Com a devida vénia transcrevemos a crónica de Santana Castilho no "Público" de hoje:
Penso ter sido Tolstoi que disse ser a liberdade uma consequência, que não um fim, e que não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade.
No Carnaval que passou aconteceram coisas bizarras, que mostram quão longe estamos de ser uma sociedade livre e uma democracia adulta. Recordemos: uma directora famosa calcou com a bota cardada do poder uma decisão legítima do Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura; uma procuradora zelosa censurou, rápida, a sátira que desagradou a um cidadão beato; e um corajoso golpe de mão de polícias incultos apreendeu livros, como outrora. Tudo em nome dos bons costumes e a bem da nação. Ora a grotesca ousadia destes pequenos chefes só é possível porque o grande chefe encoraja laboriosamente o "quero, posso e mando". E é isso que tornou o caricato sério e deve mobilizar a nossa atenção.
O plano de actividades das escolas é um projecto sujeito a alterações. Tem carácter previsível, que não taxativo. Serve de orientação da acção pedagógica, a qual pode e deve ser corrigida em função da avaliação continuada do Conselho Pedagógico. Porque o órgão próprio decidiu suspender o desfile carnavalesco dos alunos nas ruas e alguns pais não gostaram, a excelsa dona da DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) não hesitou. Puxou pela cabeça e proibiu a presidente do Conselho Executivo de prestar declarações à comunicação social. Puxou pela autoridade e enviou para a escola, primeiro uma, depois outra, duas falanges de intimidação (onze agentes, no total). Puxou finalmente pela pena e, no inenarrável estilo literário que lhe conhecemos, escreveu este belo naco de prosa de "novas oportunidades":
"A confirmarem-se as notícias vindas a público sobre a suspensão de actividades previstas no Projecto Educativo e no Plano de Actividades dessa Escola, e na salvaguarda primeira das obrigações da escola - cumprir a sua missão de processos de socialização e de aprendizagem para os alunos, razão central porque definiu as actividades de Carnaval nos documentos de acção educativa anteriormente referidos.
Tomando por base estes pressupostos, determino:
...
3. Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável, ..."
A insigne directora sentiu-se certamente uma grande chefe e educadora quando viu os seus subordinados professores, amordaçados e algemados, acompanharem os alunos na mais importante actividade educativa do ano: o desfile carnavalesco pelas ruas da urbe.
Esta chefe é a chefe durona que tentou meter nos eixos o professor Charrua, quando ousou dizer "uma graça sobre o primeiro-ministro de Portugal". Esta chefe é a chefe generosa que viu uma simples "brincadeira de mau gosto" no aluno que, em plena aula, apontou uma pistola de plástico à cabeça da professora. Esta chefe é a chefe erudita que, a propósito do Magalhães, nos legou mais este lanço antológico:
"... 3. Em Janeiro, deverá ser marcado um dia em que as crianças devem trazer os Magalhães, para iniciar o trabalho casa-escola.
4. O pagamento dos Magalhães, nos casos em que a isso os pais sejam obrigados, estão a receber informação por sms devendo, em todas, constar a entidade 11023; ..."
Esta chefe é a chefe disciplinadora que se ufanou, ao Diário de Notícias, de já ter instaurado 778 processos disciplinares.
Esta chefe é a chefe documentalista que me vai fichar porque hoje a trouxe à crónica. Esta chefe está a um passo da comenda, eu sei. Mas já é tempo de a DRENar.
Santana Castilho, Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
quarta-feira, 4 de março de 2009
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1 comentário:
1- Quem escreve do modo ininteligível como a senhora chefe escreve, não serve nem para estar na portaria de uma escola a atender fornecedores.
2- A graçola entre a sigla DREN e o verbo drenar é fácil e de efeito tão óbvio, que é indigna do autor do artigo.
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