segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Booiiiiing!

António Câmara, CEO da Ydreams, prémio Pessoa de 2006.

Em entrevista ao jornal "I" de 18/4/2007
Como uma Google portuguesa?
Não posso dizer isso nesse sentido. É uma empresa atractiva para trabalhar. Também temos stock options, conhecemos bem o modelo. A diferença em termos de talento tecnológico das pessoas que temos aqui para as da Google é que é mínima. Aliás alguns deles aqui são melhores. A questão abissal é na gestão.
Costuma dizer-se o contrário...
Não sabem do que estão a falar.
O problema não é a matemática?
Santo Deus, não. A maior parte das pessoas aqui é dez vezes melhor a matemática que qualquer americano que trabalhe na Google. Não há comparação. As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT. Há o talento em Portugal para fazer isso, a questão é transformar isto num negócio gigantesco.
Em entrevista à aulamagna.pt de 14/04/2010
Nos seus textos autobiográficos fala com prazer do seu absentismo, do tempo dedicado a ler, a ir ao cinema e a conviver.
Foi o melhor que me aconteceu. Se tivesse ido durante cinco anos às aulas do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa acho que teria tido uma vida miserável, naquela altura e depois. Hoje em dia orgulho-me todos os dias da decisão de ter estudado de uma forma diferente. Porque mesmo sem ir às aulas, eu estudava e trabalhava ao mesmo tempo, só que aquele tipo de ensino não era nada entusiasmante. Um teórico americano afirmava que a realidade não enganava. Se olharmos para as nossas universidades, constatamos que os estudantes não vão às aulas. Algum motivo devem ter. Não é por serem mandriões. Eu próprio não era mandrião. O problema, parece-me, está muito mais na oferta do que na procura.
A Internet e as novas tecnologias podem mudar a nossa relação com as aulas?
Muito. Num estudo de 1988, promovido pela universidade Virginia Tech, Charles W. Steger, o actual presidente da instituição, defendia que as aulas deviam ser excepcionais. E que se devia acabar com o modelo que desde a Idade Média temos vindo a seguir. Mas isso tinha uma consequência: como acabavam as aulas tradicionais, sobravam salas. E o que fazer com elas (porque apesar de tudo era importante que os alunos convivessem com os professores)? Solução: construir bares.
Ter bares em vez de salas aulas?
Exactamente, e com o bom tempo que há em Portugal podemos substituí-las por esplanadas. Aí poderíamos tirar dúvidas e discutir, ter acesso à Internet, sítios para projectar vídeo ou outros suportes. Nesse sentido, a arquitectura pode ter um papel fundamental.

16 comentários:

angelina maria pereira disse...

São estas pessoas que eu gosto de ouvir. Aprendo muito. As outras, as que, constantemente, nos azucrinam o espírito e o corpo, com cenários miserabilistas...vade retro!

Anónimo disse...

" A maior parte das pessoas aqui é dez vezes melhor a matemática que qualquer americano que trabalhe na Google. Não há comparação. As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT. "

Não percebo a falta de padrões. Alguém me explica por favor?

Carlos Albuquerque disse...

Mas isto não é "eduquês"?

Anónimo disse...

Isto é "eduquês" e a das coisas mais irresponsáveis que já ouvi. Lamentável. Lembro que o famoso CEO dizia que a Ydreams ia estar no NASDAQ em 3 anos. Já lá vão 9 anos e nada. E só 9 anos depois é que percebeu que tem de vender... incrível.
O problema da Ydreams é esse mesmo, não tem CEO.

Anónimo disse...

Não é eduquês, é anedótico. Diverte-te e não trabalhes que conseguirás resultados...Não treines e meterás muitos golos. Que diga aos soldados americanos no Afeganistão: não esfoles, quando em operações deita-te a dormir e jogar cartas. Os exames em Matemática são mais difíceis que no MIT. Eu digo mais, as últimas 4 atribuições de Medalhas Fields foram a portugueses, incidentalmente a tipos que tinham fama de cabulões e que não aprenderam a tabuada. Digam lá ao Ministério que substituam as Universidades por Bordeis, tornar-se-á muito mais divertido e ficamos todos matemáticos do caraças.

joão viegas disse...

Ah ah ah !

Eu achei piada (piada, so isso, por favor poupem-me as indignações). Reparem que o homem não diz para não estudarem, apenas que não vale a pena ir às aulas.

Faz-me lembrar a velha anedota do aluno que vai à primeira aula e depois, durante o resto do ano, não põe la mais os pés, mas ainda assim vai ao exame final e tira 19/20.

Intrigado, mas um pouco vexado, o professor apanha-o num corredor e diz-lhe : "Olhe-la, como é que você tirou 19/20 no exame final ?" resposta "Bem, repare, eu até costumo ter 20/20, mas é que a sua primeira aula fez-me ca uma confusão..."

Anónimo disse...

Também há aquela anedota dum tipo das novas oportunidades que não foi a aulas, não estudou pevide e entrou na Universidade com média 20 enquanto os que estudaram ficaram para trás. De facto estudar só cansa e não dá nada.

Anónimo disse...

O tal de Câmara tem piada, dêem um prémio qualquer ao tipo, ele merece.

Anónimo disse...

Não que concorde com o eduquês, e muito menos com a ideia de sucesso sem esforço, mas a nível universitário o senhor tem razão - em vez de estar oito horas por dia fechados em anfiteatros com mais duzentas pessoas, os alunos aprendem muito mais sozinhos.
É muito preferível, por exemplo, as aulas tuturiais ao estilo Oxford - que tenho agora, no meu último ano de mestrado no IST - em que recebemos todas as semanas um projecto para fazer, trabalhamos nele sozinhos e no fim vamos uma hora ao gabinete do professor em grupos de dois, falar sobre o que fizemos e perceber as bases do que vamos fazer a seguir. O resto? Aprendemos nós, lemos manuais, pesquisamos. E aprendo muito mais do que em qualquer teórica.

Fartinho da Silva disse...

Se o romantismo pagasse imposto, Portugal tinha o Estado mais rico do mundo...

José Batista da Ascenção disse...

Isto é eduquês: em forma de crime assumido, se passasse a doutrina obrigatória. Se todos os partidários/beneficiários do eduquês se assumissem assim podíamos passar a outro estádio. Quem quisesse aprender pelo método estava à vontade. E quem não quisesse procurava outra escola. E acabava a ditadura do eduquês. Se há quem goste, pois que use até se fartar, ou não. E que coma do que produzir. O que não é legítimo é obrigar aqueles que o não suportam a subjugar-se à tirania do dito.

Anónimo disse...

Carlos Albuquerque: muito bem, acertou. Afinal o eduquês sempre existe e o Carlos até o identifica muito bem!

Venâncio Lima

cristina simões disse...

Confesso que não entendo qual o espanto! Porque não trabalhar numa esplanada? Porque se tem de gerar ideias originais e práticas, ou mesmo um trabalho de resolução de problemas, num espaço determinado tipo sala de aulas? Sobre estas, Santo Deus, estão iguais há 30 anos!

Anónimo disse...

Eu voto pelo anónimo das 15:04 do dia 15: bordeis e vinho verde.

Anónimo disse...

Mas que discussão esta! O homem ganhou o prémio Pessoa, um dos mais prestigiados em Portugal. Mas os comentadores só querem saber se o tipo é eduquês ou não. Pois são essas portuguesices que dão cabo de nós!

Anónimo disse...

pena é que haja tão poucos antonio câmara neste país de empedrenidos e velhos do restelo... "quem sabe faz, quem não sabe" discute se é ou não eduquês; isto é que é importante - continue, assim, portugal e uns tantos anónimos que aqui se escudaram - acaso não serão alguns daqueles que noutros posts deste blog, por terem seguidores, se assumem e agora aqui, face à evidência dos argumentos perderam a coragem? aconselho a espreitarem a intervenção do professor câmara na comissão parlamentar de educação acerca do tema "que currículo para o século XXI". de facto "open mind" e saber fazer é fundamental... e menos retórica.
josé figueiredo

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...