sexta-feira, 6 de março de 2009

ACREDITAR EM DEUS. Porque sim? Porque não?


Vai realizar-se no próximo dia 14 de Março, às 15h, na Aula Magna da Faculdade de Filosofia um debate sobre as razões para acreditar em Deus e as razões para não acreditar. O debate insere-se no Projecto de Investigação "Epistemic Studies" do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos da Faculdade de Filosofia, na linha de investigação sobre o diálogo fé-ciência. A iniciativa é co-organizada também pelo Portal Ateu, uma instituição que procura promover o ateísmo em Portugal. O debate insere-se numa tentativa de esclarecimento recíproco entre crentes e não crentes, com o objectivo de se superarem alguns mal-entendidos de parte a parte, e de assim se esclarecerem os termos do diálogo que deve existir. Pelo Portal Ateu intervêm dois dos seus membros fundadores, Ricardo Silvestre e Helder Sanches. Pela Faculdade de Filosofia intervém Alfredo Dinis. Bernardo Motta intervirá também como crente.

19 comentários:

Anónimo disse...

E no Porto, não?
É preciso, é preciso!!

alfredo dinis disse...

Margarida,

E no Porto, porque não? Quer co-organizar um debate como este? Também pode deslocar-se a Braga. Vai ser muito bem recebida.

Saudações,

Alfredo Dinis

Anónimo disse...

... eu sabia..., com gente inteligente, não devemos 'meter-nos' de improviso. Só com tudo muito bem organizadinho e as respostas "na ponta da língua"; o que não tenho...
Euzinha?! 'Co-organizar'?! Ai cavalheiro que me embaraçais e reduzis a pó os tímidos protestos geográficos (entre outros impulsos).
Não pertenço ao 'millieu', excelência..., nem (apesar do fascínio por tal) pertenço a qualquer organização cívica (estilo americano, p.ex.) que tenha capacidade de se pôr em campo...
Nem ao 'Lions Club pertenço, veja lá...
Agora fiquei enveronhadita, pois claro. É para aprender a não 'mandar bocas'. A não ficar à espera da papinha toda feita'.
Quanto a Braga..., muitíssimo tentador, sobretudo porque adoro essa cidade e estou a um pulinho daí! (por acaso, num primeiro relance, achei que era na capital - é quase tudo lá! -
Quem sabe!?
Pois é! Quem sabe?!
(grata pela resposta, mesmo que em jeito de esgrima! Ah, mestre!) ;)

Anónimo disse...

ANTHONY FLEW, UM FILÓSOFO EX-ATEISTA CUJA OPINIÃO NÃO DEIXA DE SER INTERESSANTE

Sobre a questão de acreditar em Deus ou não deve ter interesse a trajectória pessoal e intelectual de Anthony Flew, um dos mais renovados filósofos (ex-)ateístas da actualidade.

Vale a penas ler o seu recente livro THERE IS A GOD!

Embora nascido e criado numa família cristã (o seu pai era um dos mais conhecidos pastores Metodistas do Reino Unido) Anthony Flew desde cedo se mostrou desconfortável com o ensino cristão, tendo abraçado uma visão do mundo naturalista e ateísta.

Durante a sua vida de estudante e professor de filosofia privou com alguns dos mais célebres filósofos, cientistas e intelectuais (v.g. Ludwig Wittgenstein, Bertrand Russell, C. S. Lewis) ateus e cristãos, em diálogo com os quais desenvolveu os seus argumentos ateístas.

Ao longo de cerca de seis décadas defendeu ferozmente o ateísmo em livros, artigos, palestras e debates.

Ele conhecia muito bem os argumentos de ateístas tão diversos como David Hume ou Bertrand Russell, argumentos esses que desenvolveu, aprofundou e sofisticou ao longo de sessenta anos.

Recentemente, porém, algo aconteceu.

Anthony Flew, que teve sempre o mérito de manter uma mente aberta e seguir a evidência onde ela conduzisse, tornou-se teísta.

O que é interessante, considerando que se estava perante um defensor empedernido do ateísmo.

Como ele próprio diz, a sua mudança não se ficou a dever a uma experiência religiosa de qualquer tipo, antes foi um evento exclusivamente racional.

Anthony Flew explica, no seu recente livro “There is a God” (existe um Deus), as razões que o fizeram reconsiderar a sua posição.

Sem quaisquer desenvolvimentos, podemos sintetizá-las em alguns pontos:

1) a existência de leis naturais no Universo corrobora uma criação racional;

2) a sintonia do Universo para a vida corrobora uma criação racional;

3) a estrutura racional e matemática do Universo corrobora uma criação racional;

4) a existência de informação semântica codificada nos genomas corrobora uma criação racional.

Com base nestes argumentos, e principalmente no último, Anthony Flew considera agora não apenas que a posição teísta é verdadeira, mas que ela é cientifica e racionalmente irrefutável.

Embora Anthony Flew não se tenha convertido a Jesus Cristo, ele confessa que se há alguma religião digna de consideração séria, é o Cristianismo, com as figuras centrais de Jesus Cristo e do Apóstolo Paulo.

Se Anthony Flew ousasse considerar seriamente a mensagem cristã, iria ver que ela tem muito a dizer sobre astronomia, astrofísica, biologia, genética, geologia, paleontologia, etc., e que em todas essas disciplinas abundam evidências que a corroboram.

Para Anthony Flew a busca ainda não acabou.

É interessante o percurso de Anthony Flew.

Ele chegou a uma conclusão a que muitos outros já haviam chegado antes: a presença de informação codificada no genoma é evidência clara da existência de uma realidade imaterial, espiritual e mental para além da matéria, da energia, do tempo e do espaço.

Para ele é hoje claro e irrefutável: Deus existe.

Anónimo disse...

E Deus? Vais estar presente? E se estiver? Será pelo lado dos ateus, ou dos crentes? Ou tem as suas dúvidas?

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Discutir as "razões" para se acreditar, ou não, em Deus é uma discussão inútil. Aliás, é não perceber nada sobre a natureza da experiência religiosa e é sobretudo insistir nessa falácio de raciocínio desconcertante de que ciência e religião são uma espécie de dois exércitos, com cada um a defender a sua "verdade" absoluta e racional. O "diálogo fé-ciência" surge então como uma espécie de tréguas, uma espécie de declaração de paz. Muito honestamente e com todo o respeito que os organizadores deste evento me merecem, não há pachorra para tanta divagação!

Ricardo S. Reis dos Santos, ateu (como se isso interessasse alguma coisa!)

Anónimo disse...

Porque.

alfredo dinis disse...

Caro Manel dos Plásticos,

Se Deus existe vai mesmo ter que estar presente e que ter muita paciência, tanto com crentes como com não crentes...

Cordiais saudações,

Alfredo Dinis

alfredo dinis disse...

Caro Ricardo,

A 'divagação' a que se refere talvez acabe por não ser tanta como possa parecer, pelo menos no que me toca. Se, crentes e não crentes, reconhecermos que o nosso saber - sobre tudo - é muito limitado, já não teremos perdido o nosso tempo!

Cordiais saudações,

Alfredo Dinis

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Caro Alfredo,
agradeço o seu comentário.
Mas eu insisto na divagação. Concordo em absoluto que o nosso conhecimento é limitado: Mas o de "Deus" também porque é um "Deus" inventado pelo homem. Na minha opinião, a religião funciona como uma estratégia de estabilidade evolutivas das sociedades humanas. Na minha opinião, Deus é uma invenção do homem para não ter de olhar de frente a vida. Porque se a olhasse paralisava. A questão da morte é um bom exemplo. Aliás, é o exemplo. Qualquer sistema religioso "promete" a imortalidade. Curiosamente, nestes tempos de descrença nos sistemas religiosos, os cientistas começam a "prometer" o mesmo, seja através da cura do cancro ou da invenção de uma qualquer técnica de manipulação genética que nos vai deixar jovens e pujantes para o resto da vida. Eu não tenho absolutamente nada contra os crentes. Apenas não sinto, nem nunca senti, necessidade de ser salvo. Parece-me evidente que se um cão ou um gato ou até mesmo um elefante pudessem construir os seus deuses, então eles seriam muito provavelmente deuses com a forma de um cão, de um gato e de um elefante, respectivamente. Ora, admitindo que "Deus" é uma invenção, ou melhor, é uma estratégia de estabilidade evolutiva, então seríamos obrigados a concluir que não existe "o problema de Deus" nem uma qualquer guerra entre Deus e a Ciência.

alfredo dinis disse...

Caro Ricardo,
Gostaria de saber como explicas que todos os seres vivos, ou a sua maioria, procuram evitar a morte. Isso parece revelar um desejo 'natural' de imortalidade. Será este desejo também uma 'estratégia de estabilidade evolutiva'? Pessoalmente não sei. Pergunto o que pensas disto.

Também pessoalmente não tenho nada contra a ideia de que 'Deus' é, como dizes, uma 'estratégia de estabilidade evolutiva'. Porque não? Se para o crente a evolução representa o método criador de Deus, tudo o que se puder dizer sobre evolução não contradiz a ideia de Deus. Excepto a afirmação de que a evolução exclui Deus porque todo o processo evolutivo segue as leis do acaso. Não me parece que esta afirmação seja assim tão evidente ou fácil de comprovar.

Cordiais saudações,
Alfredo Dinis

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Caro Alfredo,
agradeço novamente o seu comentário.

Não me parece que todos os seres vivos evitem a morte. Aliás, essa é uma visão um tanto antropocêntrica, como se todos os seres vivos tenham de ser como nós. O "desejo natural" de grande parte dos seres vivos não é um "desejo" egoista. O "desejo natural" de grande parte dos seres vivos é a reprodução. Porque sem ela deixam de existir. E isso implica morrer. Morrer faz parte da vida. "Nasceu - não escapa", diziam os antigos. Curiosamente, os personagens bíblicos do Antigo Testamento viviam muitos anos e tinham muitos filhos. Agora, há estratégias que se desenvolvem para evitar (na verdade, trata-se mais de "atrasar") a morte. A ideia é ficar vivo o maior tempo possível para nos reproduzirmos tanto quanto possível. É claro que tudo isto é muito mais complexo e não é assim tão linear. Eu não sei o que os outros seres vivos pensam (aqueles que pensam) ou desejam (aqueles que desejam). Apenas sei, e muito mal, aquilo que nós, humanos, pensamos e desejamos. O desejo de ser imortal, para nós, pode de facto ser uma estratégia evolutivamente estável mas apenas no aspecto de que nos distrai da própria vida. A estratégia, nesse aspecto, é hábil. Colocamos a morte no fim da vida e entendemos que o espaço que ainda nos separa dela não está de forma alguma contaminado por ela. Esta estratégia permite-nos assim acordar, viver, e dormir tranquilos sem pensar "nessas coisas". Caso contrário, a vida tornar-se-ia numa mais ou menos lenta agonia. Daí que não ache estranho que essa imortalidade também seja prometida pela Ciência.

Quanto à segunda parte, eu não excluo Deus do processo de evolução. Se Deus é uma "invenção" do homem para poder existir até morrer, então podemos falar numa "história evolutiva da ideia de deus". Como sabe, existem ou existiram muitos deuses. Por outro lado, os sistemas religiosos funcionam como sistemas morais. Como sabe, a moral diz-nos a forma "como devemos viver" e exprime-se num conjunto de regras. Essas regras são necessárias à sobrevivência das sociedades. Logo, neste sentido, sim, deus e os sistemas religiosos são estratégias evolutivamente estáveis. Deus é uma estratégia evolutivamente estável. Fomos nós que os criámos e não ele que nos criou. Nós somos os criadores de deus. Sabe, há uma piada com Nietzsche e Deus muito interessante. Não me recordo com exactidão mas era qualquer coisa assim: num muro, num certo dia, aparece escrito: «O homem matou Deus. Assinado Nietzsche». No dia seguinte, no mesmo muro aparece escrito: Nietzsche matou o homem. Assinado Deus».

Agora, eu não simpatizo nada com o radicalismo, por exemplo, de Richard Dawkins. Eu acho é que se devem separar as águas. A Ciência não deve querer tomar o lugar da Religião. E a Religião não deve querer tomar o lugar da Ciência. Se reparar nas notas de rodapé das versões mais actuais da Bíblia, vê que há uma necessidade muito grande em corrigir as imprecisões científicas da Bíblia. Vejamos só um exemplo. Quando Deus diz: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que na terra voem aves, sob o firmamento dos céus» (Gn 2,20), somos remetidos para a seguinte nota de rodapé: «A narração da criação dos animais, como a das plantas, não se opõe por si mesma ao evolucionismo ou outras teorias científicas, sobre a origem destes seres. O que a Bíblia quer ressaltar é que eles são criaturas de Deus. E isto fá-lo na linguagem e na mentalidade do tempo. Repare-se como as plantas aparecem antes do sol e da lua, coisa cientificamente impossível. Trata-se de uma esquematização poética, não duma reportagem histórica.» Na minha opinião, a César o que é de César. Os cientistas devem confinar a sua atenção exclusivamente à investigação de "como" as leis funcionam. Não devem confundir o "como" com o "porquê". O "porquê" só encontra uma resposta inteligível no dogmatismo. O "porquê" é o regime de sentido que nos permite existir sem desesperar. E esse regime de sentido pode agora ser a religião judaico-cristão, ou o budismo, o humanismo, ou outro qualquer. Porque, no fim, fica a certeza de que o mundo nunca será como nós queremos que ele seja.

Por favor, tome esta conversa como uma conversa de café. Obrigado pela companhia.

Um abraço,
Ricardo

Anónimo disse...

Na minha opinião ateus não deveriam perder tempo com crentes, simplesmente pelo fato de existir um muro em suas mentes.
Não considero nenhum argumento criacionista legitimo e descarto literalmente suas opiniões em relação a origem da vida e o demais assuntos relacionados. A base da religião é um sonho e como sonhos não são reais, devemos por logica, descarta-los.
A ciencia tem como objetivo tornar a vida das pessoas melhores e todos os confortos que temos hoje devemos a ela.
A religião até que poderia fazer sua parte, simplesmente não se interferindo na vida de ninguem. Os assuntos religiosos deveriam ter como limites os muros de suas congregações Acho que já seria suficiente.
Nunca vi um cientista entrando em uma igreja e enfiando o dedo aonde não é chamado!

alfredo dinis disse...

Caro Ricardo,
Continuemos esta conversa de café! Tenho alguma dificuldade em aceitar que as pessoas não querem morrer apenas para se reproduzirem o mais possível. Ora os seres vivos, falemos mais concretamente dos seres humanos, não mantêm a sua capacidade reprodutiva toda a vida. Porque quereriam manter-se então vivos?
Afirma: "Nós somos os criadores de deus". Pode ser que esteja correcto. Mas continuo sem perceber o que o faz sentir-se tão seguro.
Pessoalmente, sei muito pouco acerca de Deus, apesar de ter estudado cinco anos de teologia. O que julgo saber é porém suficiente para dar à minha vida um sentido que não encontro nem na ciência nem na filosofia.
Cordiais saudações,

Alfredo Dinis

alfredo dinis disse...

Caro Eduardo,
Afirma que 'a base da religião é um sonho'. O que o faz estar tão certo disto?
Como sabe há um número considerável de cientistas, alguns deles de grande prestígio científico, que são crentes. Como explica isto?

Cordiais saudações,

Alfredo Dinis

Anónimo disse...

Caro Alfredo dinis,

Respondendo a sua pergunta: Existe um numero considerado de crentes que se tornaram ateus. Como explica isso?

Então quer dizer o seguinte: se um cientista apóia adieis evolucionistas, ele está errado?
Mas por outro lado, esses mesmo homem, apoiando idéias criacionistas, poderá estar certo?

Caro amigo, não tenho nada contra os teístas. O ponto de vista que defendo é o da liberdade de pensamento. Claro, existem pessoas ignorantes tanto do lado ateu quanto do lado teísta, mas os religiosos não conseguem conviver com opiniões diferentes ( daí a expressão "muro").
Em relação aos sonhos, minha opinião é bem clara:
Tudo que não se enquadra no requisito da matéria é pensamento.

Saudações,

Eduardo Andrade

Anónimo disse...

Caro Alfredo dinis,


Desculpe pelo erro: adieis( ideias)

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Caro Alfredo,
mais uma vez agradeço o seu comentário.

Pois, a complexidade da vida não nos permite generalizar, isto é, nem tudo é assim, nem tudo é assado. Centrando-nos nos humanos, como sugere, tem razão quando diz que nós não mantemos a nossa capacidade reprodutiva durante toda a nossa vida. Mas é precisamente por esse motivo que morremos. Aliás, nós estamos programados, desde o início, para morrer. Nada é para sempre.

Diz que não percebe o que me faz sentir tão seguro de que nós somos os criadores de Deus. Bem, em parte é precisamente o mesmo que o faz sentir tão seguro de que existe um deus.

Quando diz que não encontra sentido para a sua vida na ciência ou na filosofia, mas sim em deus, óptimo. Porque é isso mesmo. Uma vida sem sentido é um desespero. Agora, a sua verdade não é a minha verdade. O seu regime de sentido não é o meu regime de sentido. E, acima de tudo, nem eu nem você temos razão. Como escreveu François Jacob, «nada é tão perigoso como a certeza de se ter razão». Basta olhar para trás. O caminho percorrido está cheio de gente tombada.

Um abraço,
Ricardo

Ricardo S. Reis dos Santos disse...

Deixe-me só concretizar melhor: gente tombada por ter contrariado a razão. E agora aqui podemos estar a falar do sistema político ideal, do sistema racial ideal, do sistema religioso ideal, do sistema científico ideal, etc. Gente tombada porque, para quem tem razão, os meios justificam sempre os fins.

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