terça-feira, 24 de março de 2009

VACUIDADES: ELE NÃO É DEUS!

Aqui há tempos comecei aqui uma rubrica contendo vacuidades (segundo os dicionários "ausência de ideias, vazio moral ou espiritual"), que depois não prossegui, não por falta de material, que de facto abunda, mas por falta de tempo, que desesperadamente escasseia. É agora tempo de prosseguir.

E o ensejo é oferecido de bandeja por Miguel Pignatelli Queiroz, membro do Partido Popular Monárquico (PPM) e deputado da nação eleito nas listas do Partido Social Democrata (PSD), que no jornal "As Beiras" de 24 de Março esclarece quem pudesse ter dúvidas sobre o assunto que ele... não é Deus. O inesperado esclarecimento aparece quando declara o seu voto na Assembleia da República de congratulação pela canonização de D. Nuno Álvares Pereira, misturando essa declaração com a do seu voto de pesar pelo falecimento de Nino Vieira:
"Beato Nuno de Santa Maria vai, finalmente, ser canonizado. A Assembleia da República votou a a favor de um voto de congratulação. Eu votei a favor. De mini-minorias laicistas (não ler laicas) não reza a história. Há semanas, a Assembleia votou favoravelmente um voto de pesar pelo assassinato do Presidente Vieira, da Guiné. Mas antes eu reagira mal ao ver a mesma Pessoa na Tribuna de Honra do Hemiciclo, o responsável por múltiplas atrocidades e assassínios enquanto Presidente. Como escrevi semanas, atrás,[pontuação sic] não sou juiz nem, muito menos, DEUS [maiúsculas sic]. Não me compete condenar os mortos (nem os vivos)."
Sem querer ser juiz desta prosa, apenas receio que o nome de Deus tenha sido invocado em vão, ao arrepio do que manda o segundo mandamento da Igreja. Também não percebo a relação entre o Beato Nuno e o Presidente Vieira: Será uma relação de semelhança por os dois terem sido combatentes? Ou uma relação de contraste porque um vai ser santo sem ter sido mártir, enquanto o outro foi mártir sem ter sido nenhum santo?

Mas a melhor (ou a pior?) vacuidade em votos de pesar veio precisamente do PPM, há alguns anos. Em Junho de 2004 este partido divulgou um comunicado a propósito da morte em campanha do Professor António Sousa Franco, cabeça de lista do Partido Socialista ao Parlamento Europeu. O texto, com vários subscritores entre os quais o deputado Queiroz, continha preciosidades como estas:
"Não queremos nem devemos dramatizar, nem tão pouco fazer do Professor um mártir, mas a verdade é que o Professor também deveria fazer parte das pessoas que não cuidava da sua saúde. Provavelmente, não media a tensão há muito tempo. A sua morte já estava prevista" (...) "Ao mesmo tempo, estamos certos, esta foi a melhor e a mais eficiente forma do Professor dizer basta desta politiquice e dos politiqueiros que a alimentam".
Para quem não acreditar, a notícia da agência Lusa transcrevendo o comunicado do PPM vem aqui. Convenhamos que, como vacuidade, este último excerto é mesmo difícil de bater por muito que alguém se esforce!

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