Crónica primeiramente publicada no "Diário de Coimbra".
O ano de 2011 foi generoso em livros de autores portugueses dedicados à divulgação de ciência. Digo até mais: 2011 deu à estampa alguns volumes que vão ficar (já estão) na galeria dos melhores livros de sempre de divulgação de ciência em língua portuguesa.
O Ano Internacional da Química, celebrado em 2011, foi pretexto para a preparação e lançamento de algumas dessas obras, dos quais dois são, na minha opinião incontornáveis. “Haja Luz!- Uma história da Química através de tudo”, de Jorge Calado, saiu com a chancela da Imprensa do Instituto Superior Técnico e fica como volume imprescindível e de referência sobre a história da Química na e da humanidade. Impressionante.
A celebração este ano do centenário do modelo de Rutherford para o átomo, trouxe à luz do dia um livro que esperou 150 anos para conhecer a sua tradução para o português e que, apesar de o texto original pertencer a autor estrangeiro, a sua publicação só foi possível pelo empenho e investigação de autores e investigadores portugueses, que enriqueceram o original quer com a qualidade da tradução, quer com as anotações que acrescentam informação preciosa para o leitor. É ele: “A História Química de uma Vela”, de Michael Faraday, com tradução e anotações de Sérgio Rodrigues e Maria Isabel Prata, com prefácio de Sebastião Formosinho. Publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, reúne algumas das lições populares de Faraday na Royal Institution de Londres que ficaram.
Acrescento a esta lista a "Breve História da Química", de Regina Gouveia, um texto sobre alguns marcos da história da química em forma de texto para teatro infantil, em poesia, na continuação da tradição iniciada por Rómulo de Carvalho/António Gedeão. Foi publicado pela editora 7 dias, 6 noites.
O ano de 2011 fica também marcado pela edição de um há muito aguardado “Dicionário de Geologia”, da responsabilidade de A.M. Galopim de Carvalho. Publicado pela editora Âncora, incluo este volume pois não há boa comunicação de ciência sem que possamos ter instrumentos que descodifiquem os conceitos, por vezes mais complicados e herméticos, que resultam da actividade científica e da comunicação dos resultados entre investigadores.
Neste contexto, mais precisamente em disciplinas derivadas da geologia como a geoquímica e a geofísica, destaco dois livros: “Estas máquinas chamadas Mundos”, de Eduardo Ivo Alves, sobre a formação dos planetas, publicado na Imprensa da Universidade de Coimbra; “A Aventura da Terra – Um planeta em evolução”, de vários autores, coordenado por Maria Amélia Martins-Loução, sobre a evolução geológica do planeta, mas também sobre a da vida que nele emergiu, publicado pela Esfera do Caos, e que compagina um conjunto de textos oriundos de um ciclo de conferências e de uma exposição com o mesmo título.
Enquanto o nosso planeta se aproxima à velocidade de cerca de 30,2 km/s do local na sua trajectória elíptica em redor do Sol em que o nosso calendário muda de ano, ainda há tempo para ler o livro “Pelo sistema solar vamos todos viajar”, de Regina Gouveia, uma poesia escrita para os mais novos sobre o sistema solar editada pela Gatafunho.
A “Vida no Universo”, livro editado pela Gradiva e escrito por João Lin Yun sobre a procura de vida fora da Terra, mas que é também uma reflexão sobre a natureza e consciência Humanas e a existência de Deus. É uma leitura oportuna que permite dotar o leitor como os elementos suficientes para um balanço sobre a astrobiologia, uma vez que 2011 foi um ano recheado de descobertas de planetas candidatos a albergarem formas de vida como a que conhecemos.
Num ano em que a partícula subatómica neutrino surpreendeu muita gente, o físico português João Magueijo ofereceu-nos uma magnífica biografia sobre o físico italiano Ettore Majorana, que postulou a possibilidade da existência do neutrino, e cuja vida atrai por misteriosa como também foi o seu desaparecimento: “O Grande Inquisidor”, editado pela Gradiva é um dos livros incontornáveis de 2011.
Na deixa da biografia anterior, é obrigatório sublinhar a publicação de uma biografia sobre o nosso único prémio Nobel português nas ciências, Egas Moniz, escrita maravilhosamente por um outro incontornável neurocirurgião português, João Lobo Antunes. Trata-se do livro “Egas Moniz. Uma biografia”, publicado pela Gradiva.
Resultado de um conjunto de conferências coordenadas por Maria de Sousa (Prémio Universidade de Coimbra de 2011) emerge o volume “Migrações: das Células aos Cientistas”. Publicada pela Esfera do Caos, este livro permite-nos aceder a diversas perspectivas multidisciplinares sobre o fenómeno da migração, desde os microorganismos até ao Homem. É um livro muito interessante, sobre um dos denominadores comuns da vida que é a sua permanente exploração do espaço que a rodeia.
É também nessa exploração que se manifestam os mecanismos que galvanizam a evolução da vida e que geram diversidade. E foi o fascínio pela diversidade da vida neste planeta que levou Francisco Dionísio (um matemático e físico que migrou para a biologia molecular) a escrever “Uma Tampa para cada Tacho – Conflitos Genéticos e Evolução”. Neste livro, publicado pela Bizâncio, muitos factos do dia-a-dia devidos a conflitos genéticos são explicados pelo autor, um excelente divulgador de ciência, numa linguagem rigorosa, simples e cativante.
Esta minha lista de livros de 2011 ficaria incompleta sem a referência a dois livros publicados no último trimestre pela Gradiva: “Darwin aos Tiros e outras Histórias de Ciências”, de Carlos Fiolhais e David Marçal e “Casamentos e Outros Desencontros”, de Jorge Buescu. Se o primeiro nos revela histórias da ciência insuspeitas e muito divertidas, o segundo apresenta de uma forma que equilibrada o rigor matemático e a transmissão do seu entendimento por todos, num tom muito humorado e subtil característico de Jorge Buescu. A divulgação da matemática contemporânea, que é substância de inúmeros aspectos do nosso quotidiano, ficou mais rica e mais acessível a todos.
Ressalvo, antes de acabar, de que o ano de 2011 acolheu muitos mais livros de divulgação de ciência do que aqueles que aqui ficaram indicados. As escolhas são sempre subjectivas e incompletas e naturalmente lembrar-se-á o leitor de outros volumes que aqui não foram mencionados. Agradeço que os acrescente.
António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
4 comentários:
Excelente, António!
Tenho que ganhar competências de leitura rápida para poder pôr tanta leitura em dia.
Fico muito feliz ao ver o panorama português borbulhar de atividades de comunicação e com cada vez mais cientistas a prestarem esse serviço essencial.
Espero também estar a dar um singelo contributo.
Venham mais!
Faço minhas as palavras da Diana e acrescentaria, talvez, dois "livros" à lista.
São eles: "Nós e a Ciência" (que é uma coleção de divulgação de Ciência constituída por 20 fascículos e que está a sair juntamente com o jornal "Público") e "Caminhos de Ciência" (de um excelente divulgador de Ciência português - António Piedade).
Tal como João Calafate, à lista onde tão generosamente foram incluídos dois livros meus, acrescentaria Caminhos da Ciência, um excelente livro de divulgação.
Regina Gouveia
Partilho da opinião do João e da Regina. Percorri a listagem à procura de "Caminhos de Ciência". Embora perceba porque não está aqui, fica mais uma referência com isenção e imparcialidade a um trabalho notável.
Felicito o António por ter apresentado um ano rico em escrita e divulgação científica, pela sua escrita, mas sobretudo por ter dado um novo caminho à comunicação e divulgação de ciência. Parabéns a estes e todos os autores que escreveram sobre ciência de forma rigorosa e cativante. A ciência chega assim a todos, de forma mais fácil e compreensível. Um bom ano de produção literária e escrita científica para todos os autores.
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