sábado, 13 de outubro de 2007

Breve história do preservativo - II

Durante o apogeu da cristandade não havia qualquer proibição eclesiástica em relação ao uso de métodos contraceptivos, inclusive o actualmente tão execrado preservativo. Assim, a Europa medieval estava inundada de tratados médicos recomendando métodos para evitar a concepção. O principal método contraceptivo era o uso de envoltórios de linho, isto é preservativos, embebidos ou não em ervas medicinais para aumentar a eficácia. Abundavam ainda uma série de mezinhas assentes na cultura supersticiosa da época: poções contraceptivas feitas de urina de cordeiro, pó de testículos de touro torrados e muitas outras receitas cuja utilidade me parece meramente emética.

Diz a lenda que o famoso ovo foi um argumento usado por Colombo para convencer os Reis Católicos a partir para Ocidente à procura da Índia que nunca chegaria a encontrar. Quaisquer que tenham sido os argumentos, é certo que em 1492, Colombo se lança aos mares com três pequenas embarcações, a nau Santa Maria e as caravelas Niña e Pinta, e descobre acidentalmente as ilhas das Bahamas, nomeadamente o Haiti, a que chamou Hispaniola. O estabelecimento de uma colónia na nova possessão, Natividad, permitiu a Fernando e Isabel ocuparem-se da sua tarefa favorita: a disseminação da religião católica. Os nativos retribuiram disseminando entre os colonizadores uma doença que tudo indica ser desconhecida na Europa à época: a sífilis.

A doença alastrou rapidamente quando uns anos depois o rei Católico enviou mercenários espanhóis, que partilhavam as escolhas de bordéis e tabernas com os marinheiros entretanto regressados (e contaminados), para ajudar os napolitanos da defesa do seu reino que Carlos VIII de França reinvidicava ser seu por direito hereditário, através da avó Maria d'Anjou.

Em 22 de Fevereiro de 1495, Nápoles rendeu-se e os soldados franceses festejaram a vitória da forma prevísivel. Na retirada para defender o vulnerável território francês das investidas dos outros monarcas europeus, o exêrcito francês espalhou no seu percurso o que relatos da época descreviam como uma «sarna» horrível que cobria o corpo e o rosto, assim como pústulas espessas que rebentavam com um cheiro pestilento. Os franceses chamaram à nova doença o «mal napolitano», enquanto os italianos lhe chamavam morbus gallicus. Foi Girolamo Fracastoro quem deu o nome que persistiria, ao publicar em 1530 o poema «Syphilis, sive morbus gallicus».

O carácter epidémico da sífilis foi muito rapidamente reconhecido, embora as causas do contágio demorassem algum tempo a ser entendidas. Mas quando o foram, implicaram profundas revoluções sociais - nomeadamente no que respeita à ingerência religiosa em matéria de sexualidade, que com o Renascimento entrara em queda acelerada. O homem medieval começou a tentar reduzir os perigos de contaminação pelas doenças venéreas (cuja relação com sexo mereceu o nome inspirado nas práticas sagradas das sacerdotisas dos templos de Vénus).

A «bainha de tecido leve, sob medida, para protecção das doenças venéreas», inventada pelo anatomista e cirurgião italiano Gabrielle Fallopio foi providencial na tentativa de contenção dos estragos. Fallopio, nascido em 1523 em Modena de uma família nobre mas sem dinheiro, vira-se na contingência de ingressar no clero para poder prosseguir os seus estudos, de forma que não deixa de ser irónico que o inventor do preservativo moderno tenha sido um padre católico!

Fallopio realizou o que podemos considerar o primeiro teste clínico de preservativos, em que 1100 homens usaram o seu dispositivo e se verificou que nenhum contraiu sífilis. O padre escreveu assim um tratado sobre a sífilis em que o tratamento recomendado era o uso do que Shakespeare chamou «luva de Vénus».

Entre 1713 e 1715 a cidade de Utrecht foi sede da conferência internacional que conduziu à assinatura do tratado que pôs termo à guerra da sucessão espanhola, sendo simultaneamente sede da difusão do preservativo. Na realidade, reuniram-se nesta cidade as personalidades europeias da época, o que atraiu à cidade uma fauna menos nobre e diplomata que proporcionou, para além de formas de distracção das intensas conversações de paz, a disseminação na nata europeia das temíveis e incuráveis à época doenças venéreas, especialmente a sífilis.

Um artesão criativo resolveu airosamente este efeito colateral das conversações, inventando preservativos habilmente costurados a partir do ceco (parte do intestino) de carneiros, parte anatómica dos ditos que já fornecia películas finas e transparentes utilizadas na cicatrização de ferimentos e queimaduras.

A industrialização do preservativo estava garantida depois deste sucesso. Assim, uns anos depois, em 1780, podia ler-se nos anúncios publicitários de uma das mais famosas casas de prostituição de Paris: «Nesta casa fabricam-se preservativos de alta segurança. Distribuição discreta para França e outros países». O termo preservativo foi introduzido neste anúncio, que foi posteriormente modificado e preservativo substituido por redingote anglaise, ou seja, «sobretudo - ou sobrecasaca - inglês».

O termo com que os preservativos são designados nos países anglo-saxónicos, condom, tem a sua etimologia associada a Xavier Swediaur, um profissional bastante prestigiado, especialista em doenças venéreas, que defendeu no século XIX ter sido o preservativo inventado por um médico inglês do século XVII, um tal Dr. Condom que se sabe hoje nunca ter existido.

Foi preciso esperar por 1870, umas décadas após a descoberta da vulcanização da borracha natural por Charles Goodyear, para serem disponibilizados os primeiros preservativos de borracha, espessos e reutilizáveis - desde que lavados, secos e polvilhados com talco após a utilização.

Os preservativos de látex, finos e com reservatório, muito semelhantes aos actuais, foram comercializados pela primeira vez nos Estados Unidos em 1901, sendo a sua utilização popularizada a partir da década de 30 do século passado. Na década de 60, Carl Djerassi inventa a pílula contraceptiva e esta progressivamente relega o preservativo para um plano muito secundário. A cura das doenças venéreas para que foi inventado e reinventado era possível desde 1941 e a descoberta da penincilina por Fleming.

Infelizmente para a humanidade, a SIDA impediu que o preservativo engrossasse a lista de artefactos históricos caídos em desuso. E, tal como cinco séculos antes acontecera com a sífilis, a associação de sexo e doença foi uma arma aproveitada por representantes de religiões sortidas, que tentam recuperar o poder perdido manipulando os terrores ancestrais de muitos com alusões a castigos divinos. Mas a SIDA não tem nada de divino e só uma mundivisão completamente antropocêntrica a classificaria como castigo: o HIV é simplesmente um resultado da «corrida às armas da adaptabilidade genética» entre hospedeiros e parasitas, que ocorre desde que a vida surgiu na Terra.

27 comentários:

Joana disse...

Adorei as postas :)

Nunca me tinha lembrado que a SIDA tinha servido que nem ginjas aos propósitos dos fundamentalistas, mas agora que penso nisso foi isso que fizeram. Acenaram com o terror divino, Sodoma e Gomorra para ganharem poder.

O Guardian de ontem tem um artigo a não perder sobre as manobras da Igreja:

An abuse of power

The Catholic church's campaign against Amnesty International needs to be recognised for the fundamentalist fanaticism that it is.

Christian Federico von Wernich and Cardinal Renato Martino are both members of the Catholic clergy who would like Amnesty International to be less effective in its campaigning activity.

Von Wernich was convicted a couple of days ago by a court in Argentina of a variety of crimes against humanity committed during the dictatorship. This included complicity in seven homicides, 31 cases of torture and 42 kidnappings. He had abused his position as a member of the clergy in order to obtain information from political prisoners during religious confessions, which he then passed on to the military.
(...)

Cardinal Jorge Bergoglio, the archbishop of Buenos Aires, responded to the verdict by saying that he was: "moved by the pain caused by the participation of a priest in grave crimes. We believe that the steps that justice takes in the clarifying of these deeds should serve to bolster the efforts of all citizens on the road to reconciliation and as a call to leave behind impunity as well as hate and rancour."

The measured nature of these comments are in marked contrast to the threatening and vitriolic campaign that the Catholic church has mounted against Amnesty International unless it overturns a recent decision taken by its membership to support a woman's right to abortion in certain strictly defined circumstances. Cardinal Renato Martino, the president of the Pontifical Council for Justice and Peace in the Vatican, said that Amnesty would face "inevitable consequences" for this decision, which he claims disqualifies it as a defender of human rights.

Anónimo disse...

Histoire et chronologie de la chrétienté - Après 1900

"1992 - Le Cardinal Maurice Otunga, archevêque de Nairobi brûle des préservatifs sur la place publique.

1994 - Sexe, mensonges et répression .
L'Église catholique oblige ses prêtres à renoncer à toute vie sexuelle au moment de leur ordination.
Et, de tout temps, elle entretient des monastères de femmes, où vivent des nonnes qui se déclarent "épouses du Christ".
Les contacts entre prêtres et religieuses sont inévitables : confessions...
De cette situation explosive naissent inévitablement des problèmes.
En 1994 : Une religieuse, qui est aussi médecin, sœur Maura O'Donohue, chargée de la coordination de la campagne contre le SIDA, remet un rapport qui recense des cas d'abus sexuels et de viols répétés de la part de prêtres sur des religieuses dans pas moins de 23 pays.
L'Église garde le rapport dans le plus grand secret, et une partie de son contenu ne sera révélé au public qu'en mars 2001 par un journal catholique américain, le "National Catholic Reporter".
Sources www.bible.chez-alice.fr : "Le Point" 05/04/02, "The National Catholic Reporter" 16 mars 2000, "L'Express", 7/06/2001, "Golias" juin 2001.

Octobre 2003 - Le Vatican nie l'efficacité du préservatif et l'archevêque de Nairobi estime que les préservatifs ont augmenté l'extension de l'épidémie contre l'avis de l'OMS.
Ces prises de position ne sont peut-être pas étrangères à l'extension de l'épidémie de Sida dans les pays africains à majorité catholique en Afrique comme le Kenya.
Ce n'est pas grave: dans quelques dizaines d'années, devant les faits, le pape du moment pourra toujours demander pardon pour les agissements de Église et sa responsabilité dans l'extension du Sida pendant les années 2000...
Sources www.bible.chez-alice.fr: BBC, AFP.

30 juin 2005 - "Cette Eglise catholique qui laisse l'Afrique porter sa croix" .
Sa condamnation aveugle du préservatif favorise la propagation du sida et tiraille les fidèles entre la foi et le combat contre la maladie.
Source www.bible.chez-alice.fr: journal "Libération" du 30 juin 2005."

Alef disse...

Escreve a Palmira:
«Fallopio, nascido em 1523 em Modena de uma família nobre mas sem dinheiro, vira-se na contingência de ingressar no clero para poder prosseguir os seus estudos, de forma que não deixa de ser irónico que o inventor do preservativo moderno seja um padre católico

Tenho quase a certeza de que Fallopio não era padre. Além do «Diário Ateísta», esta «informação» aparece na «Wikipedia», mas parece-me partir de um mal-entendido. O texto da «Wikipedia» parece ser uma paráfrase do texto da «Encyclopedia Britannica», que diz que Fallopio foi cónego da catedral de Módena. Mas uma coisa é dizer que tenha sido cónego, outra é que tenha sido padre. Naquele tempo ser cónego não implicava necessariamente ser padre. Ainda hoje há pessoas que têm o título de cónego sem serem padres, por privilégios herdados de outros tempos. Exemplos: o presidente da República Francesa e o rei de Espanha. Aliás, em alguns casos podia-se ser cónego aos 14 anos…

A acreditar noutros dados do artigo da Wikipedia, Fallopio teria 18-19 anos quando se tornou cónego da Catedral de Módena. Nascido em 1523, tornou-se cónego em 1542. É muito pouco provável que Faloppio fosse padre aos 18-19 anos. De resto, não vi essa referência «clerical» em nenhum lado («Catholic Encyclopedia», «Enciclopedia Universal»…), a não ser os lugares mencionados, de credibilidade «um tanto quanto» duvidosa... Em todo o caso, estou disposto a ver dados mais convincentes…

Alef

Anónimo disse...

Alef,

Vê aí esses dois sites onde se diz que Fallopio foi ordenado padre tendo ao que parece resignado alguns anos mais tarde. Terá tido uma relação homossexual o botânico Melchiorre Guilandino.


http://galileo.rice.edu/Catalog/NewFiles/fallopio.html

http://www.whonamedit.com/doctor.cfm/2288.html

Anónimo disse...

Errata: Terá tido uma relação homossexual com o botânico Melchiorre Guilandino.

Anónimo disse...

Sempre que se fala do "santo ofício" (sim, refiro-me com este termo à ICAR), ainda que não seja em termos insultuosos, mas meramente em jeito de observação, lá vêm Alef e os putos do bairro (passe a expressão) apontar as pequenas incorrecções, não se pronunciando sobre o conteúdo geral. Depois virá o tempo em que ainda dirão "ah, vejam lá que ela nem sabia que o Fallopio não foi padre", como se isso descridibilizasse o que quer que se possa dizer no debate sobre o preservativo.

Foquemos a questão. Quem é que acha que a posição da ICAR quanto ao preservativo é um crime contra a humanidade? Isso sim importa, isso sim divide-nos enquanto seres humanos.

Vá, Alef ou qualquer outro. Vou ficar divertidíssimo a ler o(s) seu(s) comentário(s) seguidamente ao meu, dizendo cobardemente que apenas se fez um reparo, que nem sequer ninguém se pronunciou na matéria.

Ricardo

Alef disse...

Caro Epafras:

Obrigado pela dica. É possível que a informação esteja correcta, embora nem tudo fique claro, como a data da ordenação em 1542, altura em que teria apenas 18-19 anos. De qualquer forma, se, como parece, foi ordenado e cedo deixou de ser padre, a formulação do parágrafo que comentei fica bem no «Diário Ateísta», mas aqui pode ser menos ambígua.

Alef

Joana disse...

Estou como o Ricardo: é divertido ver as contorções da beatada sempre que a religião vem à baila e eles imaginam insultos à sua fé :)

Não se percebe muito bem mais esta treta do Alef: qual é o problema do Fallopio ter sido padre aos 18-19 anos quando o César Bórgia já era bispo de Valência aos 16 anos :)

Joana disse...

Ricardo:

Sobre as mentiras que a ICAR espalha sobre o preservativo em África, que os preservativos estão infectados com SIDA, as orgias de fé a queimar preservativos nunca ouvirá uma palavra de condenação do rebanho.

Quando o idiota mor da ICAR em Moçambique veio ulular contra o uso do preservativo e com a treta da castidade e da abstinência, toda a beatada defendeu o senhor.

Que era uma campanha contra a ICAR repetir as palavras do alucinado:

"dois países europeus estão produzindo camisinhas com vírus de propósito" "para acabar o povo africano".

Só há um pais europeu que quer acabar com os africanos mas com mentiras: o Vaticano!

Joana disse...

Para os fanáticos da ICAR tudo o que não seja amens às suas palermices é perseguição.

Hoje fiquei irritadissima qundo vi as tretas que outro idiota do Vaticano ululou em Fátima. Se fosse um muçulmano já estava a beatada a gemer "incitação ao terrorismo".

Como o discurso terrorista foi proferido pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano foi apludido.

O anormal do fundamentalista católico incitou as massas cristãs à rebelião contra os "senhores destes tempos" que usurparam o podert aos senhores doutros tempos, o Vaticano.

Quem são estes senhores que não deixam o Vaticano mandar na Europa e contra quem o fanático católico incita a turba? O "mundo da cultura e da arte, da economia e da política, da ciência e da informação" que tem a mania de querer uma sociedade aberta e tolerante.

Anónimo disse...

A Joana não se dá conta que o seu discurso é intolerante?

Joana disse...

Ó anónimo católico:

Acho piada que me venha acusar a mim de ser intolerante quando o segundo da sua igreja veio a Fátima incitar uma rebelião contra a tolerância :)

Mas sou intolerante e muito em relação a todos os que querem acabar com a tolerância, sejam grupos políticos assumidos, como os neo-nazis, ou encapotados. como a ICAR e seus sequazes - tipo o ciliciado Mota Amaral.

Não podemos tolerar os intolerantes e o pessoal tem pruridos em relação aos intolerantes em nome da religião: mandam para a cadeia os neo-nazis mas deixam à solta Bertones e companhia.

Queria ver o que tinha acontecido se um discurso deste género tivesse sido feito por outra pessoa...

Anónimo disse...

Nas Igrejas deviam distribuir Preservativos em vez de hóstias...

Anónimo disse...

Cara Joana:
Deixe-me primeiramente fazer a minha declaração de inexistência de interesses: Não sou católica. Contudo, o discurso veiculado na caixa de comentários, nomeadamente nas suas intervenções, parece-me efectivamente marcardo pela intolerância. Certamente não dignifica a discussão a recorrente utilização de termos como "ulular", ou "beatada" para defender pontos de vista. É que o debate fica imediatamente pervertido.

PS: Quanto ao Vaticano ser o único País Europeu a querer acabar com os Africanos com mentiras, tenho sérias dúvidas. Enquanto por lá houver que roubar, serão múltiplos os "credos" a alimentar o saque.

Elisa Seixas

Joana disse...

Mais manobras de diversão dos católicos, agora pretendendo não o serem :)))

Mas ainda nenhum se pronunciou sobre se acham ou não que é um crime contra a humanidade as mentiras que o Vaticano e seus bispos, cardeais, padres e freiras disseminam contra o preservativo.

Anónimo disse...

Estimada Joana

Se não pode tolerar os intolerantes, enfrenta um grande dilema: como se tolera a si própria?

Tolerar os intolerantes é prova de que se é verdadeiramente tolerante. Se não for assim, é uma máscara para a nossa intolerância. E não me venha com a treta da citação do Popper porque para mim vale tanto como zero.

Acabei de ler uma notícia no Expresso que é, tal como o Criacionismo, um paradoxo muito visto na caixa de comntários deste blogue e que tem como principal personagem a estimada Joana: a intolerância em nome da defesa da tolerância.

A notícia dizia o seguinte: Lawrence Summers foi demitido de reitor da Universidade de Harvard por sugerir que uma possível explicação para o baixo número de mulheres na elite científica americana eram diferenças inatas entre os sexos.

Até aqui tudo parece normal. O que começa a inquietar é que isto aconteceu em Janeiro de 2005 e em Setembro de 2007 um "bando de académicos" (a expressão é de quem escreve a notícia no Expresso) impede Summers de discursar num jantar na Universidade da Califórnia. Como diz quem escreveu o artigo "A capitulação da Universidade da Califórnia perante um bando de académicos intolerantes é uma vergonha que merece ser assinalada e discutida."

Isto fez-me lembrar uma sugestão (não veio da Joana) que vi na caixa de comentários noutro post. Mota Amaral vota contra uma resolução no Conselho da Europa? Aparece logo alguém a sugerir que seja demitido do Conselho de Estado, do Conselho da Europa, etc. Só não o mandam viver para debaixo da ponte porque não têm poder para isso.

A estimada Joana deve reflectir sobre o modo como trata os seus oponentes. Não interessa religião, ateísmo, criacionismo, ciência, o que quer que seja. Está em causa a forma como nos relacionamos com os outros, a tolerância como que os conseguimos escutar ou ler e a forma como apresentamos ou discutimos as nossas ideias.

Aceite o meu conselho porque falo por experiência própria. No passado envolvi-me em discussões acaloradas e atribui sentimentos de intolerância a outros quando, muito provavelmente, era eu o intolerante. Depois de reflectir, consegui corrigir o meu comportamento.

Se eu consegui, a Jona consegui-lo-à de uma forma mais admirável e perfeita do que eu.

Tenha uma excelente noite.

Anónimo disse...

Caríssima Joana:
Entenda como quiser. Poderei repetir ad eternum que não o sou, que insistirá na mesma tecla. Be my guest.
Ainda assim, como não católica que sou, afirmo: é um crime que se insista na condenação do preservativo. Como também o é que se continue a condenar o uso da pílula ou que se continue a vociferar em relação à IVG. Vou mais longe e afianço-lhe que sou totalmente avessa à típica representação da Mulher veiculada pela tradição judaico-cristã (que obviamente não se reduz ao catolicismo). E poderia continuar...
Como disse anteriormente, não sou contra o conteúdo do seu discurso. Discordo da forma como o faz. A não ser que discordar não seja, em absoluto, permitido.

Elisa Seixas

Joana disse...

O António Parente vem com uma tirada muito bonita para defender a sua dama: devemos tolerar a intolerância católica, denunciar os atentados aos direitos humanos do ICAR e seus apaniguados na sociedade civil é intolerância.

Mas que recomenda o António Parente: devemos tolerar também outros intolerantes ou só os católicos?

Devemos tolerar os terroristas islâmicos, os massacres em Darfur, as atrocidades de Mugabe, dos talibans, etc.?

Se aparecer outro Hitler, devemos tolerá-lo?

Anónimo disse...

A Joana não combate os terroristas islâmicos, os massacres no Darfur, as atrocidades de Mugabe, os talibans, etc. Nem é intolerante nem deixa de o ser. Tal como eu. Passa-nos completamente ao lado. Podemos gritar, protestar, mas o mais que conseguimos é produzir ruído. Brincamos ao politicamente correcto, aos tolerantes, aos cientistas, aos religiosos, aos beatos e ateus. Nada mais.

Se aparecesse aí um novo Hitler o que faria a Joana? Saltava para a primeira linha de combate, arma nas mãos, explosivos atados aos corpo, sacrificando a sua vida pela liberdade e pela democracia?

Tenho sérias dúvidas que isso acontecesse. E se esse novo Hitler vencesse o que faria a Joana? Passaria à clandestinidade na blogosfera, mudando o nick para "Etelvina"?

Se "combater" é escrever numa caixa de comentários de um blogue ou acender uma velinha de vez em quando, então todos somos verdadeiros campeões em defesa de um mundo melhor, mais justo, tolerante e melhor.

Será que por cada "beatada" ou por cada "ululam" e outras expressões desse tipo que a Joana escreve na caixa de comentários há menos mortes no Darfur, menos atrocidades no Mugabe, menos um terrorista no mundo?

Concordará comigo que a resposta é "não". E é "não" porque a Joana, como habitualmente faz, procurou desviar a conversa do ponto central do meu comentário: a Joana não tem o direito de chamar intolerantes aos outros quando é mis intolerante do que aqueles que critica.

Quando alguém discorda de si a Joana começa logo com o choradinho da vitimização e com um extremismo que demonstra como é intolerante.

O que lhe tentei dizer é que esse comportamento é errado e que devia reflectir. Como eu o fiz. Se comigo deu resultado, consigo também poderá dar. Tente.

Já tive uma má impressão a seu respeito. Hoje considero-a inteligente e reconheço que melhorou muito a sua capacidade de argumentação. Se perder esses "tiques" de intolerância, será muito mais eficaz. Por uma questão de orgulho não me vai dar razão mas um dia perceberá.

Vou desligar e não voltarei a este blogue antes de quinta-feira. Por isso, não estranhe a ausência de resposta.

Anónimo disse...

Papa João XII

O Papa João XII foi eleito em 16 de Dezembro de 955 e morreu em 14 de Maio de 964.

"Aclamado" como um dos piores papas da ICAR, notabilizou-se por ter transformado as instalações da Santa Sé num bordel.

Ele foi papa logo aos 18 anos, outros atribuem a idade de 20 anos, e, tinha um desinteresse pela parte espiritual.

Teria sido morto a pancadas por um marido traído, que o encontrou na cama, "fazendo amor" com sua mulher
.

Nota: ver versões deste artigo em francês e inglês. A versão em inglês tem um link para List of sexually active popes ...

Anónimo disse...

João XII foi feito papa aos 17 anos. Era o poder temporal que impunha nesse tempo o bispo de Roma, considerado o chefe de toda a Igreja Católica. Foi deposto por um processo canónico, e, logo que pôde, expulsou o seu sucessor e declarou-se novamente papa. Não é certo que tenha morrido nas condições ditas pelo ubíquo, embora o merecesse.

Anónimo disse...

Joana, o seu estilo é apenas seu, e portanto não o vou comentar como já tantos aqui fizeram. Não compreendo como é que usar termos como "ulular" e "beatada" retira força ao ponto essencial, que é aquele em que prefiro centrar-me, uma vez que é de preservativo que fala o post (embora na sua vertente histórica apenas).

E o ponto essencial é que a posição da ICAR parece-me criminosa. Não só eticamente criminosa, como sobretudo legalmente criminosa. Ainda não vi ninguém que a defenda dando a cara "out in the open" senão os senhores do Vaticano, mas esses livram-se do contraditório ao aproveitarem cobardemente o espaço da homilia para não terem de ser criticados. Em mais espaço nenhum se escutam as "bombas" proferidas nesse espaço. E depois quem critica são esses perigosos "laicistas" e "laicizados", que se devem revoltar contra esse processo de "laicização".

Eu bato-me pelo fim da hegemonia de direito da ICAR e da religião em geral. E para isso, meu caro António Parente, não é preciso pegar em armas. Isso todos nós podemos fazer na nossa vida, ao ousarmos dizer, por exemplo, que Fátima é uma mentira, que a Concordata deveria pura e simplesmente ser extinta, e que ter padres católicos a benzer escolas é uma violação de um princípio constitucional básico. Essa é uma batalha que se trava até nas mesas de café.

E essa é uma batalha verdadeiramente em nome da liberdade. Liberdade de culto, liberdade de viver sem o espectro da religião constantemente presente, constantemente tentando impor-se como verdade nas nossas vidas. A religião em dado momento histórico pode até ter-nos sido útil, mas hoje é, no mínimo, contra-producente aos seus próprios rigores morais. Dentro de suas casas, quem quer que siga o credo que mais lhe aprouver. Mas o espaço público tem de ser o espaço da pluralidade, não um espaço onde a fé é intocável. A religião só pode estar presente nas vidas de quem a aceitar explicitamente. Isso sim é liberdade.

Ricardo

Anónimo disse...

Então Anóminos, Antónios Parentes, Alefs e companhia, deixem lá o estilo da Joana (que na minha opinião é muito light para as barbaridades que alguns fundamentalistas grunham - sim é a palavra que quero usar aqui - por este forum) e escrevam aqui preto no branco a vossa opinião sobre a posição da Igreja Católica sobre o uso do preservativo e as implicações dessa posição nos milhões de vidas (mortes) por essa África fora (e não só).

Vá, quem é o primeiro?
(Isto é que é importante discutir não é o estilo da Joana)

Cumpts

Anónimo disse...

Hugo, essa é das acusações mais irracionais que se fazem à Igreja Católica. A "proibição" só se refere a católicos casados e às relações matrimoniais.

Anónimo disse...

???!!!

Se um casal de namorados (ou um homem e uma mulher que casualmente ficam juntos) passa(m) umas noites no bem bom o que aconselha a Igreja Católica?

Abstinência e tudo e tal?

Santa ingenuidade (hipócrisia)! Isso não existe (quase).

E que tal aproveitar o facto da Igreja chegar a práticamente todas as aldeias Católicas de África para ajudar a salvar milhões passando a palavra de que se não consegues a abstinência usa pelo menos o preservativo?

Não, claro que não, isso é pecado e pagarás com a morte Africano mal informado que só tiveste o azar de nascer num local onde a informação não chega. E bem podes agradecer à Santíssima Igreja olhar para o lado e lavar as mãos como que a dizer que isto não é nada comigo (como o Pilatos que tantas vezes a Igreja chama...)

Mesmo usando o melhor eufemismo de todos a minha adjectivação a esta inacção não pode ser escrita num espaço público! E pelo meu círculo de amigos tenho a certeza que não sou o único a pensar assim.

Cumpts

Anónimo disse...

Hugo, repito que a recomendação só se destina a casais católicos casados. As relações fora do matrimónio são consideradas ilícitas, e, portanto, a Igreja nada tem que ver com a forma como aconteçam. É uma desculpa ridícula atirar para cima da Igreja o que acontece em África. E lembre-se de que, só na Ásia, onde a Igreja tem fraca implantação, um quarto das vítimas da SIDA recebe assistência de organismos católicos.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ilicitas claro é aí mesmo que quero chegar!
MORRE INFIEL! MOOOOORRE!

Obrigado pelo seu esclarecimento e por confirmar que a Igreja não tem nada a ver!

Pobre Africano, se o teu motor aquecer o mais certo é morreres, porque o aquecimento é ilicito! PECADO! MORRE infiel MORRE!

Isto sim é IRRACIONAL ó Sá!

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...