terça-feira, 29 de maio de 2007

O MISTÉRIO DOS AZULEJOS


Minha crónica na última edição do semanário "Sol":


A gravura do livro antigo mostra um grupo de náufragos que chegam, exaustos, a uma praia. Ao encontrarem algumas figuras geométricas traçadas na areia exclamam: “Tenhamos esperança, aqui há humanos...

O livro é uma edição ilustrada de “Os Elementos” de Euclides. Está patente numa exposição da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, juntamente com várias outras obras valiosas que ilustram a evolução, ao longo dos séculos, da arte tipográfica associada a várias edições dessa obra fundadora da geometria, que o sábio grego nos legou três séculos antes de Cristo. Foram os árabes da Península Ibérica que salvaram a obra do esquecimento, trazendo-a, em sucessivos manuscritos, até aos finais da Idade Média, o tempo dos incunábulos.

Mas, apesar do seu evidente interesse, o ponto alto da exposição não são os livros, mas uma colecção de azulejos. A exposição intitula-se “Azulejos que ensinam”. Acontece que, das pranchas matemáticas de uma das edições do século XVII (mais exactamente, de 1654) de “Os Elementos”, devida ao jesuíta belga André Tacquet, foram feitas cópias para azulejo – essa bela arte tradicional portuguesa. Há um mistério nestes azulejos, que pertencem na sua maioria ao Museu Nacional de Machado de Castro (há alguns no Museu Nacional do Azulejo e outros em mãos de particulares): ninguém sabe ao certo nem de quando são nem de onde vieram! Provavelmente serviram para ensinar os estudantes do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, antes da expulsão dos jesuítas em 1759. A permanente visão dos azulejos nas paredes da sala de aula ou nos claustros tornava mais acessível aos estudantes a geometria euclidiana.

Mas os azulejos que se conhecem e estão na sua maioria expostos são cerca de vinte: faltam muitos para completar as centenas de figuras do livro. Em exposição simultânea no Museu da Ciência, há alguns azulejos parecidos, contendo motivos de astronomia e hidráulica, que não são daquele livro. Haverá mais “azulejos que ensinam”? Pede-se ajuda ao leitor – e visitante - para ajudar a desvendar o mistério dos azulejos...

1 comentário:

Carlos Medina Ribeiro disse...

O que se diz no 1º parágrafo é referido no livro de Werner Keller «E a Bíblia Tinha Razão» - Parte I, Cap. 2

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