Hoje várias pessoas me perguntaram se tinha ouvido a crónica de "Dona Rosete", que passou na rádio, na TSF. Não a ouvi, mas a curiosidade levou-me a lê-a, e não resisto partilhá-la directamente, “sem links”, com os nossos leitores (peço desculpa pela liberdade que tomei ao mudar o título). Obrigada Maria Rueff e equipa pelo bom humor.
"As pessoas, também, quando é para maçar, não deslargam um indivíduo. Estava o engenheiro Sócrates a pensar que mais nada lhe podia acontecer, e lá se puseram a implicar outra vez com o Governo, agora porque o Magalhães, o computador, dá erros de português. E eu pergunto: ó senhores, mas errar não é humano? Então se é humano, isso só prova como o Magalhães é um computador ultra-avançado! A sério – olhando para estes erros que agora foram divulgados, parece-me que o Magalhães está mesmo a um passinho de fazer coisas nunca vistas num computador como... escarrar no chão, por exemplo!“Erros, erros”... Ó senhores, não percebem que o facto do Magalhães falar mal é para o aproximar da petizada, que cada vez fala e escreve pior? Aquilo faz tudo parte de um plano. Se as coisas estivessem bem escritas, como é que a rapaziada percebia o que é que a maquineta queria? O Magalhães é o primeiro computador que fala a língua da juventude, estão a compreender? Por isso é que em vez de “jogaste”, tudo junto, ele diz “jogas”, tracinho, “te”. E em vez de “gostaste”, ele diz “gostas”, tracinho, “te”.
Diz que o Magalhães diz lá, a certa altura, “neste processador, podes escrever a texto que quiseres”. Isto de falar de uma coisa masculina como se fosse feminina – “a texto” – é uma coisa que eu, até agora, só tinha ouvido na boca de uma pessoa: a mulher-a-dias ucraniana dos senhores do terceiro direito, lá do meu prédio. O que mostra como o Magalhães não só fala a língua da juventude, mas também a dos imigrantes que escolheram o nosso país como a terra das oportunidades. E é! Olha, uma coisa em que eles podem trabalhar agora cá, é a fazer correctores ortográficos para o Magalhães! Tenho a sensação que se abriu aí um nicho de emprego, com esta linguagem, vamos chamar-lhe, universal que o nosso Magalhães fala agora.
O computador ainda diz, por exemplo, e a respeito ainda dos textos, que se o petiz que o estiver a usar, estiver a escrever um texto, pode “gravar-lo e continuar-lo mais tarde”. Eu acho que isto não é erro; isto soa-me é a português antigo. O que faz sentido – o computador tem o nome de um navegador dos Descobrimentos e fala como ele!
O Ministério da Educação, perante tanto dedo espetado na direcção dele, lá emitiu um pedido de desculpas. Aliás, eu trouxe-o aqui, posso lê-lo. Diz assim: “Como houveram protestos, o Munistério pede desculpas ao pessoal a quem isto trusse sarilhos. Deve de ter sido munto prujudicial. Obrigadinhas.”
Publicado em:
http://tsf.sapo.pt/blogs/donarosete/archive/2009/03/12/erros-do-magalh-227-es.aspx
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2 comentários:
Qual o problema de escrever "a texto"?
Estas tretas do masculino e feminino não servem para o que quer que seja. Não têm qualquer utilidade.
São saloiadas como estas que fazem da escola aquilo que ela é: uma fábrica de estupidificar os pequenos invertendo a ordem de valores sobre o que é realmente importante.
Como o tipo que aqui achava inadmissível não saber que os Maias foram escritos pelo Eça mas achava completamente trivial não saber a diferença entre peso e massa.
Deixem lá estar os Magalhães com os erros (alguns bem parvos) que têm vindo a ser corrigidos e preocupem-se com coisas realmente importantes.
O Desidério escreveu um post sobre estas coisas mas não me lembro do título.
Acho que se refere a este post:
http://dererummundi.blogspot.com/2009/01/errar-humano.html
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