domingo, 24 de outubro de 2010

A AVALIAÇÃO EXTERNA DAS NOVAS OPORTUNIDADES


“Reivindicar direitos sem proclamar obrigações é querer o impossível, é jogar às utopias ou às catástrofes” (Raymond Polin, filósofo francês, autor da obra “La compréhension des valeurs”).

Mesmo num país em que a tolerância tem a elasticidade das conveniências dos seus corifeus, muito me admiraria que um estudo encomendado pelos próprios interessados para dar um determinado resultado o contrariasse.

Por outro lado, que interesse teriam os beneficiários das Novas Oportunidades em dizer mal de uma formação que transveste ignorantes em sábios, enquanto o diabo do oportunismo esfrega um olho? Ou, dito de outra maneira, em morder a mão que lhes deu um presente, ainda que envenenado, por saberem no íntimo das suas consciências que foram joguetes de uma viciada estatística para aumentar o número de portugueses prontos a tomarem de assalto as universidades, tirando, por vezes, como foi denunciado recentemente nos media, o lugar a estudantes do ensino regular?

O comentário de João Boaventura ao post de Helena Damião, Auto-estima, segurança e extroversão (23/10/2010) é uma crítica mordaz, que não dá lugar a dúvidas, a este deplorável status quo. Quanto a mim - com o peso da responsabilidade de ter tecido, naquilo que tenho como dever de cidadania, vários textos críticos sobre esta temática -, as Novas Oportunidades são um insulto de uma sociedade medíocre que mais não pretende do que ampliar essa mediocridade aos seus cidadãos e cidadãs para não sofrer o peso da solidão.

Nada disto seria, assim, tão grave, como é, se não servisse de mau exemplo para os nossos jovens do ensino secundário, que desperdiçam energias em ingentes tarefas escolares num percurso de três anos lectivos de sangue, suor e lágrimas para obterem um diploma que, sabemos agora, mais não vale do que os cinco réis de mel coado de uma equivalência a seis meses de Novos Oportunismos. Ora, um Estado que despende balúrdios com escolas estatais de ensino secundário para fazerem o mesmo que as Novas Oportunidades (com formadores mal pagos e vítimas de instabilidade contratual) deverá ser responsabilizado pelo mau uso que faz dos dinheiros públicos, dos nossos impostos. Impostos que muito se irão agravar no próximo ano de grande sacrifício para as famílias portuguesas, que passarão a ser prejudicadas no IRS por tectos mais baixos no que respeita a despesas do âmbito da educação dos seus filhos.

Todo este circo pode ser sintetizada neste excerto de um texto de Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata" de Roma. Escreveu ele:

”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o canôn, são postos fora do jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
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Ora, como nos ensina a sabedoria popular, "nas costas dos outros lemos as nossas". Não será altura, portanto, de meditarmos, os responsáveis e todos nós, sobre os funestos efeitos de uma pretensa "obra democrática e progressista" que nos querem impingir à viva força,e que mais não é do que querer fazer passar gato por lebre? Refiro-me, é óbvio, às Novas Oportunidades!

4 comentários:

Anónimo disse...

Seria determinante que publicamente se mostre esta mentira das NO.
Em particular que se pudesse ouvir o que pensam os restantes responsáveis políticos sobre tal mágica igualdade que são as NO.
Por fim, se os professores não o fizerem também, terão mais tarde "nas suas costas" a marca dessa verdadeira monstruosidade social.
Saudações carregadas de preocupação,
Luís Vilela.

José Batista da Ascenção disse...

Caro Rui Baptista:

Há aquele ditado que diz: cães e lobos, comem todos.

Anónimo disse...

Foi, sem dúvida,uma das melhores avaliações externas aos CNO e ao trabalho kafkiano de sinal invertido que, na generalidade, por ali se faz -- por muito esforço que tenham x directores, coordenadores, e outros tantos formadores mais ou menos esperançosos.

José Batista da Ascenção disse...

Relativamente ao meu comentário anterior, feito quando ainda não estava publicado o de Luís Vilela, esclareço que não vejo os professores como responsáveis, nem os incluo no conteúdo do adágio. E, no actual estado de coisas, nem sequer vejo como é que eles se podem opor ao que quer que seja... Do mesmo modo que vejo, como Luís Vilela, que esta é mais uma nódoa entre as muitas que, por força de quem pode e manda, lhes sujam o mister.

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