Sobre a cobertura mediática da Conferência Gulbenkian 2007 que se realizou a 25 e 26 de Outubro no Auditório 2 da Fundação, deixamos os nossos leitores com a opinião de Luís Alcácer.
Ao ler textos de jornalistas sobre ciência, pergunto-me, quase sempre, se os artigos sobre outros assuntos, como economia ou política, são igualmente inexactos e tendenciosos.
Vem isto, a propósito do artigo do Expresso de sábado, 27 de Outubro, de Virgílio Azevedo, àcerca da conferência Gulbenkian sobre os limites da ciência [1]. Ao publicar apenas a entrevista a John Horgan, um jornalista polémico, como ele próprio diz, e ignorando a opinião da maioria dos cientistas presentes na conferência, está este jornalista a prestar um mau serviço à sociedade. Porque não fez também uma entrevista a Freeman Dyson, por exemplo? Teria uma opinião global e esclarecida, e que, creio poder afirmar, partilhada pela grande maioria dos profissionais de ciência, presentes ou não na Gulbenkian.
John Horgan não tem formação científica. O próprio George Steiner, considerado um dos expoentes máximos da cultura europeia, revela uma enorme ignorância dos assuntos científicos ao enunciar as causas da crise actual da ciência, como rebateu Freeman Dyson.
Qualquer profissional de ciência, e chamo profissional de ciência a qualquer pessoa, que com a formação e os instrumentos adequados, perscrutou a natureza, quer seja um teórico, quer seja um experimentalista, em qualquer domínio científico, não terá muitas dúvidas em reconhecer que a ciência não tem limites, nem se afigura que venha a ter falta de assunto.
Os cientistas não questionam os limites da ciência como disse João Caraça, no início da sessão final da conferência. Os obstáculos que se colocam à sua continuidade advêm da ignorância, iliteracia e indiferença dos políticos, dos "media" e de grande parte da sociedade, e sobretudo da crescente onda de irracionalidade, fundamentalismo e superstição que paira sobre nós, e de que são exemplo, os comentários deste "blog". A ciência tem reivindicado, durante um longo período, a capacidade de prever o futuro, ou seja, é um substituto dos deuses, e parece que este facto não tem sido bem aceite, disse também João Caraça. Deve ser isso que assusta os criacionistas e fundamentalistas!
É provável, diria mesmo, quase certo, que a ciência, tal como a conhecemos, venha, mais tarde ou mais cedo, a dar lugar a uma nova época de obscurantismo, com eventuais grupos de "empresas" ou "gurus" detentores únicos do conhecimento científico e tecnológico, secreto, que fornecerão os "telemóveis" e os "gadgets" de então, limitando-se o comum habitante do planeta ou talvez até, apenas uma pequena elite, a utilizá-los como objectos mágicos.
A sociedade quer ouvir dizer mal da ciência, como quer ouvir dizer mal de tudo! É da natureza humana, como qualquer cientista do comportamento, melhor do que eu poderá explicar. E os "media" oferecem à sociedade as notícias que ela quer ouvir, salientando sempre os aspectos negativos e omitindo os positivos.
Um jornalista sem formação científica dificilmente poderá falar de ciência, com conhecimento de causa. É preciso experiência vivida. Felizmente existem alguns, com formação científica ao mais alto nível que escrevem sobre ciência de modo esclarecido e não têm a arrogância de ignorar a opinião dos profissionais de ciência. Em Portugal não conheço nenhum. Diz-se por vezes que a culpa é dos cientistas que falam uma linguagem hermética, com arrogância, e não divulgam o seu trabalho junto do público. Muitos não serão bons comunicadores, mas também não lhes são dadas muitas oportunidades.
Só alguém que se tenha embrenhado nas equações da teoria da relatividade poderá entender o que é o espaço-tempo. Só alguém que tenha estudado em profundidade e nos seus aspectos formais (matemáticos), a teoria quântica, poderá entender o que Heisenberg queria dizer com o que, indevidamente, como ele próprio reconheceu, é conhecido como "princípio de incerteza". No entanto, meio mundo fala de relatividade nos mais diversos contextos, e muitos invocam, levianamente, o princípio de incerteza, sem fazer a mínima ideia do que estão a dizer — e não só nas bem achadas metáforas ou figuras literárias à Agustina e Manoel de Oliveira.
[1] A Ciência Terá Limites? (post no De Rerum Natura)
Nota: uma versão um pouco mais curta deste texto foi enviada ao director do Expresso.
Luis Alcácer
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25 comentários:
Esta critica deveria chegar a toda a gente. E todos deveriam meditar nela.
Compreendo o que quis dizer, mas o seu texto esta' fraquinho.
Podia esclarecer o que quer dizer com "fraquinho"?
No seguinte sentido: Será possível ser mais objectivo?
Obrigado
Caros,
Estes comentários são hilariantes. "fraquinho"??? Será a mania formalista de que se deve escrever de modo muito rebuscado sem dizer nada de relevante para a vida dos leitores? Que raio de mania!! O texto diz o que diz e a ideia, seja mais ou menos discutível, é absolutamente clara. Mas esta gente odeia a clareza porque, como já se referiu neste blog muitas vezes, usam a linguagem para se afirmarem. E quem precisa de adornos, títulos e demais formalidades para se fazer notar é porque não tem nada de genuinamente autentico para partilhar com os outros.
Rolando Almeida
Gostaria de saber, caso venha a ter alguma, qual a resposta do Director do Expresso.
Obrigado
«Só alguém que se tenha embrenhado nas equações da teoria da relatividade poderá entender o que é o espaço-tempo.»
Será isto realmente verdade? Fico parva com tamanha ingenuidade! Compreendo que seja preciso simplificar o discurso, mas lá alguma coisa as pessoas entendem acerca do espaço-tempo, mesmo sem Einstein. Ou não? Ou aquilo que entendem é errado? Errado, então, em função de que padrões de correcção? OK, não percebo nada de física, mas será a física a única área do saber que lida com este assunto?
Adelaide Chichorro Ferreira
"Compreendo o que quis dizer, mas o seu texto esta' fraquinho"
Na minha opinião, se o dito anónimo entendeu o texto, é porque ele está brilhante. Afinal, um bom texto é aquele que faz a mensagem circular entre emissor e receptor com o mínimo de perdas de conteúdo. Acho, aliás, incrível que perante uma questão tão relevante se venha fazer uma crítica parva formal. Não admira que seja anónimo. É apropriado sê-lo porque segue uma tendência nacional de opinar por tudo e por nada. Vai-se dizendo umas coisas nuns blogs, fica-se satisfeito, e pronto. Enfim...
Recentrando a questão, parece-me que há algumas perguntas que merecem resposta. Deverão os jornalistas passar por um processo de aprendizagem das matérias sobre as quais se pronunciam? Isso não implicaria uma quase especialização dentro dos domínios do jornalismo?
Será que basta que os jornalistas tenham bom senso e tentem ser objectivos, passando ambos os pontos de uma questão tentando mostrar o mínimo de inclinação possível, ou será que essa objectividade é meramente idílica? Será melhor ser-se realista, e exigir apenas aos jornalistas que afirmem publicamente a sua agenda política (como em certos casos nos EUA), e passemos a saber o que defende aquela pessoa cada vez que nos reporta algo?
Estes são os ponto que gostaria de ver discutidos, porque não me parecem fáceis nem tenho respostas para eles.
Ricardo
Caro Ricardo,
atrevo-me a responder-lhe. O que o texto do postal sugere é a ileteracia científica que vivemos, servindo-se do exemplo do Jornalista. A gravidade do jornalista é que centenas de pessoas vão aprender o pouco que saberão de ciência a partir do artigo dele. E é isto que está em causa. E a ignorância científica vai tão longe que até nem compreendemos muito bem que problema é que aí se coloca. Mas é grave que uma sociedade esteja desprovida de conhecimento científico. Essa gravidade começa na escola e no sistema educativo português, que é científicamente coxo, mas fulminantemente minado pelo discurso pós moderno. Isto vai a ponto de se poder discutir numa aula de biologia se é possível ou não conversar com plantas.
até breve
Rolando Almeida
iliteracia, perdão
Parece que Enstein também não compreendeu muito bem Galileu.
Isto parece muito provincianismo pretender que todos conheçam o "requinte" da ciência, acaso saberá o senhor tocar violino com o mesmo requinte dos músicos profissionais ( duvido muito ).
No fundo, não quero dizer nada, mas não me parece que o requinte esteja reservado ao público em geral, senão aos profissionais.
"«Só alguém que se tenha embrenhado nas equações da teoria da relatividade poderá entender o que é o espaço-tempo.»
Será isto realmente verdade? Fico parva com tamanha ingenuidade! Compreendo que seja preciso simplificar o discurso, mas lá alguma coisa as pessoas entendem acerca do espaço-tempo, mesmo sem Einstein. Ou não? Ou aquilo que entendem é errado? Errado, então, em função de que padrões de correcção? OK, não percebo nada de física, mas será a física a única área do saber que lida com este assunto?"
Por definição, a física ( juntamente com a matemática) é a área do saber que lida com este assunto.
Se é a única a fazê-lo, por certo não é. Mas é a única que nos permitiu ao longo dos séculos desvendar os mistérios deste assunto e dar grandes saltos conceptuais na sua compreensão.
Quanto ao certo e errado, depende do aspecto.
Por exemplo. A teoria de Newton de que o espaço-tempo é absoluto, está errada. O tempo não passa de forma igual para observadores em pontos diferentes num campo gravitico, por exemplo.
Só conseguiremos compreender isso se analisarmos as soluções das equações de Einstein.
E quando as analisamos não nos saem estas palavras. Saem-nos ideias. Ideias que na sua forma mais pura, por vezes, não conseguimos expôr noutra linguagem que não a da equação.
Neste sentido só a análise detalhada e pessoal das equações, nos dará a sua profunda compreensão. Não é um conhecimento que possa ser transmitido por um jornalista ou por um divulgador.
É fruto de esforço e dedicação pessoal.
O trabalho de qualquer jornalista de ciência ( em particular de física e matemática ) deveria ser primeiro o de passar esta mensagem: A própria mensagem que estão a transmitir não deve ser levada à letra e é fruto de uma interpretação de algúem, que interpretou a equação ou o resultado do formalismo matemático. Não é a totalidade do que está contido nesse formalismo.
Parece-me que o grande problema é que as pessoas estão habituadas a ter tudo de forma rápida e sem pensar muito. As noticias de ciências sociais podem ser, modo geral, dadas desta forma. Por que aí tudo são interpretações. Parece-me que é fácil aí mandar bitaites sem que pareçam muito descabidos.
No que toca ás ciências exactas, e refiro-me particularmente à matemática e à física, o público tem que perceber que não pode ter essa rapidez na compreensão e assimilação dos tópicos noticiados.
Cada resultado é normalmente fruto de muitas horas, dias, anos de trabalho, em coisas que às vezes são pequenas subtilezas para o próprio investigador especializado.
Qualquer jornalista de ciência deveria assim ter como Lema de Trabalho, esta constante preocupação de evidenciar esta dificuldade na comunicação das ciências.
A notificação desta evidente dificuldade deve obviamente ser dada de forma apelativa e até usada de forma constructiva.
Para além disso, qualquer jornalista de ciência deveria passar a mensagem de que em ciência, não bastam ter umas noções curriqueiras e qualitativas sobre um dado assunto.
anónimo,
Não se trata de saber que tocar violino é ou não acessível. Trata-se de saber se o seu ensino é ou não possível? Mas como raio chegou um violinista a profissional do violino? Não foi, aprendendo? De certeza que há niveis diferentes para se tocar violino, o mesmo acontecendo para a ciência. Imagine o mundo se a matemática fosse um saber reservado somente aos profissionais!!! Aliás, basta ler um qualquer livro de Carl Sagan para contrariar completamente o seu ponto de vista. Mas é claro que a ciência é ensinável a toda a gente, desde as crianças até aos adultos. Agora não queira começar pelo mais complexo. Um dos autores deste blog, Carlos Fiolhais, tem livros belissímos do ensino da ciência. E são livros desses e professores empenhados que podem fazer com que muitos miudos hoje se venham a interessar pela ciência amanhã. Isto é elementar. Toda a obra humana é ensinável, toda, sem execpção. Pensar que há obras que não se ensinam é partir do pressuposto errado que muitos seres humanos que não estão capacitados a aprender. O que varia são as condições de aprendizagem. e as condições tem a ver, mais uma vez, com as políticas educativas de um sistema de ensino. Nada mais simples, a menos que nunca tenhamos pensado muito no assunto somente porque vivemos numa cultura que habitualmente não tem este tipo de preocupações.
Fui claro?
abraço
Rolando Almeida
Caro Rolando
Nunca quis dizer que não são ensináveis.
Quero antes dizer que não são ensináveis de forma rápida e directa, como algumas outras coisas o são.
No caso do violino você consegue ter a noção do que é uma melodia bela. Consegue ter noção mínima da complexidade da composição que está a ouvir.
Em ciência não há essa capacidade simplesmente porque as pessoas não estão habituadas aos seus sons, à sua linguagem
Talvez esta analogia funcione. É o mesmo que ensinar a um surdo, o que são sons. Ensinar a um cego o que são cores.
Só que em ciência todos nós somos cegos e surdos.
Mais concretamente, pense num cego velho a ensinar a outro cego novo o que é uma cor.
E atento nas suas palavras:
"Toda a obra humana é ensinável, toda, sem execpção."
Não sei se concordo consigo.
O que quer dizer com ensinar? Uma pessoa transmitir o conhecimento a outra?
Repare que uma coisa é a transmissão da informação. Outra, completamente distinta é o processo de aquisição de conhecimento.
A informação pode ser transmitida. Quanto ao conhecimento tenho várias dúvidas.
Por experiência própria, parece-me que só o investimento pessoal de tempo e dedicação a ponderar uma certa informação, e a manipulação pessoal dos dados, poderá produzir conhecimento.
Esse é outro aspecto e é extremamente importante evidenciar na comunicação de ciência.
Em particular é importantissimo notar isso quando construímos um sistema educativo. Infelizmente em Portugal, parece-me que os responsáveis não sabem fazer a distinção.
Pena que as exigências para com a "erudição" do público não se apliquem aos cientistas também, isto porque apesar de tudo James Watsocontinua a ser um "bom cientistas" e as tropelias até são "desculpáveis", só faltava alguém pedir desculpas por ele.
Já há muito tempo que decidi não publicar nenhum comentário neste blog.
Nem sei porque aqui estou eu a escrever.
A incoerência também não deve ter limites.
Então, se a questão é "transmitir" ou comunicar a ciência para a público alvo, eu não devo de certeza ser o "público padrão" deste blog.
Para que conste:
http://www.gulbenkian.org/cienciateralimites/bio/Bio_JOHN_HORGAN.pdf
JOHN HORGAN
John Horgan licenciou-se na
Columbia University School of
Journalism em 1983, dedicando-se
ao jornalismo científico e à direcção do Center for Science Writings do Stevens Institute of Technology, em New Jersey. Antigo escritor sénior da revista Scientific American (1986-1997), colaborou com o The New York Times, National Geographic, Discover, Time, Newsweek, The
Washington Post, Slate, New Scientist e outras publicações científicas de todo o mundo. Participa também como blogger no website do Center for Science Writtings (stevens.edu/csw) e no programa semanal Science
Saturday em Bloggingheads.tv.
As suas primeiras duas obras,
The End of Science (1996) e
The Undiscovered Mind (1999),
tiveram um enorme sucesso, sendo
posteriormente traduzidas em
várias línguas. O seu último livro
publicado, Rational Mysticism
(2003), foi enaltecido pela crítica.
Foi vencedor do National Association of Science Writers Science-in-Society Award em 1993 e do Science Journalism Award of the American Association for the Advancement of Science, em 1992 e em 1994.
Recebeu também o Certificate of
Commendation for Outstanding
Reporting on Psychiatric Issues,
atribuído pela American Psychiatric
Association em 1997 e o Templeton-
Cambridge Journalism Fellowship in
Science and Religion, em 2005. Os
seus artigos foram seleccionados para as edições de 2005 e 2006 da The Best American Science and Nature Writing.
Para que conste (2):
http://www.gulbenkian.org/cienciateralimites/bio/Bio_GEORGE_STEINER.pdf
GEORGE STEINER
Natural de Paris (1929), George
Steiner radica-se nos Estados Unidos
em 1940. Nos anos cinquenta foi
membro da equipa editorial do The
Economist em Londres, iniciando a
sua carreira académica mais tarde,
em 1956, no Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de
Princeton. Desde então, Steiner tem
leccionado em diversas universidades
como a de Yale, Oxford, New
York e Genève. Hoje ensina nas
Universidades de Oxford, Harvard e
Cambridge.
George Steiner é membro honorário
da American Academy of Arts
and Sciences e do Balliol College
da Universidade de Oxford. Foi
distinguido como Chevalier de la
Légion d’Honneur pelo Governo
Francês e recebeu também a King
Albert Medal atribuída pela Royal
Belgian Academy.
A sua obra literária é
internacionalmente reconhecida:
entre outras distinções, o autor
recebeu o Truman Capote Lifetime
Achivement Award for Literature em
1998 e o Prémio Príncipe das Astúrias
de Literatura, em 2001.
Entre as obras publicadas, destacam-se
“Tolstoi or Dostoievski: an Essay
in Contrast”, Faber and Faber, 1960;
“In Bluebeard’s Castle: Some Notes
Towards the Redefinition of Culture”,
Faber and Faber, 1971; “After Babel:
Aspect of Language and Translation”,
Oxford University Press, 1975; “Proofs
and Three Parables”, Faber and Faber,
1992; “Errata: An Examined Life”,
Weidenfeld & Nicolson, 1997
A verdade é que este post não passa de poeira atirada aos olhos dos incautos. Primeiro, os Físicos finalmente reconheceram, em público, o óbvio: a Física está em profunda crise. A electrodinâmica quântica é um arrebanhado de hipóteses Ad-Hoc. A teoria das super-cordas tem tanta validade como a Física Aristótélica. A Física quântica ortodoxa foi ultrapassada pelas experiências recentes de óptica quântica. Etc, etc, etc. Foi bom ver.
Em segundo, os físicos ainda não perceberam em que sentido muitas e muitas vezes são utilizados termos que têm a sua origem na Física, nem compreendem que não são donos dos conceitos. É certo que há abusos, mas é garantido que um qualquer astrofísico está menos preparado para entender o que isso do espaço-tempo do que um filósofo que trabalhe os conceitos de espaço e de tempo. O astrofísico sabe operar essa coisa do espaço-tempo, mas nunca o ouviremos a debater-se para compreender o que é isso do espaço-tempo. Logo, essa arrogância de que "é preciso saber fazer as contas para se saber o que significam as equações" é apenas um pobre e triste mito, que revela muitas vezes a pobreza de espírito do físico que a produz.
Caro cp
Repare que um filosofo que realmente "trabalhe" os conceitos de espaço e de tempo, tem necessáriamente de ser um fisico, por definição.
Consegue o senhor dizer-me porque motivo passa o tempo, de formas diferentes, para observadores colocados em pontos diferentes de um mesmo campo gravitacional?
O senhor faz duas distinções: distingue físico de filosofo.
A distinção deveria ser: Filosofo com formação em física e matemática versus filosofo com formação em ciências humanas.
Nenhum filosofo com formação em ciências humanas produziu até hoje resultados e inovações conceptuais na interpretação do que é o espaço e o tempo.
No entanto concordo que nem todos os físicos têm interesses filosóficos.
Outro aspecto:
A física não está em crise.
A mecânica quãntica que é o pilar da física moderna, funciona bem . Tão bem que todos os dias são inventados novos utensílios que nos permitem melhorar a nossa qualidade de vida.
Se me disser que passamos por um periodo menos bom da fisica teórica, aí concordo consigo, com a seguinte correção: Não é a física que parece estar em crise, mas antes a comunidade de físicos e a sua organização.
Tal como foi evidenciado pelo americado Peter Woit nesta mesma conferência.
Para se produzirem grandes avanços, é necessária muita dedicação e trabalho. Trabalho que não se pode esperar de um dia para o outro.
A teoria das supercordas é uma teoria que obviamente será submetida a testes. Se não estiver correcta será então alterada de forma a desbravar caminho para uma teoria melhor. Algumas das suas ideias poderão até vir a estar correctas noutro contexto.
Estou-me a dar ao trabalho de comentar estes textos porque tenho neste momento a responsabilidade de direcção de uma revista de divulgação de física.
Um dos problemas que a revista enfrenta é a determinação do público alvo e posto isso, como atacar esse público.
Queremos encontrar a melhor política de divulgação possível.
Concordo plenamente com o texto do Luis Alcácer e gostaria de ter mais reacções ao seu texto e aos meus comentários, até porque gostaria de aprender melhor qual a posição do público perante estes temas.
Muito Obrigado
Estou completamente de acordo com aquilo que o mrobalo aqui disse. Considero que uma pessoa apenas poderá falar e discutir sobre determinados conceitos se estiver familiarizado com eles. No caso da Física isto significa, claramente, perder tempo a estuda-los deduzindo expressoes cujo significado não é, certamente, fácil de expressar por palavras.
Compreendo, no entanto, a posição das pessoas que aqui deixam os seus comentários, pois penso que uma pessoa que nunca estudou o assunto consiga aperceber-se que realmente não sabe nada sobre o mesmo.
Assim considero de extrema importancia que um jornalista quando escreve sobre ciencia afirme que aquilo que transmite e apenas uma opiniao, isto é, a interpretação do mesmo sobre aquele conceito ou resultado sobre o qual está a escrever.
Estou comprometido com a ciência também por razões profissionais. Portanto, é lógico que não quero ser hostil mas animar o diálogo. Isso não significa juízo acrítico em relação ao pensamento de outros colegas da ciência. Não tenho que ser anti-ciência nem hostil à confraria se disser que é preciso menos arrogância, menos reducionismo, mais interdisciplinaridade.
O pensamento deste texto de Luís Alcácer parece-me pouco profundo porque interpreto que nos quer dizer que há um monolitismo em toda a comunidade científica e que os cientistas profissionais afinam todos pelo mesmo diapasão. Ora, em minha opinião isso não é verdade. Mas sou da sua opinião quando diz:”a ciência não tem limites, nem se afigura que venha a ter falta de assunto”.
As grandes questões que se colocam à ciência actual é a divergência entre cientistas que acham que se deve seguir um determinado paradigma e outros que acham que se deve seguir outro ou outros. O folclore a que temos assistido com religiões, superstições, desvios psicopatológicos e outros disparates pode impressionar mas não passa de espuma. O debate no seio da própria comunidade científica, no que concerne a divergência de paradigmas, está longe de ter terminado. Em minha opinião, seria melhor usar a palavra diálogo e não debate, porque não me parece que haja um só paradigma que tenha razão ou seja possível, para bem de toda a sociedade.
Para muitos cientistas o padrão que nos deve guiar ainda deve ser o paradigma físico. Ora isso não me parece possível. Talvez fosse bom ouvir e estreitar o diálogo com os outros saberes entre os quais me permito mencionar o grupo paradigmático das ciências da vida pró-ético e pró-ecológico. Mais uma revolução na ciência, mais tarde ou mais cedo, terá que acontecer. Há atitudes na ciência que é preciso mudar para que deixe de ser o lastro em que o capital infernal se apoia para dominar e explorar, com a sua cultura industrial negligente, tudo o que vive.
«Repare que um filosofo que realmente "trabalhe" os conceitos de espaço e de tempo, tem necessáriamente de ser um fisico, por definição.»
Por definição?! Um físico, por definição, ocupa-se de áreas como a mecânica, o electromagnetismo, a fisica das partículas, etc, e serve-se de conceitos como «força», «energia», «massa», etc. O conceito do «tempo» não se reduz ao âmbito da física, nem sequer se pode dizer que seja aí que é melhor abordado. É mais uma forma e uma tentativa, entre outras, de explicar esse fenómeno. Heidegger (por «definição», um dos maiores filósofos do século XX) não era nenhum físico e trabalhou a questão do tempo. Aliás, a sua obra mais conhecida chama-se, precisamente, «O ser e o tempo». Até inventou a expressão «espaço-de-tempo» (que nada tem que ver com o espaço-tempo de Einstein) para se referir à unidade formada pelo passado, presente e futuro. Com isto opôs-se àquela visão do tempo que acompanha a fisica, desde Aristóteles, e que concebe o tempo como uma sucessão de instantes que se podem medir e quantificar. Até há quem negue a existência do tempo, como Mctaggart. Enfim, reduzir esta problemática à física mostra, como já alguém disse, que quem trabalha só com equações se calhar nem compreende os conceitos em causa, e nunca terá uma visão global de certas questões, como é o caso da do tempo.
«A distinção deveria ser: Filosofo com formação em física e matemática versus filosofo com formação em ciências humanas.
Nenhum filosofo com formação em ciências humanas produziu até hoje resultados e inovações conceptuais na interpretação do que é o espaço e o tempo.»
Mas que raio de distinção é esta?Um filósofo não se define pelo tipo de formação que tem. Define-se pela sua capacidade em questionar e criar novas concepções da realidade. E mais uma vez afirmo que Heidegger não era físico, assim como não o eram Kant nem Bergson. E no entanto apresentaram concepções distintas e inovadoras acerca do que é o tempo. Por sinal todas elas divergentes da concepção da física passada ou actual. Da tal concepção que tem a sua raíz genética em Aristóteles, e assim o que se poderia dizer é que a física é que não inventou nada de novo neste dominio, limitando-se a reformular um conceito aristotélico. Já agora, uma pergunta retórica: o Desidério Murcho é um «filósofo-filósofo», um «filósofo-cientista-matemático», ou um «filósofo-cientista-social»?
Finalmente, a respeito dos limites da ciência, dizer que não os há é demonstrativo da arrogância que acompanha a visão positivista que muitos cientistas têm da realidade. Nem se apercebem que num mundo reduzido a ondas electromagneticas e «pouco mais», deixa de haver espaço para grande parte dos fenómenos que constituem o mundo e a vida. Dizem-se cépticos, mas afinal estes cientistas são é dogmáticos, pois acreditam que a capacidade da razão (sendo que esta já nem é vista num sentido lato mas no sentido restrito de cientifica), para interpretar e descrever a realidade, não tem limites. Vivem num «sono dogmático», como afirmou Kant, e ainda não constaram, como Wittgenstein, que «há coisas que se mostram mas que não se podem dizer», e que por isso «daquilo que não se pode falar é melhor ficar em silêncio». Porque os «limites do meu mundo são os limites da minha linguagem». Ora, aqui estão algumas citações de um filósofo «com formação em engenharia» que percebeu que o mundo não é feito só de pontes ou máquinas.
-- A não perder na RTP --
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Benfica "está a crescer"
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2007-10-30 08:05:02
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(caros cientistas, deixem-se de onirismos)
Luis,
A ciência tem reivindicado a capacidade de prever o futuro ou tem tentado determinar qual será o futuro?
Quando comenta que "Um jornalista sem formação científica dificilmente poderá falar de ciência", sinceramente não se está usando o "poder da autoridade" ao avesso?
Ora, as críticas devem ser explicadas e pronto. Destituir alguém de fazer questionamentos e críticas me parece pouco esclarecedor e ainda que afirme que a "ignorância, iliteracia e indiferença dos políticos, dos "media" e de grande parte da sociedade" é a ela que cabe, ainda mais, tentar esclarecer ao invés de se melindrar ou atacar.
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