Como é habitual, destacamos a coluna de J. Pio de Abreu no "Destak" (o cartoon , de Henrique Monteiro, é do ano de 2008!):
O orçamento vai ser aprovado? Claro que vai. Não importa muito saber se este ou aquele partido vai votar contra, a favor ou abster-se. Tudo isso são irrelevâncias folclóricas. O parlamento vai aprová-lo porque ele já está aprovado. Foi aprovado pelos mercados, pelo Fundo Monetário Internacional, pelas agências de rating, pela Comunidade Europeia, pelo Banco Central Europeu e pela senhora Merkel.
E os portugueses também já aprovaram o orçamento. Enquanto os franceses põem tudo em cacos por verem a reforma aumentada para os 62 anos, os portugueses viram-na aumentada até aos 65 sem um lamento. Deve ser porque o trabalho não dá muito trabalho. E, além disso, se tudo o mais faltar, ainda temos o sol que é de graça.
Agora, embora saibam que lhe vão aos bolsos, os portugueses andam contentes. Será porque têm o sol, porque se preparam para fazer ronha, mas é por mais do que isso. O problema é que cada português olha mais para os outros do que para si próprio e custa-lhe menos ganhar pouco do que saber que os outros ganham mais. Isso, sim, é que lhes dói: que exista quem trabalhe menos do que eles e ganhe muito mais.
Ora, a grande maioria dos portugueses ganha muito pouco. Vai perder algum, é certo, talvez uns três por cento. Mas fica contente porque aqueles que mais ganham vão perder dez por cento. E então, os políticos, que já perderam cinco por cento, vão agora perder mais dez. Maravilha das maravilhas, que se aprove o orçamento.
Desta vez, a inveja ajuda as finanças públicas.
J. L. Pio de Abreu
2 comentários:
Assim somos. Raça de gente, a nossa! Nós.
Também coloquei este artigo no blogue da minha autoria e acrescentei-lhe mais umas palavras...
Está muito bom, como quase todas as crónicas do Dr Pio, aliás.
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