quarta-feira, 2 de maio de 2007

CORPOS EM EXPOSIÇÃO

Inaugura no dia 5 de Maio em Lisboa, no Palácio Dos Condes do Restelo, a exposição “O corpo humano como nunca o viu” (no original “Bodies – The exhibition” ) que já esteve, sempre com muita polémica, em Nova Iorque, Washington, Amsterdão, São Paulo, Londres, Miami (há uma cena no último filme de James Bond), Seattle, Las Vegas e Durham. São expostos 17 cadáveres humanos e 270 órgãos também humanos, conservados pela técnica da polimerização.

As opiniões sobre a mostra dividem-se, mesmo entre médicos. E mesmo entre médicos da mesma escola. Diz Francisco Castro e Sousa, professor de Medicina da Universidade de Coimbra que preside à Comissão Científica da exposição: “A exposição é de uma enorme dignidade e respeito para com os corpos e pode ser uma forma de estimular comportamentos, prevenir, detectar precocemente e chegar ao objectivo de curar” (...) “Incentiva a que se tenha uma vida baseada em práticas que favoreçam a saúde”.

Mas o seu colega Duarte Nuno Vieira, presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal, sito em Coimbra, não é exactamente da mesma opinião. “Tenho algumas reservas e algumas dúvidas. A mostra permite uma análise e uma visão do corpo que as pessoas normalmente não têm, mas qualquer abordagem ética só pode ser feita sabendo-se as condições em que os cadáveres são utilizados e como ali chegaram”.

Outro professor de Coimbra, Salvador Massano Cardoso, é mais categórico: “Não considero correcta a utilização para fins comerciais ou artísticos. Um morto tem direitos e aqueles corpos estão a ser profanados”.

Eu, que não sou médico, não tenho ainda uma opinião. Conto ir ver para a ter...


15 comentários:

Anónimo disse...

A exposição deve ser bastante interessante, mas

"14,50 euros para crianças até 12 anos nos dias de semana
até aos 21 euros, o custo da entrada de um adulto ao fim-de-semana"

é capaz de não ser para todos, mas como sempre a ciencia e a cultura não são para todos.

Anónimo disse...

Eu, que sou médico, também ainda não tenho uma opinião. Penso qu a maioria dos médicos ainda anda à procura de uma boa opinião. O dualismo de Descartes e a redução do corpo a uma máquina veio ajudar os estudos do corpo humano. Com o tempo, a objectividade do conhecimento médico conduziu inadeveridamente à desvalorização da subjectividade humana. Com as ciências cognitivas (Inteligência Artificial), transplantação de órgãos, engenharia genética, etc., o ponto de vista funcionalista veio dar lugar ao corpo cibernético e à dualidade real/virtual…

Fernando Dias

JSA disse...

Por curiosidade, o filme alemão Anatomie também explorava, salvo erro, esta técnica como motor da acção, já em 2000.

Quanto à moralidade, penso que imaginar que existe uma profanação do cadáver será análogo a não permitir o uso de órgãos para transplante. Cada pessoa está no seu direito de o fazer, mas se não houver oposição, não vejo qualquer problema. Pessoalmente não me incomodaria que o meu corpo fosse usado para tais fins, embora seja óbvio que muitas pessoas não partilhariam desta ideia. Como imagino que os corpos que ali estão expostos são de pessoas que terão dado o seu consentimento, não consigo opor-me.

Qualquer iniciativa que ajude a promover a ciência e a desmistificar certas ideias é bem vinda.

Anónimo disse...

A propósito da exposição, Jorge Costa Santos, director do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, terá dito:
«[Visitar a exposição tem por base] uma motivação que não é científica, porque não acresce conhecimento. Haverá a satisfação de um apelo visual», analisou o médico, referindo que o público irá entender a mostra «mais como uma manifestação de arte» com base em material cadavérico e «não se irá sentir identificado». http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=803230&div_id=291
Por mim, quanto mais tarde me sentir identificada com o estado cadavérico, melhor!! Se a exposição me ajudar – como os organizadores apregoam – a prolongar a vida, ainda melhor. Se não, alguma coisa aprenderei.
Visitar uma exposição de arte não acresce conhecimento, porque a motivação não é científica?!
E eu que julgava que sempre que visitava uma exposição aumentava os meus conhecimentos em alguma coisa!
E quando a arte e o conhecimento andam interligados?
E quando há ciência na arte, como no caso da parceria entre L. Da Vinci e o anatomista Marco Antonio della Torre: "Da trintena de corpos por ele próprio dissecados, tirou o pintor setecentos e cinquenta esquissos que, publicados pela primeira vez em 1898-1901, deixaram estupefactos os especialistas por serem bastante mais rigorosos que todos os livros cirúrgicos de que dispunham."
OK.
Certo!
Viva Bonifácio I!
Contra as dissecações!
Pela dignidade humana!

Anónimo disse...

Eu simplesmente dispenso a visita.
Hugo
http://dottoratoamilano.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Os cadáveres são de cidadãos chineses. Poderiam ser de cidadãos norte-americanos ou de algum país da UE?
Será que nestes países, como não se pode fazer negócio com cadáveres humanos, alguém teria esta ideia?
Como Médico, sou obrigado a concordar com S M Cardoso.
Na exposição aparecem cadáveres em diversas actividades. Algum de nós gostaria de lá ver a nossa mãe descarnada a dançar o samba?
Zé Hipócrates

Paulo disse...

Penso que a ideia seria as pessoas ficarem com mais respeito pelo corpo humano. Quanto à minha mãe a dançar o samba? Porque não? Claro que se eu passasse várias horas por dia a lidar com cadáveres, não iria: já chega no local de trabalho!

Eu, aqui, desde já, ofereço o meu corpo para uma exposição destas (depois de morto, claro está! LOL). Como veem, poderá ser com europeus, sim senhor! A mim preocupam-me as profanações do corpo e mente em vida, ou será que o Zé Hipócrates nunca comprou nenhum artigo chinês? E as crianças exploradas para que nós compremos baratinho, não incomoda?

E que haja aldrabões e charlatães a fazer dinheiro à custa da ignorância das pessoas? Não incomoda?

Atenciosamente

Paulo Pinheiro

Anónimo disse...

Uma coisa é certa: os cadáveres estão com muito melhor aspecto do que se tivessem sido enterrados ou cremados.

Se os cadáveres são de cidadãos chineses não se nota nada! Será que os cidadãos chineses não podem legar os seus cadáveres a quem/para o que muito bem intenderem?

Um abraço a todos.

Anónimo disse...

Viva,
Aproveito para lançar uma questão: se é moralmente relevante a questão da exposição exibir cadáveres humanos, porque não tem sido moralmente relevante a exposição que a nossa cultura faz de cadáveres de animais não humanos como troféus decorativos, até nas casas privadas?
Até breve
Rolando Almeida

e-ko disse...

Não vejo, sinceramente, o que me pode trazer uma exposição em que se exibem cadáveres em situações e poses que não têm um fim científico nem artístico. Um espectáculo macabro à conta de cadáveres de cidadãos chineses que, se foram obtidos, como muitos órgãos para transplante, nas prisões daquele país, depois de serem executados, porque a pena de morte aí é praticada. Um sinistro mercado!

e-ko disse...

Para informação:

Depuis le 12 avril se tient à Londres l'exposition "Bodies...Exhibition" qui montre 22 cadavres dont celui d’une femme enceinte de huit mois, et 260 membres conservés dont une vessie, une rate, trois coeurs et un cerveau. D'autres "curiosités" sont aussi exposées comme un embryon de 5 semaines. Ces corps et membres de personnes chinoises sont préservés par « plastination », un processus qui conserve le corps humain en remplaçant les fluides corporels par des polymères de plastique.

Cette exposition, déjà présentée dans de nombreuses villes américaines (New-York, Atlanta et Tampa), fait beaucoup de remous d'ordre éthique sur l’origine des corps fournis par la Chine, sur l'exploitation des morts pour faire du profit,... Pour beaucoup, l’exposition de ces corps viole les standards éthiques de la pratique médicale.

Arnie Geller, président de Premier Exhibitions Inc., affirme que son entreprise a acheté officiellement les corps humains à l’école de médecine de la ville de Dalian (Chine) et qu'il s’agit de corps non réclamés ou non identifiés.

Néanmoins, les associations de défense des droits de l’homme et les professionnels de la santé sont circonspects car les explications sur l’origine des cadavres sont contradictoires. Ils suspectent que les corps et les organes proviennent de prisons ou de camps de concentration chinois, sans le consentement des familles. L’association Amnesty International a rappelé que, selon des sources officielles chinoises, 3 400 personnes ont été exécutées en 2004. Il n'est pas rare qu'on prélève des organes sur les corps de ces condamnés (cf. revue de presse du 05/12/05).


Actuellement, il existe quatre autres expositions présentant des corps humains conservés par plastination : Body Worlds 1 et Body Worlds 2 réalisées par le Dr. Gunther Von Hagens, The Universe Within (L'univers intérieur) et Bodies Revealed (Les corps révélés).

© genethique.org

Pékin vient de confirmer que la quasi totalité des organes transplantés en Chine provient de condamnés à mort et exécutés.

Le vice-ministre de la Santé Huang Jiufe, a annoncé que la Chine préparait un projet de loi destiné à réguler le don d'organes qualifié par ses propres termes de "zone grise".

Un magazine économique précise que 5% des organes greffés proviennent de dons libres et 95% de criminels exécutés. Un véritable marché s'est d'ailleurs organisé dans lequel un hôpital prend contact avec la police lorsqu'il a besoin d'un organe. La transaction pour récupérer les organes s'effectue avec un tribunal. Un rein ou un foie peuvent coûter plusieurs dizaines de milliers d'euros en raison des frais de "relations publiques"...

Officiellement les condamnés à mort ont donné leur accord à ces prélèvements, mais les conditions sont loin d'être claires.

Depuis des années, le dissident Chinois Harry Wu dénonce ce scandale. En 2001, un ex-médecin militaire avait révélé devant le Congrès américain qu'il avait participé à 2 reprises à des prélèvements de rein sur des exécutés qui respiraient encore.

Ces "dons" d'organes visent à donner une façade plus présentable à l'usage de la peine de mort dont la Chine détient le record du monde.

© genethique.org

http://www.genethique.org/index.htm

Anónimo disse...

Há algo que eu não entendo no texto. Porque é que se valoriza a opinião de médicos sobre esta exposição? Seria semelhante haver uma exposição de arte feita com pneus e peças de automóvel e pedir-se a opinião aos mecânicos sobre ela. Sim, de facto esses é que entendem de peças de automóvel.
Mesmo em relação ao que é moral ou não. Não são os médicos que vão decidir o que é moral. Aliás, a atitude profissional da classe médica, em muitos casos particulares, nem lhes oferece grande credibilidade em moral. Vá lá. Já chega de pirosisse na sociedade portuguesa. Há uma idolotracia aos médicos (ou senhores doutor - sem doutoramento) em Portugal que se transforma em inércia no desenvolvimento da sociedade.

abrunho disse...

Eu vi a exposiçao. Aprende-se. É interessante observar em 3D o sistema sanguíneo, muscular, digestivo, ver as camadas a sobreporem-se. Mas o que me interessou mais foi uma secção sem os cadáveres 3D: a comparação de órgãos doentes e saudáveis.

Contudo, a certa altura já não se aprende. Há cadáveres em que é mesmo só "show off" do escalpelador. Para quê um a jogar basquetebol? Dois a jogarem xadrez?

Anónimo disse...

Não é preciso ir ver para saber que é uma profanação.

Anónimo disse...

Digo eu que sou médico, que conheço pessoalmente os médicos que emitiram as opiniões (Profs: Castro e Sousa, Duarte Nuno, Costa Santos, Massano Cardoso) e o percurso profissional e académico de todos eles, mas sobretudo como cidadão de um mundo global e por isso conhecedor do "valor humanista" da China e da "ciência do lucro" dos países em que tem sido apresentada a exposição, que se trata de um exercício de mau gosto, uma "feira de anormalidades" dos tempos modernos, de um desrespeitar da natureza humana, uma forma vil de lucro (mal) mascarada de actividade de divulgação científica.
E mais não digo.
E

NOVOS CLASSICA DIGITALIA

  Os  Classica Digitalia  têm o gosto de anunciar 2  novas publicações  com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra. Os vo...