sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LIVROS DE CIÊNCIA?


Minha crónica no "Sol" de hoje:

O Expresso decidiu recorrer à consultora Gfk para obter uma lista de livros mais vendidos. Esta empresa revelou, porém, que não era credível ao publicar no jornal de 3 de Dezembro um top 10 de livros de ciências encabeçado por Astrologia e Guia do Amor 2012, de Paulo Cardoso (Livros d’Hoje), Pai-Nosso que Estais na Terra, de José Tolentino Mendonça (Paulinas), e Do Eu Solitário ao Nós Solidário, de Frei Fernando Ventura e Joaquim Franco (Verso de Kapa). A lista fecha com Dia-a-Dia com os Anjos, de Marta Cabeza Villanueva (Pergaminho). A Gfk mostrou não fazer a mínima ideia do que é a ciência. A astrologia, embora se queira fazer passar por ciência, é pseudociência. Religião também não é ciência, como concordarão decerto tanto o Padre Tolentino como Frei Ventura.

Quanto ao conteúdo do livro Dia-a-Dia com os Anjos, nem é pseudociência nem religião, mas algo delirante. Basta ler como o livro (que inclui 50 cartas de jogar) se apresenta: “Os Anjos são mensageiros divinos, seres de luz constituídos por energia superior. Estão sempre presentes na nossa vida, guiando, apoiando e protegendo-nos; normalmente, fazem-no através da organização de acontecimentos nas nossas vidas, criando aquilo a que chamamos «coincidências». Mediando entre a divindade e o homem, os Anjos ajudam-nos a criar um mundo melhor. Este livro convida-nos a aprender como «jogar» com os anjos.” Trata-se de um livro de auto-ajuda, mas, como muitas obras desta índole, não passa de fraude grosseira. Se a astrologia procura pontes para a astronomia, macaqueando-a, alguns destes livros procuram pontes para a religião, macaqueando-a. São pseudoreligião, portanto. O mais curioso é que a Gfk tenha colocado no topo dos livros de não-ficção a obra O Céu Existe Mesmo, de Todd Burpo e Lynn Vincent (Lua de Papel). A consultora não faz ideia nenhuma do conteúdo dos livros que indica, pois bastar-lhe-ia ter lido um excerto da sinopse – “Foi em 2003 que o pequeno Colton, sentado na sua cadeirinha no banco de trás do carro, começou a falar sobre os anjos que o tinham visitado durante a operação à apendicite aguda” – para ter colocado este livro à frente dos seus “livros de ciência”.

Os leitores querem um top 5 de bons livros de ciência de autores nacionais? No Natal que se avizinha, ofereçam aos outros ou a si próprios, não interessando a ordem, Casamentos e Outros Desencontros, de Jorge Buescu (sobre matemática, na Gradiva), O Grande Inquisidor, de João Magueijo (sobre física, na Gradiva), Haja Luz!, de Jorge Calado (sobre química, na IST Press), Uma Tampa para cada Tacho, de Francisco Dionísio (sobre biologia, na Bizâncio), e A Aventura da Terra, de vários autores coordenado por Maria Amélia Martins-Loução (sobre geologia, na Esfera do Caos). Boas leituras!

3 comentários:

Cláudia S. Tomazi disse...

Apenas Ciências.
Diria que é mais desafiador do que irreverente, porém, lógico e a quem entenda como lógica a ciência, então é uma questão de neurociência, e se é ciência humana é simpático ou parassimpático, sendo cada qual com um denominador comum:

Os anjos passam a ser ciência do ponto de vista do assombro enquanto metafísica ou diríamos entropia? Porém, diria mais. E em ponto de vista sem ser acadêmico, é claro, como humanos medianos, mergulhamos tão fundo que é necessário ter o aval da consciência, poderíamos traduzir como uma lei de imersão (se é que existe) por nos vermos elementos, enquanto verdade em analogia da identidade do subconsciente. Ouso dizer que somos reféns da ciência, queiramos ou não, principalmente pela religião.

Se astrologia não é em termos uma ciência, há quem estude por ciência e há de se reformar a astronomia a começar pela antiguidade, partindo da premissa dos maias ou dos egípcios, e com relação à irreverência justifico o raciocínio de modo simples:

Astrologia
Astromania
Astromiopia
Astromongia
Astronomia

E apenas certificamos que tem uma distancia razoável, e diria que falta um trabalho meticuloso em termos científicos de “Astrogênese” um tema fantástico a nível de costas largas Stein, e que em termos de futuro como ciência é investigar matematicamente envolvendo e dilactando muito a física.

Jogar com os anjos é hilário!
Seria uma espécie de sortilégio?

Por onde andará Feynman...

Luís Silva disse...

Interesses Fiolhosas à parte diga-se que "O Grande Inquisidor" não é um livro sobre física mas uma má pequena história de um físico e o "Haja Luz!" de Jorge Calado, que um excelente cientísta e pessoa, é uma conversa muito ligeira, e pouco erudita, sobre a história da química. Em ambos casos, jamais poderão ser considerados como livros de ciência. Excepto - é claro - para quem contabiliza como artigos científicos colunas de opinião em jornais.

jose disse...

A fundação das religiões está na experiência mística dos seus "fundadores". Concordaria que o dito livro nada tema ver com "religião enquanto instituição", mas é falácia chamá-lo de pseudo-religioso, visto que abordam a experiência do numinoso pelos autores (a presença de seres de luz, como anjos, é uma experiência do numinoso). O texto deveria ter se limitado à pseudo-relação do livro com ciência (no que eu concordo), mas claramente os autores têm uma visão religiosa puramente institucional.

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