domingo, 13 de maio de 2007

O voo do Andorinhão






O andorinhão é uma ave extraordinária. Migra do sul de África, no início da Primavera, para a Europa onde se reproduz, ocupando cavidades ou construindo ninhos como as andorinhas. Ocupam os nossos céus aos milhares, realizando voos muito ágeis e velozes. O seu nome em inglês ‘swift’ significa, na língua de Shakespeare, rapidez e suavidade de movimento. Um dos aspectos que mais impressiona neste voador especializado é a sua extraordinária aerodinâmica: da forma da cabeça, com os olhos encovados por baixo de uma linha bem marcada de cada lado da cabeça, às longas asas, que definem claramente a sua silhueta, evidencia-se como um voador nato.

Contrariamente ao que muitos pensarão, o andorinhão não é, evolutivamente, um parente próximo das andorinhas. Pertence a uma Ordem própria, a dos Apodiformes. As andorinhas pertencem à maior Ordem das aves: a dos Passeriformes.

Na verdade, o andorinhão faz quase tudo em voo. Passa a vida a voar. Alimenta-se em voo, capturando insectos, dorme em voo, acasala e até copula em voo. Só pousa no ninho para o construir e incubar os ovos. David Lack, um famoso ornitólogo inglês estudou esta ave detalhadamente e verificou que ela consegue mesmo evitar as tempestades antecipando a sua aproximação, embora não se saiba exactamente como. Trata-se de um exemplo de adaptação extrema à vida aérea. Sabe-se que o sono das aves é diferente, em vários aspectos, do sono dos mamíferos – parecendo que metade do cérebro fica meio acordado, em estado de vigilância, para proteger a ave em situações de risco. Ignoramos ainda detalhes de como dormem os andorinhões. Mas, sabe-se que conseguem corrigir a sua posição de modo a acordarem praticamente no mesmo local em que adormeceram. Dormem a grandes altitudes, atingindo os 3000m, para tirar partido das correntes e da grande sustentação das suas asas. Esta extrema adaptação ao voo percebe-se quando temos uma ave destas na mão: as suas patas não servem sequer para se agarrar a um ramo de árvore. E têm dificuldade em levantar voo a partir do chão, dada a extensão das suas asas: com um corpo de 18 cm e envergadura de asas de cerca de 40 cm.

Esta minha nota de ‘história natural’ surge por causa de um artigo recentemente surgido na Nature sobre a aerodinâmica do voo do andorinhão e que constituiu capa da revista. Segundo os autores do estudo, é a geometria variável das asas do andorinhão que lhe possibilita um voo tão versátil e eficaz. Isso já era sabido em parte, mas nunca com o detalhe que se conseguiu agora. Um voo sustentado sem perda de altitude é favorecido pelas asas abertas e com a maior superfície possível. Mas, para curvar rapidamente, as aves reduzem o ângulo entre as pontas, formando um ‘V’, ao mesmo tempo que a sobreposição das penas de cada asa diminui a sua área. E fazem-no em fracções de segundo. Estas aves pairam a velocidade de cerca de 8-10 m/s enquanto que fazem acrobacias a velocidades entre 15-25 m/s.

Os investigadores, através de testes em túnel de vento e construção de modelos matemáticos de voo, chegaram à conclusão que a máxima distância percorrida, com as asas abertas, se consegue a 8 m/s, enquanto que a sustentação máxima se consegue a 10 m/s. Os dados de observação destas aves indicam que elas pairam - isto é, voam sem baterem as asas - a velocidades de 9 m/s, que é precisamente o valor intermédio entre progressão e sustentação. Verifica-se, pois, que os andorinhões voam de forma óptima para a sua anatomia, tirando o máximo partido das condições de voo.

A adaptação dos seres vivos é um fenómeno notável no seu detalhe.

10 comentários:

Ciência Ao Natural disse...

Viva!
Nada como uma história de dinossáurios para se começar bem a semana!

Luís Azevedo Rodrigues

J. Norberto Pires disse...

Excelente.
:)

Jorge Pinheiro disse...

Dantes (há 30 anos) havia muitos em Oeiras. Porque terão desaparecido? A densidade urbanística e a consequente carência de alimento?

Fernando Martins disse...

Como não biólogo, sempre pensei que eram "primas" das andorinhas...

Um dia apanhei uma (antes de ser comida por um gato de rua...) que tinha chocado com um fio (um vulgar fio de secar roupa) na minha aldeia do interior do distrito da Guarda e, pensando que estivesse ferida, levei-a para casa.

Aí retirei da sua plumagem o fio (que não estava preso ao seu corpo...) enquanto a segurava nas mãos (e ela fincava as patas na minha mão...).

Deitei-a a voar da varanda da minha casa e adorei vê-la a voar. Que fantástico animal...!

Anónimo disse...

Não sendo também biólogo, concordo em absoluto com o comentário anterior
-Estes andorinhões, … são mesmo fantásticos!
Uma pessoa vê a sua forma esbelta, a sua presença em voo, a sua aerodinâmica, e depois de ler este post, só pode ter um comentário destes.

Ao ler o post, ocorreu-me uma pergunta que li há alguns dias num comentário deste blog, não me recordo do autor e que era mais ao menos o seguinte: Afinal o que é que os telemóveis têm a ver com os mecanismos complicados de evolução e selecção natural?

Eu, agora, perguntei a mim próprio, mas o que é que os andorinhões têm a ver com aviões?
A resposta pode ser, Tudo! E, nada!
Eu penso que o conceito de artificial que todos nós possuímos e utilizamos é muito ambíguo. É frequente associarmos o termo natural às coisas que a natureza nos mostra ou vai mostrando. E artificial ao que nós humanos fomos ou vamos produzindo. É simples, mas não me convence facilmente. Eu dou exemplos:
- Uma casa, construída com matérias-primas e técnicas é artificial, mas um ninho construído também com matérias-primas e muito engenho, é natural;
- Uma barragem é uma obra exímia de tecnologia para domínio de um elemento natural, mas um castor faz algo semelhante à sua proporção.
-Uma cidade é uma trama complexa de relações entre os seus elementos, mas um formigueiro que vai da Península Ibérica à Rússia também o deve ser e também uma floresta tropical com a sua densa ocupação e alteração de um espaço físico enorme.

Está bem, só o homem faz e manipula artefactos para conseguir estes objectivos, mas muitos outros seres vivos manipulam a natureza para conseguir os seus objectivos, só que, pelos vistos não têm necessitado de manipular objectos.

Se acrescentar que temos uma tendência enorme para imitar a natureza, copiar os seus métodos, para utilizar as mesmas fórmulas e meios, eu sou tentado a pensar que tudo o que produzimos é uma manifestação da natureza. Ou, apesar de tudo, talvez não.

Parece-me que a resolução desta ambiguidade entre natural e artificial poderia ser muito positiva para todo o conhecimento. Mas é só uma intuição, que neste momento nem consigo formalizar.

Parabéns, mais uma vez, pela divulgação de conhecimento.
Artur Figueiredo

Anónimo disse...

apanhei um andorinhão que caiu dum ninho, estava a beira da estrada (a caminho de Colares), ao lado estava um irmão dele..infelizmente atropelado.

É uma ave fantástica. ainda é pequenino, devora insecto e minhocas que caço (sou uma boa mãe). Dorme imenso no fundo da gaiola, onde instalei o modem do computador coberto por um pano (aquilo fica quente e é como se fosse o ninho). quando tem fome trepa a gaiola e pia a pedir comidinha. tem o hábito de me acordar por volta das 5 da manhã...
ponho-o a voar várias vezes por dia e essa é a parte maravilhosa. apesar de ainda não controlar muito bem a aterragem, voa de uma maneira graciosa, uma verdadeira máquina voadora.

em breve vou entrega-lo ao centro de recuperação de aves de monsanto, tenho acerteza que vão cuidar muito bem dele e integrá-lo de novo na natureza

Anónimo disse...

Olá.
Vim agora do Parque Biológico de Avintes onde fui entregar uma ave que eu pensava ser uma andorinha, mas afinal era um andorinhão. Entrou-me em casa pela janela e estava toda amarrada com um fio de nilon, que lhe passava por debaixo das asas ía ao pescoço onde tinha um nó, e dava umas poucas de voltas numa perna. Não percebo como se faz tão mal a uma ave tão indefesa...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Geraldo Guedes disse...

Era véspera de Natal de 2009, estava eu preparando um churrasco para a família, quando ouvi um piado que vinha de dentro da chaminé... muito escuro não consegui identificar...mas não penseu duas vezes, levei a familia pra comer na churrascaria.
Todos os dias eu ia lá olhar, e ficava cada vez mais abismado com aquele passaro e dois filhotes grudados na parede... um dia um deles caiu do ninho, deixei-o lá na esperança que a mãe descesse para alimenta-lo, mas ela não desceu... o filhote era muito estranho, ainda com pouca pena, bico curto e encurvado, unhas longas... ele não ficava no chão, subia pela parede...tentei alimenta-lo com papinha de frutas mas não conseguí...ele morreu... mas enquanto isto seu irmão crescia a cada dia... e um dia eles se foram, e eu fiquei sem saber que ave era aquela. No ano seguinte esperei por ela, mas ela não veio.
Ontem assistindo a um documentário da NatGeo sobre Beija-Flor, fozeram um rápido comentario sobre o Andorinhão, logo reconhecí... era ele.
Corrí para a Internet para saber mais sobre ele, e fiquei encantado.
Espero que um dia ela volte.

Anónimo disse...

Concordo que é uma ave fantástica embora eu prefira de longe a andorinha, mas estes andorinhões apareceram no ano passado por aqui e correram com as minhas lindas andorinhas, além de terem feito ninho no nicho da minha persiana fazendo a maior porcaria até finais de Setembro impossibilitando-me de puxar ou levantar a dita persiana. Qd se foram tive um trabalhão a desmontar e limpar, colando ALA STOP BARREIRA pensando que ñ voltassem a entrar...sonho meu, porque já cá estão novamente. Agora pergunto a quem sabe: que posso fazer para evitar o barulho e "porcaria" que fazem durante estes 5 meses? que fazer para se afastarem da minha persiana?

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