, sendo essa distinção tanto mais de assinalar quanto eles chegaram ao bom porto das suas descobertas e invenções movendo-se em águas revoltas e enfrentando ventos adversos. A metáfora marítima não deixa de ser apropriada uma vez que os dois expoentes máximos na ciência portuguesa no tempo dos Descobrimentos, que figuram aliás no areópago mundial da ciência, o matemático Pedro Nunes e o botânico Garcia da Orta, tinham ascendência judaica. Os dois estudaram medicina em universidades espanholas e os dois foram professores na Universidade de Lisboa que haveria de ser transferida para Coimbra (Nunes deu aulas em Coimbra e Orta só não as deu porque, antes dessa transferência, embarcou na carreira da Índia). Se o primeiro não foi em vida perseguido talvez por haver dúvidas sobre a sua genealogia (foram-no os seus netos), o segundo ficou para a história como um símbolo da perseguição já que, em 1580, quando Portugal perdia a sua independência, os seus ossos foram exumados para serem sujeitos ao fogo do Tribunal do Santo Ofício de Goa (além disso, uma sua irmã foi queimada viva). É lícito pensar se não teria sido ainda maior a grandeza lusa no tempo da expansão marítima se ela não tivesse sido ensombrada pelas acusações aos judeus, derivadas do preconceito e da cobiça.
Bastante mais tarde, nos tempos pombalinos, outros judeus ou cristãos-novos conheceram as agruras do exílio distinguindo-se na ciência. Bastará dar como exemplos os nomes de dois médicos que passaram pela Universidade de Coimbra: Jacob de Castro Sarmento, que, depois de terminado o seu curso em Coimbra e de uma curta prática clínica, se viu forçado ao exílio em Inglaterra, onde foi membro do Royal College of the Physicians e da Royal Society, e António Ribeiro Sanches que, após estudar Direito em Coimbra, cursou Medicina em Salamanca e se estabeleceu, em primeiro lugar, nos Países Baixos e, depois, na Rússia, tendo prestado serviços na corte dos czares, para terminar a sua carreira em França. Castro Sarmento conheceu Newton, tendo sido o primeiro a traduzir alguns escritos do grande físico inglês para português; por sua vez, Ribeiro Sanches, foi o único português a colaborar na Enciclopédia Metódica coordenada por Diderot e d'Alembert, assinando um artigo sobre doenças venéreas. Nessa época em que as luzes triunfavam na Europa, as chamas da Inquisição ainda ardiam no reino lusitano. Os dois, embora à distância, desempenharam um papel de relevo na Reforma da Universidade de Coimbra que o Marquês de Pombal ordenou em 1772. Podemos pensar que o ressurgimento nacional das ciências nessa época teria sido ainda maior se eles pudessem ter cá permanecido...
A Universidade de Coimbra, através da sua Biblioteca Geral, teve o maior gosto em se associar à Câmara Municipal de Coimbra na organização da exposição “Coimbra Judaica”, na histórica Sala de São Pedro, uma exposição que recordou e celebrou, através das suas obras, uma mão cheia de nomes de judeus portugueses famosos em diversas áreas da ciência: Pedro Nunes, Garcia da Orta, Jacob de Castro Sarmento e António Ribeiro Sanches, mas também Abraão Zacuto, Francisco Sanches, Cristóvão da Costa, Amato Lusitano e outros. E famosos também noutras áreas, como Isaac Abravanel, Leão Hebreu, Uriel da Costa, António José da Silva, etc. Ao Director Adjunto da Biblioteca, António Eugénio Maia do Amaral, são devidos rasgados agradecimentos pelo cuidado posto na selecção dos livros e na respectiva exposição. Não podemos reparar os erros da história, mas podemos reparar neles, para não os olvidar. A evocação, através das suas obras, dos melhores de nós só nos poderá ajudar a tornar melhores.
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4 comentários:
Poucos seremos os portugueses que nao temos, longe ou perto alguma ascendencia judia. E eu nao serei excepcao, pois o meu nome denuncia-me.
Tendo sido perseguidos tambem em Portugal, vergonha para D. Joao III e para o Marques de Pombal, como e possivel que nos (se) tenhamos(tenham) tornado os carrascos e perseguidores de um povo que, que como nenhum outro lhes e proximo, como nos somos proximos das novas ascendencias. Refiro-me naturalmente aos palestinianos, pobre gente...
Penas que nos nossos tempos os Davides nao possam transcender-se!
A grandeza do poderoso esta na sua capacidade de reconhecer os direitos dos mais fracos.
(A falta de acentuacao tem que ver com o teclado...)
:P
vane
O JUDAISMO E CONSIDERADO A PRIMEIRA RELIGIAO MONOTÉISTA A APARECER NA HISTORIA TEM COMO CRENÇA
PRINCIPÁL DE APENAS UM DEUS O CRIADOR DE TUDO.
PARA OS JUDEUS DEUS FEZ UM ACORDO COM OS HEREBREUS FAZENDO COM QUE ELES SE TORNASEM O POVO ESCOLHIDO E PROMENTENDO-LHE A TERRA PROMETIDA
ANDESSA
ATUALMENTE A FE DO DOS JUDAICO É PRATICANDO EM VARIAS REGIOS DO MUNDO POREM NO ESTADO DE USRAEL
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