O Paulo terminou o texto que assinala os 300 anos do nascimento de Lineu enfatizando que importa desenvolver acções que limitem a catástrofe ecológica que a acção humana promove. É interessante notar que o alerta do Paulo, que subscrevo na íntegra, acompanha um post em que é mencionado um cientista com preocupações ecológicas que já na época prenunciavam o que a revista Nature dois séculos depois confirmou. Refiro-me a Domenico ou Domingos Vandelli, o primeiro director do Gabinete de História Natural e do Laboratorio Chimico da Universidade de Coimbra. Vandelli, que iniciou a actividade docente em Maio de 1773, dever-se-ia debruçar sobre História Natural e Química. No entanto, foi a História Natural que lhe mereceu atenção e Vandelli relegaria para um plano secundário o ensino e investigação em química (que ficaram entregues a lentes substitutos dos quais se destacam Thomé Rodrigues Sobral e Vicente Coelho de Seabra). Nomeadamente, nunca concluiu o manual de química que, como recordou D. Maria I na Carta Régia de 26 de Setembro de 1786, de acordo com os estatutos todos os docentes deveriam escrever. Vandelli, dispensado esse ano da docência para poder dedicar-se à escrita, escreveu nessa altura os Prolegomena ao sistema de Lineu.
De acordo com o historiador brasileiro José Augusto Pádua, coordenador do projecto «Brasil Sustentável e Democrático», a preocupação expressa em português com o meio ambiente traça as suas raízes ao grupo que orbitava Vandelli na recém-criada (em 1779, por iniciativa de João Carlos de Bragança, segundo duque de Lafões) Academia de Ciências de Lisboa.
Embora a palavra ecologia tenha surgido em meados do século XIX, a perspectiva ecológica já se desenhava na economia da Natureza do século XVIII. Esta era uma visão integradora que considerava que, por serem interdependentes os elementos naturais, ao destruir parte do sistema danifica-se o resto, visão na qual se revia Domingos Vandelli, que abraçou o ecletismo do reformismo iluminista. O pequeno grupo de intelectuais brasileiros e portugueses que se reuniu em torno de Vandelli — composto por cientistas com formação básica em medicina, química e história natural — esboçaram uma 'visão de mundo' que centrava no domínio da natureza a recuperação do atraso nacional em relação à Europa das Luzes, reflectindo igualmente sobre a questão da sustentabilidade ecológica. Deste grupo fez parte José Bonifácio, o Patriarca da Independência do Brasil - cuja filha mais velha Carlota Emilia, se viria a casar com Alexandre Vandelli, filho de Domingos Vandelli - considerado pelo historiador o primeiro e um dos mais importantes ecologistas deste país.
José Bonifácio de Andrada e Silva foi nomeado pela Carta Régia de 15 de Abril de 1801 lente da cadeira de Metalurgia - criada por outra Carta Régia dois meses antes-, que deveria ser ensinada no quarto ano do curso de Filosofia da Universidade de Coimbra. Tendo sido visitante das principais escolas de minas da época, como Freiberg e Paris, José Bonifácio verificou o atraso entre as referidas escolas e a «reformada Universidade de Coimbra», sobretudo no campo das ciências naturais. Deficiências que impediam o desenvolvimento das ciências naturais em Portugal e que apontou num manuscrito denunciando, entre outros factores, a falta de museus, gabinetes de física e laboratórios; a ausência do estudo das ciências naturais no plano de educação dos jovens e o pequeno número de imprensas para difundir o conhecimento científico. Todos esses factores impediriam assim que o país superasse o atraso cultural e científico em relação à Europa das luzes.
José Bonifácio, que ficou mais de 30 anos fora do Brasil, regressou nas vésperas da independência, cujo processo liderou, e disseminou em terras de Vera Cruz as críticas ambientais que bebeu na Academia das Ciências de Lisboa. O filósofo, que se autodefinia «Eu não sou partidário da mitosofia ou da teosofia. Sou filósofo, isto é, constante indagador da verdadeira e útil sabedoria», previa em 1823 que «o Brasil vai-se transformar nos desertos da Líbia em dois séculos».
É curioso verificar que nos seus primórdios a ecologia foi assim influenciada pelo iluminismo e pelo racionalismo e não pelo retorno à «pureza» poética do romantismo brasileiro, com muitos pensam. E mais curioso verificar os seguidores de Vandelli no Brasil propunham «juntar o avanço racional da tecnologia com o cuidado ambiental» e consideravam que «a destruição ambiental é o preço do atraso, uma herança do passado colonial, da tecnologia rudimentar». Isto é, preconizavam que a harmonização ambiental é apenas possível via uma acção política integrada, que simultaneamente actue a nivel profundo na estrutura social de um país. Assim, consideravam que eram as relações sociais e económicas perversas as principais responsáveis pela degradação ambiental. Nomeadamente e segundo José Bonifácio, «Só com a abolição da escravatura vamos mudar as nossas relações com as florestas, a terra, o território» já que considerava que a escravatura gerava preguiça nos donos das terras (e escravos) e falta de inteligência no uso do território. Hoje em dia não há escravos mas continuam actuais as reflexões catalisadas há mais de 200 anos pelo grupo da Academia de Ciências de Lisboa...
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8 comentários:
Vale a pena conhecer a perspectiva bíblica sobre o assunto. A mesma estabelece uma íntima relação entre a condição moral e a condição ecológica. Por sinal, podemos ver isso mesmo todos os dias, quando vemos as notícias. O mundo está moral e ecologicamente doente, sendo que em muitos casos vemos uma relação íntima entre ambas as realidades.
Vejamos um exemplo num texto do Profeta Oséias, do século VIII a.C.:
“O Senhor chama a tribunal os habitantes do país: Não há lealdade, nem bondade, nem conhecimento de Deus nesta terra. Amaldiçoa-se, atraiçoa-se, assassina-se, rouba-se, os adultérios multiplicam-se, os homicídios sucedem-se uns aos outros.
Por isso a seca vai causar estragos no país, os seus habitantes vão morrer, juntamente com os animais do campo e as aves do céu; até os peixes do mar vão desaparecer”.
Oséias 4:1-3
De acordo com a Bíblia, Deus é o primeiro ambientalista e criou-nos para sermos ambientalistas. Ele criou os céus e a Terra num estado original de perfeição, tendo dado ao ser humano a responsabilidade de cuidar “do jardim”. O pecado humano criou uma realidade nova. A Bíblia afirma que por causa do pecado Deus amaldiçoou a sua criação (Génesis 3:17), dando desse modo aos seres humanos uma razão para se voltarem novamente para Ele.
As complexas interrelações entre plantas, animais e seres humanos são um testemunho da criação instantânea por Deus. As diferentes espécies não poderiam sobreviver sem uma atmosfera adequada, sem uma camada de ozono que as protegesse das radiações, sem um campo magnético devidamente configurado, sem uma distância adequada do Sol e da Lua, sem os complexos serviços prestados por outras espécies, e, em última análise, sem o sustento providencial de Deus.
Ou seja, o sistema ecológico é irredutivelmente complexo, à semelhança do que sucede com o Universo macro e com os sistemas biológicos micro.
Tendo em vista o facto de que toda a criação foi afectada pelo pecado e a corrupção, como as mutações bem testemunham, Deus promete criar novos céus e nova Terra, onde não haverá morte, doenças, sofrimento e maldição (Apocalipse 21,22). Aí poderão estar com Ele aqueles que aceitarem a sua salvação através de Jesus Cristo. Entretanto, Deus chama-nos a amar, a respeitar e a preservar a Sua criação.
Génesis, o primeiro livro da Bíblia, relata a criação, o pecado e a maldição da natureza.
Apocalipse, o último livro da Bíblia, anuncia a nova criação, a nova vida com Deus e a restauração de toda a natureza.
"The Earths creation is the glory of God, as seen from the works of nature by man alone. The study of nature would reveal the Divine order of God's creation, and it was the naturalists task to construct a 'natural Classification' that would reveal this order in the universe."
"The flowers' leaves...serve as bridal beds which the Creator has so gloriously arranged, adorned with such noble bed curtains, and perfumed with so many soft scents that the bridegroom with his bride might there celebrate their nuptials with so much the greater solemnity...".
Carolus Linneaus, autor de Systema Naturae, co-fundador da Academia Real das Ciências da Suécia.
P.S. A ideia de que a Natureza é um sistema integrado é, evidentemente, uma ideia tipicamente criacionista.
Já não há saco para esta beatada anónima que vem para aqui pregar. Bolas, que o fanatismo desta gente já chateia!
Nem os ateus nem os cientistas vos vão chatear à missa, dizer que aqueles disparates todos são só disparates. Se fossem ai Jesus que estamos a ser perseguidos, ai Jesus a intolerância ateia, ai Jesus a militância "cientifista".
Mas encher as caixas de comentários de um blog de ciência com os delírios neolíticos de uma cambada de alucinados e denunciar como perseguição aos cristãos existir gente que não acredita nesses delírios é normal e desejável.
Não sei como os autores do blog aguentam sem apagar os comentários totalitaristas, intolerantes e acéfalos da beatada que assentou praça no DRN.
Ainda por cima não dão uma para a caixa!
Em relação à ecologia, foram os crentes que impediram que se reconhecesse mais cedo as catástrofes ambientais. Todas as religiões do Livro se levantaram a uma voz para denunciar os ateus que andavam para aí a dizer que Deus não "providenciaria". Só um ateu é que podia não ter confiança em Deus e pensar que Deus não punha a mão por baixo da Terra.
Por exemplo, nos EUA foram os religious right que denunciaram "a maior fraude na história da ciência" pregada por servos do Demo disfarçados de ecologistas.
Morreu há umas semanas Jerry Falwell, o fundador da Moral Majority que pôs no poder teocratas como o Dubya, e que dizia que única «ciência» séria está inscrita na Bíblia.
Como o Salmo 24:1-2 e Genesis 8:22, «Enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite» só «pseudo-cientistas» e inimigos dos Estados Unidos promovem este alarmismo «ateu»...
Mas se os evangélicos estão mal os católicos não estão atrás: Bento XVI pregou no Outono passado num encontro com os bispos suiços, contra a nova falsa religião, um conjunto de falsos temas morais: «a paz, a não violência, justiça para todos, preocupação com os pobres e respeito pela Natureza».
O pregador dos exercícios espirituais da Quaresma, o cardeal Giacomo Biffi, ex-arcebispo de Bolonha retomou a luta contra os demoníacos ecologistas.
O Biffi que escreveu o «Pinocchio, Peppone, l’Anticristo e altre divagazioni» a explicar que o anticristo já anda entre nós, pregou na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico do Vaticano que «o anticristo apresenta-se como pacifista, ecologista e ecuménico».
Por isso, é preciso combater o relativismo e «valores relativos, como a solidariedade, o amor pela paz e o respeito pela natureza» que instigam à «idolatria» e põem «obstáculos no caminho da salvação».
Me parece que vocês ai em Portugal estão um pouco atrasados. Aqui no Brasil, como nos Estados Unidos, no Canadá ou na Austrália, cada vez mais se compreende que ciência e fé estão juntos. Se Deus realmente criou o mundo, a gente não pode compreender o mundo sem Deus. Me parece logico, não é mesmo? Isso não é beatismo, como cê diz. É autentica ciência.
Se vocês se queixam que os crentes aí de Portugal falam com vocês, deixem de usar esse blog para tentar mostrar que os crentes não têm razão. Será que os crentes não podem mostrar que vossos argumentos científicos não conseguem refutar a fé evangelica? Parece que vocês prefeririam que eles se calassem enquanto vocês falam essas besteiras pseudocientificas com uma atitude orgulhosa mas, em última análise, incapaz.
Gosto muito dos artigos de ótima qualidade do seu Blog. Quando for possível dá uma passadinha para ver meu Curso de Informática online. Antonio B Duarte Jr.
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