sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LIVRARIA ESPERANÇA


Ainda há esperança para as livrarias tradicionais. Sempre que vou à Madeira, como fiz na semana passada, não posso deixar de ir à Livraria Esperança, bem no centro do Funchal (Rua dos Ferreiros, 119 e 156, há uma sede e uma sucursal, em frente uma da outra, a sucursal é bem maior que a sede), que é uma das maiores livrarias do mundo: tem 106 000 livros expostos em 1200 metros quadrados. Guiou-me pela velha mansão, onde de modo labiríntico, se expõem as capas de todos os livros (muitos pendurados de forma curiosa nas paredes, de modo que alguns têm de ser "pescados" com uma cana), o feliz proprietário, o Senhor Jorge Figueira de Sousa, que fez 80 anos a 21 de Novembro. A livraria remonta a 1886 e foi do avô e do pai. Como o Senhor Sousa e a sua esposa, que lá continuam a trabalhar todos os dias, não têm filhos, foi criada uma Fundação, com participação dos empregados, para assegurar o futuro da livraria. O proprietário não se esqueceu de me mostrar o belo tecto da sala onde estão os lirvos de história e a vista para os telhados o Funchal da sala dos livros de Direito. Os livros de divulgação científica estão ao subir das escadas, quem vai da história para o direito.

A eficiência é garantida e pude testá-la. Não vendo o "Puta que o Pariu!" (biografia de Luís Pacheco, da autoria de João Pedro George, saída na Tinta da China) nos livros mais recentes à entrada (onde estava, claro, o meu e do David Marçal "Darwin aos Tiros e outras Histórias de Ciência", que esgotou no editor), perguntei por ele. A "Puta que o Pariu!" não estava ainda no catálogo electrónico, mas apareceu logo, às ordens do Senhor Sousa, pois estava numa caixa de livros novos chegados há pouco. Vendeu-mo logo, ao contrário do que já me aconteceu noutros sítios, onde me dizem que têm ainda de "dar entrada" aos volumes. Perguntei por um título raro que andava à procura "Os Filósofos e a Educação", de Anite Kechikian (Colibri, 1993) e, claro, apareceu logo. Na Livraria Esperança há esperança de encontrar os livros esgotados, ou melhor ditos esgotados. Vim, como é costume, carregado de livros. Até lá encontrei obras minhas que em todo o lado se dizem esgotadas... Enquanto estiver o Senhor Sousa à frente da Esperança, há esperança de os encontrar pois cada livro vendido é imediatamente reposto com pedido à editora. Isto é o "Darwin aos Tiros" só deixa de haver quando nse vender o último e a editora não tiver nem mais um para mandar. Só assim se consegue manter a maior livraria de fundos portuguesa.

Muitos parabéns Senhor Sousa! Por sua causa é sempre um gosto ir ao Funchal. Se o leitor não puder ir, pode encomendar os livros por correio electrónico, e passado quase nada tem a garantia, dada pelo Senhor Sousa, de ter o livro em sua casa, pelo preço de capa mais o custo do correio. O Senhor Sousa conta a história de um livro pedido num dia e que estava na casa do cliente, para grande espanto deste, no dia seguinte.

3 comentários:

Anónimo disse...

Bem... como colocar esta questão...

Por um lado, tudo o que diz no seu artigo é totalmente verdade. Eu próprio tenho encontrado na Livraria Esperança livros que estão esgotados há muitos anos. Por outro lado, é inegável o papel cultural que esta livraria tem tido para a Madeira e a sua importância.

Mas agora vem a pior parte: não sei se já deu por isso mas a LE é praticamente a única livraria da Madeira? Pois é, é que o senhor JFS não deixa que exista mais nenhuma. Tem acordos leoninos com todas as editoras para não fornecerem mais ninguém na Madeira. E se alguém quer vender livros na ilha, estes têm sempre que passar pela LE. E a Fundação... todos sabemos para que servem: pagar menos impostos e lixar o Estado.

Lamento, mas tudo o que digo é pura verdade e pode confirmá-lo com qualquer madeirense que esteja ligado aos meios culturais.

Rolando Almeida disse...

Caro anónimo, o que diz é completamente falso. O Funchal tem a Fnac, que é uma boa livraria, tem duas Bertrands que, apesar de pequenas servem bem o exíguo mercado insular e ainda tem algumas outras livrarias mais pequenas. É verdade que na Esperança se encontram títulos há muito esgotados, mas no meu caso sempre que posso evito comprar lá os livros pois os mesmos são dispostos de tal forma que os livros ficam estragados e não é do modo como fazem que se arrumam livros. mas bem haja a Esperança.

Anónimo disse...

Caro Rolando, peço desculpa então pelo meu erro. Realmente eu já não vou a Madeira há mais de 15 anos.

Mas garanto que a situação no passado era essa e muitos colegas meus se queixavam disso. Mas pelos vistos foi preciso virem esses grandes grupos para que se conseguisse abrir mais livrarias.

Desde já agradeço a sua rectificação e aqui fica o meu pedido de desculpas.

Nada me move contra a LE, entenda-se, mas no passado sempre ouvi muitas queixas contra o monopólio desta e da forma como impedia que outros se estabelecem no mesmo ramo.

Até um ex-colega meu que queria abrir uma livraria na UMa acabou por desistir do projecto quando viu as editoras todas a recusarem-lhe o fornecimento e o obrigarem a "abastecer-se" na LE.

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