Como o Desidério já informou, hoje é o dia do lançamento do «Codex de Arquimedes», o livro em que o historiador de ciência Reviel Netz e o conservador de manuscritos e livros raros William Noel contam a história fascinante daquele que é o mais famoso palimpsesto do mundo, de que a Edições 70 disponibiliza em formato pdf o Prefácio e o Capítulo I.
Mas as surpresas do livro de orações, que se revelou uma fonte inestimável e única de textos do «filósofo mais importante no mundo», nas palavras de William Noel, não se ficaram por aí. Já se sabia que no livro de orações em que foram reciclados os tratados de Arquimedes era na realidade não um mas cinco palimpsestos.
Um dos livros reutilizados pelos monges continha textos de Hipérides, o político e orador ateniense do século 4 a.C. que foi discípulo de Platão e Isócrates. Hipérides organizou a resistência dos atenienses contra Antípatro e foi executado pouco depois de o macedónio vencer a guerra Lamíaca. Da pena de Hipérides sobreviveram apenas um discurso completo, Em Defesa de Euxenipo, e fragmentos de outros cinco, os mais importantes dos quais são o Contra Demóstenes e a Oração Fúnebre, uma homenagem aos soldados mortos na guerra de independência do domínio macedónio. O palimpsesto aumentou em 20% o nosso conhecimento dos textos deste importante actor de um período conturbado da história grega.
Outro dos livros reciclados, de leitura extremamente difícil de acordo com Roger Easton, professor de ciência da imagem no Instituto de Tecnologia Rochester, nos Estados Unidos foi finalmente decifrado. E o palimpsesto mereceu o epíteto de 8ª maravilha de mundo como se lhe refere William Noel: o terceiro livro decifrado revelou-se um comentário a um texto de Aristóteles, as Categorias, uma obra basilar para o estudo da lógica em toda a história ocidental.
Bob Sharples do University College de Londres considera que o autor mais provável destes comentários da obra de Aristóteles é Alexandre de Afrodisias, o mais importante comentador da obra de Aristóteles e que tornou a Política de Aristóteles a base de todas as escolas de filosofia política no mundo intercultural da Idade Média.
Como refere William Noel: «Temos um livro que contém três textos do mundo antigo que são absolutamente centrais para a nossa compreensão de matemática, política e, agora, filosofia», concluindo «Estou sem palavras para descrever o que este livro se revelou. Fazer estas descobertas no século XXI é francamente de loucos - é simplesmente tão excitante».
A partir de hoje todos podem partilhar a excitação de Noel e Netz ao longo da odisseia de recuperação e tradução do Codex e ficar sem palavras ao ler aquelas que descrevem as maravilhas inesperadas que o palimpsesto revelou.
1 comentário:
Ó moderna sacerdotisa do saber...
...Palmira, muito prazer! :)
Quem dera um dia também pudéssemos conhecer muito mais acerca dessa misteriosa personagem feminina, que Sócrates considerava a sua professora na arte do Amor: Diotima de Mantineia, pitonisa em Seu louvor!
De Eros a Agape, na jornada mais sagrada de toda a união abençoada...
A beleza do corpo, a beleza da alma, a beleza das formas, as divinas ideias de Amor sempre cheias! :)
Todos os extremos unidos num só, que não há mal nem bem na Universal Law!
This, my dear Socrates, said the stranger of Mantineia, is that life above all others which man should live, in the contemplation of beauty absolute; a beauty which if you once beheld, you would see not to be after the measure of gold, and garments [...] But what if man had eyes to see the true beauty – the divine beauty, I mean, pure and clear and unalloyed, not clogged with the pollutions of mortality and all the colours and vanities of human life – thither looking, and holding converse with the true beauty simple and divine? Remember how in that communion only, beholding beauty with the eye of the mind, he will be enabled to bring forth, not images of beauty, but realities (for he has hold not of an image but of a reality), and bringing forth and nourishing true virtue to become the friend of God and be immortal, if mortal man may.
Diotima, in Plato's "Symposium"
What is she talking about... what is it?... what is IT?!?!
That is why Socrates said that he knew nothing BUT that divine art of love that magical Diotima taught and showed him! :)
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