sábado, 17 de dezembro de 2011

O Modernismo português representado por Pessoa

Soube-se ontem: Eduardo Lourenço foi o 25.º distinguido com o Prémio Pessoa. Do filósofo e ensaista, deixamos um extracto de uma conferência proferida na Fundação Calouste Gulbenkian, em 5 de Fevereiro de 1975, intitulada Da literatura como interpretação de Portugal (De Garrett a Fernando Pessoa).

"Entre outra coisas, o Modernismo português - e em particular o representado por Fernando Pessoa - desejou ser não apenas invenção e recriação de uma nova sensibilidade e visão da realidade (aquela que o chamado mundo moderno estava pedindo), mas igualmente uma metamorfose total da imagem, ser e destino de Portugal. Estas duas perspectivas nem se opõem, nem se adicionam uma à outra. Procedem ambas de uma única inspiração. O acesso e a consquista de uma nova visão do mundo, implica e procede de uma revisitação em profundidade do que Pessoa, na sequência de Pascoaes, chamará a alma nacional. O modernismo é para Fernando Pessoa uma questão que ele tem ao mesmo tempo com o mundo em que vive e com Portugal, mas por sua vez Portugal apresentou-se-lhe cedo como enigma objectivo com o qual há muito a consciência nacional se debate. Desde jovem que ele pretende, novo Édipo, encontrar a resposta que, mais tarde, sob transparente arquitectura, será para nós o Templo da nova imagem de que necessitava para ter uma pátria cujo centro estaria em toda a parte e a circunferência em parte alguma. Se a resposta de Pessoa é aqule que a enigmática realizada lusíada estava pedindo é assunto que ficará de fora do nosso horizonte. O nosso propósito é somente o de mostrar que a utópica preocupação de Pessoa pelo ser e destino histórico-mítico de Portugal se insere num contexto e num processo mais antigo e vasto, processo a que de algum modo põe termo, diluindo em gesta flutuante, em evasão celeste, a blocagem histórica de um povo sem destino terreste definido e convincente."

In: O labirinto da saudade (Publicações Dom Quixote), pp. 79-80.

2 comentários:

António Bettencourt disse...

Pois, cá está precisamente o grande problema da obra de Eduardo Lourenço: misturar História com Literatura e tentar fazer uma leitura da história através da literatura (não é o caso deste excerto que é de apreciação literária). Eduardo Lourenço e outros como ele passaram a vida à procura de algo que nos caracterizasse como povo, de uma característica comum. O que qualquer pré-licenciado em História sabe é que tal coisa não existe. Portugal é um país diverso, as gentes são diversas, o que até a Genética veio comprovar. Por vezes esta gente parece que não leu o Orlando Ribeiro nem o Leite de Vasconcellos e que continuam com ideias de História do tempo da outra senhora.

Anónimo disse...

"O labirinto da saudade" ou... "Nos labirintos da saudade"? JCN

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