segunda-feira, 14 de maio de 2007

ENTREVISTA SOBRE O MUSEU DA CIÊNCIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


Transcrevo entrevista a Paulo Gama Mota feita pela jornalista Lídia Pereira e publicada hoje no jornal "As Beiras"

Museu da Ciência já teve 10 mil visitantes


Paulo Gama Mota, director do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, fez, em entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS, um balanço dos cinco primeiros meses do projecto instalado no Laboratório Chimico, que já recebeu 10 mil visitantes.

DIÁRIO AS BEIRAS – Aberto ao público há cinco meses, que balanço é possível fazer da experiência vivida no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra?

Paulo Gama Mota – É inevitável dizer que o balanço é muito positivo. Isto em relação ao que acabámos por conseguir concretizar dentro de um prazo razoável e com os orçamentos definidos, quer pela nossa própria avaliação – e essa é sempre um pouco mais crítica –, quer pela apreciação do público, que tem afluído de uma forma muito significativa ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Isso é também o que resulta das impressões deixadas pelas pessoas, no contacto directo com os monitores e pelo que deixam escrito no livro dos visitantes. É muito recompensador perceber que as pessoas gostaram muito da forma como o edifício está, da forma como a recuperação foi feita, mesmo sem o conhecerem antes, achando que é um trabalho de recuperação e qualificação do edifício muito bom. Mas também pelas exposições, pelos conteúdos, pelo carácter interdisciplinar, pela forma como foram combinados os objectos históricos com os elementos interactivos, com tecnologias modernas. Isto desde os visitantes mais exigente até aos outros visitantes, que por vezes não se consideram mas são também muito exigentes, os mais jovens, que apontam para alguns pormenores que mais ninguém faz. A opinião generalizada das pessoas que nos têm visitado é uma opinião muito positiva. E, portanto, ficamos contentes por ter conseguido essa reacção. Ao mesmo tempo, sentimos que a nossa apreciação é sempre mais crítica, porque há uma série de aspectos que gostávamos de ter afinados logo à primeira, há uma série de questões que queríamos ter resolvidas, actividades que já deviam estar a funcionar e ainda não estão, por uma razão ou por outra. Coisas que ainda temos para fazer, até para sentirmos que cumprimos todos os objectivos que nos propusemos realizar.

E que trabalho é esse ainda para fazer?
Nós sempre tencionámos criar ateliês pedagógicos para funcionarem com públicos escolares de diversos graus de ensino e esse é um trabalho que ainda estamos a desenvolver. Agora, a 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, vamos realizar uma série de ateliês pedagógicos dirigidos ao primeiro e ao segundo ciclo do ensino básico. Subordinados ao tema “Experimentar a ciência”, os ateliês serão desenvolvidos com os nossos monitores e faremos uma grande divulgação junto das escolas para que elas possam programar a sua participação.

A prática dos ateliês pedagógicos é para ser feita em permanência?
Sim. É para ser feita em permanência. Bem como as demonstrações experimentais que se pretende realizar em duas sessões diárias. No entanto, este é um trabalho numa fase ainda muito precoce, uma vez que estamos a escolher neste momento as experiências que queremos desenvolver, com a selecção do que tem mais eficácia do ponto de vista das demonstrações, escolhendo a melhor forma de as apresentar, resolvendo algumas questões logísticas e fazendo a formação aos monitores. Os monitores também têm tido uma boa experiência, pelos menos a julgar por aquilo que os visitantes deixam escrito em relação à sua interacção e à forma como têm acompanhado e ajudado os visitantes a explorarem e a conhecerem o museu. Queremos ainda desenvolver actividades viradas para o público adulto, académico ou não, com debates e apresentações de temas relacionados com questões de carácter científico. E estamos a preparar – dentro de algum tempo será anunciado – algumas iniciativas no âmbito da comunicação da ciência. Queremos também desenvolver iniciativas em colaboração com os diversos organismos da Universidade de Coimbra, com os vários departamentos da Faculdade de Ciências e Tecnologia.

Há essa abertura aos diversos organismos da Universidade de Coimbra?
Há essa abertura, claramente. E posso citar um exemplo bem sucedido que organizamos num espaço de tempo muito curto, a Semana do Cérebro, que funcionou muitíssimo bem. Numa semana, nós tivemos mil visitantes a acederem ao espaço do museu, com uma série de iniciativas, muito diversificadas, com muitas pessoas a falarem de questões muito diferentes e com públicos muito diversos também. Correu tão bem, que já estamos a preparar a Semana do Cérebro para o próximo ano.

As exposições temporárias e outras actividades irão sempre versar sobre assuntos que se reflictam directamente na vida das pessoas, numa abordagem feita também para um público mais jovem?
Assuntos que são importantes para as pessoas, para a sociedade e para o nosso futuro, o futuro da vida na Terra. Nós não procuramos ensinar programas escolares, mas é evidente que um museu pode e deve ser um espaço informal de ensino e de aprendizagem. E nós estamos a fazer esforços para melhorar a forma como os visitantes, nomeadamente os professores, podem tirar proveito das suas visitas com os seus grupos escolares, podendo inclusivamente usar o espaço do museu para dar uma aula.

Que públicos visitaram o Museu da Ciência nestes cinco meses e que contabilização pode fazer-se?
Têm visitado o museu todos os tipos de públicos e tivemos já cerca de 10 mil visitantes, um número bastante interessante, tendo em conta o trabalho ainda a fazer com as escolas, as rotinas que é necessário estabelecer com os operadores turísticos e o facto de o museu ter estado encerrado durante algumas semanas para substituir as vitrinas. Temos visitas individuais, colectivas, temos visitas de grupos, sociais, ligados por diversas circunstâncias – por exemplo, tivemos há pouco uma visita de um grupo de antigos estudantes de Engenharia Química, que se reuniram em Coimbra para fazer um almoço e fizeram uma visita ao Laboratório Chimico restaurado e, naturalmente ao museu –, já tivemos também visitas de estudantes de Arquitectura de outras cidades do país, que vieram especificamente por causa da intervenção arquitectónica no edifício, tivemos visitas de muitos grupos escolares, temos muitas visitas de famílias, particularmente ao fim-de-semana, o que significa que a estratégia adoptada de o museu ter um regime de funcionamento das 10H00 às 18H00, de terça-feira a domingo era absolutamente fundamental, porque, de facto, o público que visita o museu ao fim-de-semana é diferente do público que visita o museu durante a semana.

E as famílias são um público importante?
São um público importante. As famílias vêm, têm uma experiência que é rica, divertem-se, aprendem coisas. E naturalmente isso é positivo e é gratificante.

Para lá do trabalho já concretizado ou em vias de ser concretizado, que outros grandes desafios se colocam ao Museu da Ciência?
O primeiro desafio é o continuar a crescer e de trazer mais público. Nós estamos a prever uma série de iniciativas dirigidas a públicos específicos, procurando cativá-los, procurando que eles ganhem consciência da existência do museu. Um outro grande desafio imediato é o da breve constituição da Fundação Museu da Ciência, que irá ser responsável pela gestão desta estrutura, mas também pelo conjunto das colecções da Universidade de Coimbra, que implicará uma série de alterações e que terá como consequência, nomeadamente, a adesão de outras identidades à fundação, que ajudem a garantir o suporte financeiro do projecto. Um terceiro desafio é o início dos trabalhos para a intervenção no Colégio de Jesus, uma vez que faz parte deste projecto e já demos início ao trabalho de preparação das primeiras linhas daquilo que irá ser o conjunto de especificações para se chegar a um grande concurso de arquitectura para aí instalar a parte principal do Museu da Ciência.

E esse é um imenso desafio?
Não será imenso, é maior do que este. Em relação a muitas coisas, a diferença é mais de quantidade que de qualidade. É muito maior em todos os sentidos e há algumas coisas para as quais nós não estamos ainda preparados. Mas grande parte dos problemas com os quais nós nos confrontamos na construção deste projecto – no Laboratório Chimico – não serão diferentes daqueles que iremos encontrar no Colégio de Jesus, sendo que contamos já com a experiência entretanto adquirida, com as coisas que correram bem e os erros que cometemos, para melhorar esse processo. Estes são os três grandes desafios que se apresentam. E em relação a eles é importante o colóquio que irá acontecer aqui no próximo dia 18 – Dia Internacional dos Museus –, dedicado aos projectos estruturantes do ponto de vista cultural, do ponto de vista museológico, de ponto de vista do interesse turístico para a cidade Coimbra. Nomeadamente a renovação do Museu Nacional de Machado de Castro, a abertura das ruínas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e o parque museológico contíguo, a segunda fase do projecto do Museu da Ciência, onde iremos falar do que já está feito, mas sobretudo que se prepara para o futuro, as expectativas que temos e o caminho que vamos trilhar para começar a planear a instalação da parte principal do museu no Colégio de Jesus.

1 comentário:

José Luís Malaquias disse...

Aqui há uns anos, quem passava por Coimbra pela A1, nos paineis turísticos de aproximação à cidade, podia ler-se: "Coimbra: Cidade Museu".

A autarquia de Coimbra reagiu a esses paineis com a indignação que seria de esperar e acabaram por ser substituídos por "Coimbra: Cidade do Conhecimento".

O excelente trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela equipa do Museu da Ciência vem mostrar que havia justiça na primeira versão dos paineis. Coimbra tem, de facto, um espólio museulógico, nomeadamente científico, de fazer inveja a qualquer grande cidade.

É preciso agora que o resto da Universidade mostre que está à altura da segunda versão do painel, propagando também a imagem de Coimbra como cidade do conhecimento.

Em determinados pólos do conhecimento, não há dúvida que há excelência no trabalho científico feito em Coimbra, nomeadamente na área da saúde.

Noutras áreas, com a actual política de financiamento da Universidade apenas com base no número de alunos elegíveis, esse conhecimento pode vir a extinguir-se nas áreas que os alunos menos procuram (Ciências e, cada vez mais, engenharias), pois há uma lenta asfixia dos quadros de pessoal docente.

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