Em entrevista ao jornal "I" de 18/4/2007
Como uma Google portuguesa?
Não posso dizer isso nesse sentido. É uma empresa atractiva para trabalhar. Também temos stock options, conhecemos bem o modelo. A diferença em termos de talento tecnológico das pessoas que temos aqui para as da Google é que é mínima. Aliás alguns deles aqui são melhores. A questão abissal é na gestão.
Costuma dizer-se o contrário...
Não sabem do que estão a falar.
O problema não é a matemática?Em entrevista à aulamagna.pt de 14/04/2010
Santo Deus, não. A maior parte das pessoas aqui é dez vezes melhor a matemática que qualquer americano que trabalhe na Google. Não há comparação. As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT. Há o talento em Portugal para fazer isso, a questão é transformar isto num negócio gigantesco.
Nos seus textos autobiográficos fala com prazer do seu absentismo, do tempo dedicado a ler, a ir ao cinema e a conviver.
Foi o melhor que me aconteceu. Se tivesse ido durante cinco anos às aulas do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa acho que teria tido uma vida miserável, naquela altura e depois. Hoje em dia orgulho-me todos os dias da decisão de ter estudado de uma forma diferente. Porque mesmo sem ir às aulas, eu estudava e trabalhava ao mesmo tempo, só que aquele tipo de ensino não era nada entusiasmante. Um teórico americano afirmava que a realidade não enganava. Se olharmos para as nossas universidades, constatamos que os estudantes não vão às aulas. Algum motivo devem ter. Não é por serem mandriões. Eu próprio não era mandrião. O problema, parece-me, está muito mais na oferta do que na procura.A Internet e as novas tecnologias podem mudar a nossa relação com as aulas?
Muito. Num estudo de 1988, promovido pela universidade Virginia Tech, Charles W. Steger, o actual presidente da instituição, defendia que as aulas deviam ser excepcionais. E que se devia acabar com o modelo que desde a Idade Média temos vindo a seguir. Mas isso tinha uma consequência: como acabavam as aulas tradicionais, sobravam salas. E o que fazer com elas (porque apesar de tudo era importante que os alunos convivessem com os professores)? Solução: construir bares.Ter bares em vez de salas aulas?
Exactamente, e com o bom tempo que há em Portugal podemos substituí-las por esplanadas. Aí poderíamos tirar dúvidas e discutir, ter acesso à Internet, sítios para projectar vídeo ou outros suportes. Nesse sentido, a arquitectura pode ter um papel fundamental.
16 comentários:
São estas pessoas que eu gosto de ouvir. Aprendo muito. As outras, as que, constantemente, nos azucrinam o espírito e o corpo, com cenários miserabilistas...vade retro!
" A maior parte das pessoas aqui é dez vezes melhor a matemática que qualquer americano que trabalhe na Google. Não há comparação. As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT. "
Não percebo a falta de padrões. Alguém me explica por favor?
Mas isto não é "eduquês"?
Isto é "eduquês" e a das coisas mais irresponsáveis que já ouvi. Lamentável. Lembro que o famoso CEO dizia que a Ydreams ia estar no NASDAQ em 3 anos. Já lá vão 9 anos e nada. E só 9 anos depois é que percebeu que tem de vender... incrível.
O problema da Ydreams é esse mesmo, não tem CEO.
Não é eduquês, é anedótico. Diverte-te e não trabalhes que conseguirás resultados...Não treines e meterás muitos golos. Que diga aos soldados americanos no Afeganistão: não esfoles, quando em operações deita-te a dormir e jogar cartas. Os exames em Matemática são mais difíceis que no MIT. Eu digo mais, as últimas 4 atribuições de Medalhas Fields foram a portugueses, incidentalmente a tipos que tinham fama de cabulões e que não aprenderam a tabuada. Digam lá ao Ministério que substituam as Universidades por Bordeis, tornar-se-á muito mais divertido e ficamos todos matemáticos do caraças.
Ah ah ah !
Eu achei piada (piada, so isso, por favor poupem-me as indignações). Reparem que o homem não diz para não estudarem, apenas que não vale a pena ir às aulas.
Faz-me lembrar a velha anedota do aluno que vai à primeira aula e depois, durante o resto do ano, não põe la mais os pés, mas ainda assim vai ao exame final e tira 19/20.
Intrigado, mas um pouco vexado, o professor apanha-o num corredor e diz-lhe : "Olhe-la, como é que você tirou 19/20 no exame final ?" resposta "Bem, repare, eu até costumo ter 20/20, mas é que a sua primeira aula fez-me ca uma confusão..."
Também há aquela anedota dum tipo das novas oportunidades que não foi a aulas, não estudou pevide e entrou na Universidade com média 20 enquanto os que estudaram ficaram para trás. De facto estudar só cansa e não dá nada.
O tal de Câmara tem piada, dêem um prémio qualquer ao tipo, ele merece.
Não que concorde com o eduquês, e muito menos com a ideia de sucesso sem esforço, mas a nível universitário o senhor tem razão - em vez de estar oito horas por dia fechados em anfiteatros com mais duzentas pessoas, os alunos aprendem muito mais sozinhos.
É muito preferível, por exemplo, as aulas tuturiais ao estilo Oxford - que tenho agora, no meu último ano de mestrado no IST - em que recebemos todas as semanas um projecto para fazer, trabalhamos nele sozinhos e no fim vamos uma hora ao gabinete do professor em grupos de dois, falar sobre o que fizemos e perceber as bases do que vamos fazer a seguir. O resto? Aprendemos nós, lemos manuais, pesquisamos. E aprendo muito mais do que em qualquer teórica.
Se o romantismo pagasse imposto, Portugal tinha o Estado mais rico do mundo...
Isto é eduquês: em forma de crime assumido, se passasse a doutrina obrigatória. Se todos os partidários/beneficiários do eduquês se assumissem assim podíamos passar a outro estádio. Quem quisesse aprender pelo método estava à vontade. E quem não quisesse procurava outra escola. E acabava a ditadura do eduquês. Se há quem goste, pois que use até se fartar, ou não. E que coma do que produzir. O que não é legítimo é obrigar aqueles que o não suportam a subjugar-se à tirania do dito.
Carlos Albuquerque: muito bem, acertou. Afinal o eduquês sempre existe e o Carlos até o identifica muito bem!
Venâncio Lima
Confesso que não entendo qual o espanto! Porque não trabalhar numa esplanada? Porque se tem de gerar ideias originais e práticas, ou mesmo um trabalho de resolução de problemas, num espaço determinado tipo sala de aulas? Sobre estas, Santo Deus, estão iguais há 30 anos!
Eu voto pelo anónimo das 15:04 do dia 15: bordeis e vinho verde.
Mas que discussão esta! O homem ganhou o prémio Pessoa, um dos mais prestigiados em Portugal. Mas os comentadores só querem saber se o tipo é eduquês ou não. Pois são essas portuguesices que dão cabo de nós!
pena é que haja tão poucos antonio câmara neste país de empedrenidos e velhos do restelo... "quem sabe faz, quem não sabe" discute se é ou não eduquês; isto é que é importante - continue, assim, portugal e uns tantos anónimos que aqui se escudaram - acaso não serão alguns daqueles que noutros posts deste blog, por terem seguidores, se assumem e agora aqui, face à evidência dos argumentos perderam a coragem? aconselho a espreitarem a intervenção do professor câmara na comissão parlamentar de educação acerca do tema "que currículo para o século XXI". de facto "open mind" e saber fazer é fundamental... e menos retórica.
josé figueiredo
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