terça-feira, 2 de outubro de 2007

Não, sr. secretário de Estado

Não é nosso hábito, nem vai passar a ser, publicar artigos aqui publicados alhures -- e ainda para mais em jornais nacionais, como o caso do Público ao qual este blog está associado. Todavia, o artigo de Maria Filomena Mónica publicado no passado domingo merece a mais ampla divulgação possível. Aqui está:


Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem aparecido na televisão e até no Parlamento, o mesmo não sucedendo ao seu secretário de Estado, Valter Lemos. É pena, porque este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário. Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação. Eis os resultados a que cheguei.

Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University. A instituição não tem o prestígio da vizinha Harvard, mas adiante. O facto é ter Valter Lemos regressado com um diploma na "ciência" que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas.

Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de "projectos e missões do Ministério da Educação" e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo.

Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial n.º 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por "doutor", título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum. Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes.

Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não. Deixemos isto de lado, a fim de analisar a carreira política do sr. secretário de Estado.

Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que a função de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de Castelo Branco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor, onde terá sofrido o vexame de quase ter perdido o mandato de vereador por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu por o assunto ter sido resolvido pela promulgação de uma nova lei.

Em resumo, Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação, nunca fez um discurso digno de nota. Chegada aqui, deparei-me com uma problema: como saber o que pensa do mundo este senhor?

Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem. Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação. Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico. Eis a epígrafe escolhida: "Quem mais conhece melhor ama."

Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na "medição" da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes.

Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como "skill cognitivos". Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias "grelhas de análise". Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno "interrompe o professor", se "não cumpre as tarefas em grupo" e se "ajuda os colegas".

Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo "Diferencialidade":

"Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste."

Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal "índice de dificuldade e o de discriminação de cada item". É ela a seguinte: Df= (M+P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente.

O mais interessante vem no final, quando o actual secretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião,

"tais afirmações escondem muitas vezes, [sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes "desculpas de mau pagador", sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal".

Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância. Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes:

"Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo."

O sábio pedagógico-burocrático dixit. O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras.

Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior de três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas "ciências exactas", não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro.

Maria Filomena Mónica

35 comentários:

Anónimo disse...

Daqui saúdo a Professora Maria Filomena Mónica pelo contributo deste artigo no combate (onde atingiu as estrelas do generalato, de há muito)sem tréguas contra a mediocridade de medidas levadas a efeito no âmbito da Educação. E na denúncia corajosa dos seus subscritores numa manifestação de cidadania de louvar e incentivar. Venham daí outros textos que iluminem as trevas que desceram sobre este pobre país que não merece um secretário de Estado, de seu nome Valter Lemos.

Anónimo disse...

Rectificação: Onde escrevi "não merece um secretário de Estado", queria escrever "não merece a desdita de um secretário de Estado".

Anónimo disse...

"ouvem-se, por vezes, os professores dizer que"

'ouve-se' e não "ouvem-se", ó sr Valter, cozinhado à pressa para a educação, lá pràs bandas do tio sam, olho de coruja, se não de parvo, que já ali vem, mas, que se quer, a ministra gosta assim e o 1º, pretensioso e em bicos de pés, tamém, oh, vão é pò carago, todos, que lá passem mal ò bem...!

safardana

Anónimo disse...

Caro anónimo: não é «ouve-se», é ««ouvem-se». «Se», nesta frase, não é sujeito, mas sim partícula apassivante e por isso o verbo concorda com «os professores».
Neste pormenor o senhor Válter não errou, apesar de mal saber escrever e de ser um gabiru tão arrogante como medíocre.

Authors disse...

Jose Luiz, nao concordo. Quem ouve os professores eh outrem que nao gosta do que ouve. Os professores nao se ouvem a si proprios! Ouve-se seria o correcto.

Anónimo disse...

eh, os professores ouvem-se, uns aos outros, os apartamentos vendem-se, uns aos outros; e eu digo que é "ouve-se", a gente, um tipo ouve os profs a falar, um e outro, vários, em conjunto, numa babilónia e romaria, alegres de lá terem um tachista de secratairo, Mr. Valter, de equações sobre o sexo dos anjos em avaliação!

e é "ouve-se", caro José Luís, que o dizem gramáticos, o Jacinto Prado Coelho e eu!

samantha

Anónimo disse...

tamém digo, um gajo ouve cada uma, que se ouve os professores pelos corredores, na sala deles e ouve-se alunos, já, a dizer, assim, barbaridades tais que corariam meu pai, se os ouvisse (será ouvissem?), que eu já nem digo a... não é nada, mãe!

zé ricardo

Anónimo disse...

mas, sim, eventualmente, os profes ouvem-se uns aos outros, outras vezes não se ouvem, de tão amestrados que são!

sinthomatic

maga.pata.logika disse...

Sinto-me plenamente esclarecida (ou estarrecida?) quanto à opinião dos comentadores deste post ao assunto que a Maria Filomena Mónica aqui abordou...

Magda

Anónimo disse...

Caros anónimo e msoareses, não é questão de concordar ou não concordar, é mesmo questão de certo e errado. «Vende-se apartamentos» está errado, «vendem-se apartamentos» está certo. «Ouve-se» professores está errado, «ouvem-se professores» está certo. O «se» é aquilo a que os gramáticos chamam uma partícula apassivante, isto é: «ouvem-se professores» equivale a «professores são ouvidos.
Vocês podem dizer que é «ouve-se». Os gramáticos não dizem nem nunca disseram tal coisa, e Jacinto Prado Coelho daria voltas na campa se soubesse que lhe atribuíam tão estapafúrdia afirmação.
Há um site excelente onde estas questões podem ser esclarecidas (ou «se podem esclarecer» - cá está de novo a partícula apassivante): chama-se Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e pode ser facilmente encontrado pesquisando no Google.

Bruce Lóse disse...

Caro Rerum Natura,

Conhece-me já o bastante para saber que sou casmurro como um portão e não é fácil encontrar-me na circunstância de ler um texto e pura e simplesmente mudar de ideias. No entanto, este parecer de Maria Filomena Mónica (como muitos outros) deu-me ao espírito um arejo e alegria que me vai brotando na cara ao ler, quase como se alguém zurzisse por mim, finalmente, um eterno pilha-galinhas. E vou dizer do que gostei mais:

-"(...)este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário. Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação." Aqui estamos a falar de jornalismo. Quando alguém se enerva, salta da cadeira e com três pancadas faz melhor do que uma manada de jornalistas atrelados em parelha à carroça do patrão, estamos conversados.

-"O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras". De facto não são, e custa-me vê-los argumentar neste blogue como se fossem. Julgo que um bom professor não deixa de o ser por causa de um mau ministério.

"Visitas ao Poder" à parte, obrigado a Maria Filomena Mónica. Como não sou bom em palavras, olhe, estava capaz de lhe aspirar o carro.

Authors disse...

Jose Luis,

Obrigada pela sugestao do
Ciberduvidas porque eh na realidade um tesouro importante para melhor saber/entender as regras da lingua portuguesa.

Contudo continuo a nao concordar, e posso, porque continuo a achar que ouve-se eh mais correcto do que ouvem-se. Nao fui eu sequer inventei o dilema, os proprios peritos nao estao em total acordo.
Verifiquei a informacao que refere a particula apassivante "se" e penso que nao eh a mais aplicavel neste caso se comparado com o exemplo "vendem se casas vs. vende-se casas". Se se "apassivar" esse exemplo: as casas sao vendidas. No caso dos professores: os professores sao ouvidos por alguem (nomeadamente o Valter Lemos). E aih sim pode dizer-se tambem "ouve-se os professores". Dado que nao ha consenso sobre o assunto eu penso que na situacao em que VL usou a palavra "ouve-se" torna a frase mais precisa.

Filipe Moura disse...

Não estou aqui para defender o secretário de Estado. Não posso, e mesmo que pudesse não me apeteceria. Também não simpatizo minimamente com "técnicos de educação".
Mas a Maria Filomena Mónica bem merecia que alguém fizesse uma "investigação" ao seu currículo. Essa de "Boston University" que não é Harvard diz muito sobre a senhora. No Instituto dela, onde estava completamente isolada antes de se jubilar, toda a gente conhece a sua produção científica irrelevante e quase nula. Mas, pronto, é doutorada em Oxford, e Oxford não é Harvard mas também não é a Boston University...

Convinha só esclarecer a Prof. Maria Filomena Mónica, que é de Humanidades e sabe muito bem pôr vírgulas, que a Biologia não é nenhuma "ciência exacta", e que se há área científica que tem razão de queixa dos "técnicos da educação" é a das ciências exactas.

Anónimo disse...

Concordo com o Filipe Moura que "se há área científica que tem razão de queixa dos "técnicos da educação" é a das ciências exactas.
". Perfeito! Mas a Filomena Mónica, apesar de ser da área das Humanidades, não deixa de ter alguma razão e espírito arguto, neste caso.
Ela escandaliza-se por haver pessoas com tão baixo currículo académico em funções tão determinantes na vida das instituições.
Eu sei bem o que isso é!
No meu sítio há professores coordenadores (politécnico, claro) que são simples licenciados, nunca fizeram investigação na vida e estão a gerir (muito mal) o futuro dum grande número de pessoas e a fazer a vida negra a quem é ou está em vias de ser doutorado.
Isso existe!
Deve ser impensável para docentes do IST, por exemplo, acreditar, mas é assim. E não é assim tão longe...
O que não falta por aí é valter lemos...

isoclinica

Anónimo disse...

O que é um facto é este senhor ter feito carreira numa Escola de Educação a formar professores e agora fazer carreira a despedi-los

Anónimo disse...

As Escolas Superiores de Educação não formam, deformam.

Anónimo disse...

"vendem-se" apartamentos está certo, diz o Zé Luís

"ouvem-se" professores está certo, diz o Zé Luís

"vende-se" prostitutas está certo, diz o Zé Luís

e está doido, não por ser mau, porque não e ainda é teimoso

de modo que, na dele, "vendem-se aparmatentos é que os aparmatentos se vendem a si mesmos; não é alguém que os vende e diz no anúncio:

"vende-se apartamentos, ou apartamento, ou casa, ou carro ou o rayo que seja, isto é, alguém vende isso, eu, por exemplo!

e c'os profs na mesma:

"ouvem-se profs dizer que (por acaso, na dele deve ser "dizerem", e são pois os profs que se ouvem uns aos outros, como se do contexto da frase do tachista do valter, que foi aos states buscar um curso rápido de educação, que a ministra logo gostou, pa fazer arco, bandeira, com'ò 1º ministro, presunçoso dessas coisas de fitas, como se do contexto da frase do tal valter do chão se infira que não é ele, presuntivamente ou outro por ele, a ouvir tais coisas, mas os mesmos professores, que, todos à uma, chamando-o à parte, ó valterzinho, tá-nos òvindo?...

só que ainda aqui era o pobre do zé, oco, valter do chão, tachista, a ouvi-los e, então, havia de dizer: oiço, oigo, ou eu e quemquer ouve e, logo, ouve-se, ó Zé Luís, tá a òvir isso?

no caso das putas, sim, e daí virá a confusão, caray, "vendem-se" putas, que é dizer, putas vendem-se, as putas vendem-se a si mesmas, caro ou barato, e às vezes ainda é o chulo que vende, retornando à primeira: "vende-se putas", que já está certo!

samantha

Anónimo disse...

e está doido, não por ser mau, porque não 'sabe' e ainda é teimoso...

assim é que é!

samantha

Anónimo disse...

José Luiz Sarmento tem razão.
Foi recentemente publicado pela ed. La Fabrique, da autoria de Julie Roux, o livrinho
"INÉVITABLEMENT (après l'école)"

Onde se pode ler, o que também se passa pelas terras lusitanas:

"Ce ne sont ni les luttes corporatistes ni les réformes ministérielles qui nous débarrasseront de cette école-là. À ses persécuteurs bienveillants qui lui demandent « comment l’enfant Ernesto saura-t-il lire, écrire, compter ? », Ernesto répond : « I-né-vi-ta-ble-ment. »"

Anónimo disse...

Pois explica o José Luís:

"O «se» é aquilo a que os gramáticos chamam uma partícula apassivante, isto é: «ouvem-se professores» equivale a «professores são ouvidos."

palmas, palmas, palmas, descobriu a apassivante e, transformando a frase em passiva, tropeça no raciocínio, inocente, sem saber e dar por isso, pois, veja o que diz, amigo:

«ouvem-se professores» 'equivale a «professores são ouvidos"!

e ora analisemos a frase segunda, à latina, antiga, assim transformada em passiva:

suj: os professores (diz bem JL)
pred: são ouvidos
agente da passiva: por quem?

e conclui, ignaro, inocente, portanto, "ouvem-se os professores (...)" está certo, que o sujeito é professores, pelo "se" apassivante...

ó José Luís, o "se" "apassivante" que você diz, atraiçoa-o, aí, visto ser o sujeito activo da frase "ouvem-se professores", em que estes são o complemento do verbo ouvir, com o sujeito da acção em "se", que é que "ouve" "os professores", na frase do sacratairo valter, ele mesmo, tachista, formado nos states, à pressa, e deformado em Língua Portuguesa!

o agente da passiva (agente, de acção) é que age, no caso "ouve" (pred.) "os professores" (objecto e compl. direc. do verbo, na forma "ouve" (3ª pessoa do sing.)...

não tira de os professores se ouvirem uns aos outros, o que é coisa diferente e que já mal acontece, se, com tais secratairos, à pressa, se "emburra" os professores!

samantha

Anónimo disse...

"ó José Luís, o "se" "apassivante" que você diz, atraiçoa-o, aí, visto ser o sujeito activo da frase "ouvem-se professores", Não, mas "ouve-se professores":

Suj. "se"
Pred. "ouve"
Compl. directo (objecto da acção de ouvir): "se" (a gente, quemquer, um valter qualquer da silva)!...

samantha

Anónimo disse...

e quemquer erra, senhores,

que na pressa de dizer, como valter, saiu erro, e assim é que vai a análise da frase "ouve-se professores", diferente de "ouvem-se professores" (errado):

Suj.: "se" (a gente, quemquer, um valter qualquer da silva)
Pred.: "ouve"
Compl. directo (objecto da acção de ouvir): "professores"

e tá feito!

samantha

Anónimo disse...

Samantha, nessa frase a palavra «se» parece sujeito, mas não é. Se não tiver uma gramática à mão, vá ao Ciberdúvidas e veja se o que eu estou a dizer é ou não é correcto.
A «partícula apassivante» não é invenção minha nem expressão minha: é o nome que se dá em todas as gramáticas a esse «se».
Se não acredita em mim, vá ver.
Se daqui a algumas décadas se tornar habitual entre os falantes cultos dizer «ouve-se professores» em vez de «ouvem-se professores» e «vende-se apartamentos» em vez de «vendem-se apartamentos, os gramáticos terão de deixar de chamar partícula apassivante ao «se» e chamar-lhe outra coisa qualquer - provavelmente pronome pessoal. Mas por enquanto a norma culta é a que descrevi acima.

Anónimo disse...

tem razão em parte, amigo, no exemplo "as p... vendem-se", em que o "se" é a partícula apassivante de que lhe falam gramáticas, a significar "as ditas vendem-se", sim, elas vendem-se, efectivamente, a si mesmas!

já nos casos paralelos,

vende-se melões, cães, T1 e T2...,
verá aos poucos a correcção, como já se vê, por esse Portugal abaixo.

E o mesmo se diz da nossa frase:
"ouvem-se os professores dizer (...)", que é erro, pois deveria dizer-se: "ouve-se os professores dizer (...)",

exacto como suspeita:

"se" (pron. pessoal), sujeito
"ouve", predicado
"os professores dizer (...)", compl. dir., incluída a oração relativa integrante, iniciada em "que" (conjunção que, exacto, integra, ajunta o que se ouve dizer aos profs, que dizem (...), tendo-se, aqui:

sujeito, professores
pred., dizer (no infinitivo)
compl. dir. "que", o que eles dizem, tal e tal, a questão que preocupa Valter Lemos...

tá vendo?
mas na primeira oração o sujeito é enfático, expresso no pron. pessoal "se"!

grata pela atenção, sem teimar em convencê-lo, felicidades,

samantha

Anónimo disse...

Com tanta ciência da educação, pouco adianta ouvi-los, de qualquer forma não se percebe nada do que dizem.

guida martins

Anónimo disse...

bah, disont le de cette maière:

"Quelques fois on écoute les professeurs dire que (...)

on écoute, a gente ouve, uma pessoa ouve os professores dizer que tal e tal...

mentira, os professores não sabem niente, nicles, cést'a dire, rien de tout, e o Sr valter da educação é que lá sabe, como se vê da missa toda!...

agora, sim, fica entendido!

Walter

Anónimo disse...

Samantha,
Que confusão vai nessa cabeça! De todas as frases que deu como exemplo, «as putas vendem-se» é a única em que «se» não é partícula apassivante, porque é pronome reflexo. Elas vendem-se a si próprias, está a ver? Não são objectos passivos da transacção: são sujeitos activos (ou pelo menos esperamos que o sejam na maior parte dos casos).
Já os melões, os cães, os apartamentos, etc. não se vendem a si próprios. São vendidos. Por quem? Por um vendedor? Por vários? Não sabemos: o agente da passiva está omisso. O que não admira, visto que uma das funções da voz passiva é permitir a omissão do agente, por este ser desconhecido ou irrelevante. Assim, quando vou na estrada e vejo um cartaz a anunciar a venda de apartamentos, é irrelevante para mim saber se «o Quim vende apartamentos» ou se «o Quim, o António, o José e a Marta vendem» apartamentos. Basta-me saber que são vendidos (verbo no plural), que alguém os vende (verbo no singular porque o pronome 'alguém' só tem singular) ou se se vendem (verbo no plural pelas razões já sobejamente explicadas.
Compreenda uma coisa, por favor: o que eu estou aqui a fazer não é a emitir uma opinião: é a ensinar-lhe um facto. Em todas as frases que você deu como exemplo, excepto uma, «se» é considerado uma partícula apassivante, isto é: uma partícula que transforma o objecto da acção em sujeito gramatical. (A excepção é aquela em que você chama partícula apassivante à palavra «se» numa frase em que ela é pronome reflexo.)
Esta estrutura existe não só em Português, mas também em Castelhano e julgo que em Italiano, mas não tenho a certeza porque não domino esta língua. Não existe em Francês, Inglês nem em Alemão, línguas em que a indeterminação ou irrelevância do agente se exprime por outros processos (os sujeitos indeterminados «on» e «man» em Francês e Alemão, respectivamente, e em Inglês a possibilidade de a passiva ser directa ou indirecta).
Uma língua, sendo muito mais do que uma máquina, tem muito em comum com uma máquina. Se você confundir a bomba injectora do seu carro com a panela de escape, e as trocar, o carro não anda. Se começa a trocar as peças da língua, ela começa a funcionar mal e pode acabar por não funcionar de todo.

rresende disse...

Ninguém reparou que a fórmula Df= (M+P)/N é uma imbecilidade? Resume-se apenas à percentagem de alunos que respondeu mal, ou seja Respostas Erradas/Respostas Certas. O que só diz alguma coisa sobre a dificuldade da pergunta se, [sic de novo] comparada com as restantes perguntas.

Anónimo disse...

Agora gostava de ler esta discussão gramatical à luz da TLEBS...

Conseguem?

Anónimo disse...

Caro Pedro B.,
Não consigo discutir esta questão à «luz» da TLEBS e não há grande razão para que o queira fazer, uma vez que se trata apenas duma terminologia. Se aquilo a que se chama «partícula apassivante» de acordo com a terminologia clássica passar a ter outro nome de acordo com a TLEBS, nem por isso deixará de ter a mesma função...

Anónimo disse...

"Já os melões, os cães, os apartamentos, etc. não se vendem a si próprios. São vendidos. Por quem? Por um vendedor? Por vários? Não sabemos: o agente da passiva está omisso. O que não admira, visto que uma das funções da voz passiva é permitir a omissão do agente, por este ser desconhecido ou irrelevante. Assim, quando vou na estrada e vejo um cartaz a anunciar a venda de apartamentos, é irrelevante para mim saber se «o Quim vende apartamentos» ou se «o Quim, o António, o José e a Marta vendem» apartamentos."

o Zé Luís diz bem:

vende-se apartamentos,
concerta-se sapatos,
faz-se penhores,
canta-se o fado (uns a seguir aos outros),
concerta-se escapes,
tira-se escalpes
e faz-se trinta por uma linha...

vai tudo no singular, porque alguém o faz, como bem diz, indo o verbo no singular, como não atinge, por um erro comum da expressão livre popular

como em tu dissestes (outro exemplo dessa incorrecção), que não faz mal a ninguém

mas ouve-se profs dizer que... qualquer coisa, isso ouve, como o ouviu o Valter e não faltará quem mais quem oiça, bastando-lhe ter ouvidos...

até despois!

samantha

Anónimo disse...

A exposição de José Luiz Sarmento acerca do "se" apassivante está correctíssima. São várias as fontes que podem ser consultadas e acrescento mais uma: "Dicionário de erros e problemas da linguagem" de Rodrigo de Sá Nogueira. Já agora, Samantha, quando dá o exemplo dos sapatos, julgo que queria usar o verbo "consertar" e não "concertar".
O problema de Valter Lemos não é o currículo, mas sim a sua incompetência como Secretário do Estado. O problema do país, na realidade, é a absoluta leviandade cívica relativamente à Educação. Só num país tão despreocupado é possível a Educação nunca ter sido uma prioridade em trinta anos de democracia.

Fernando Nabais

Anónimo disse...

meus senhores, no caso da frase em questão, o que se "ouve" é, simplesmente, "dizer"

"ouve-se dizer que"... tal e tal

que na passiva se transforma em
"é ouvido dizer"

e ainda, no caso, aos "professores"

mas o complemento do vervo "ouvir", aqui transitivo, é dizer (qualquer coisa), num todo expressivo de "os professores dizer"

e então, "ouve-se os professores dizer"...
sujeito indeterminado, "se"
pred., "ouve"
compl. dir., "os professores dizer que" tal e tal,
em performance linguística de substrato semântico equivalente a
"ouve-se" o que é dito pelos professores = ouve-se dizer, pelos professores

i. é., os professores dizem e a gente, um homem, quemquer que tenha orelhas, ouve-os dizer

pois "ouve-se os professores dizer"

e o verbo no plural "ouvem-se" é o erro de usoem que incorre muita gente, como "vendem-se apartamentos" e que tais, do género

mas o sujeito de "ouve-se os professores dizer que" não é "professores", não, mas o indeterminado "se", um qualquer, a exigir o verbo, não de outro modo, que é erro, no singular!

mas, sem dúvida, ó Fernando, a samantha, minha prima traiu-se-se no "concerto", por apreciar tanto Mozart, quero crer, que o foi embrulhar no "conserto" dos sapatos...

e qualquer um erra, como também o meu primo Valter na frase que pretendia escrever:

"As vezes, ouve-se professores dizer que não goastam deste sacratairo, mas, olha, lá aguentem, que ser professor, por si só, não prova ter esperteza maior e, caso queiram crescer, sejam finos, vão à América aprender educação num mês ou três"!

Walter

Anónimo disse...

As Escolas Superiores de Educação estão cheias de mestres de bosta, perdão, de Boston. E pior, ainda, são os novos dominadores da área da Psicologia e Ciências da Educação: totalitarismo!

Anónimo disse...

e o post da maria filomena mónica?bom não é?

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