quarta-feira, 2 de maio de 2007

De Natura Rerum

‘De Natura Rerum’ não é um trocadilho de palavras sobre o nome deste blog, embora o sentido seja o mesmo. Trata-se do título da principal obra de um erudito abade da região de Liége, Thomas de Cantimpré (1201-1272). A semelhança com o título do célebre poema de Lucrécio pode não ser circunstancial, já que Lucrécio era muito conhecido e lido.

A obra De Natura Rerum de Cantimpré é uma vasta enciclopédia de 20 volumes, composta ao longo de 15 anos, sintetizando os conhecimentos do seu tempo sobre história natural – da anatomia humana, ao estudo da alma, dos homens monstruosos do oriente aos monstros marinhos, das aves aos animais quadrúpedes e às serpentes, das plantas medicinais às pedras preciosas, dos sete planetas aos quatro elementos.

Inscreve-se numa forte tradição medieval dos bestiários, que constituem intensas e esforçadas compilações de conhecimentos, não científicos (a ciência moderna ainda estava para surgir), de descrições fantásticas de animais reais e imaginários, servindo também para ilustrar aspectos do dogma e da moral cristãos. Há sempre um conteúdo moralizante nas descrições dos bestiários. Nestes textos a descrição da natureza não se distancia do mito. Antes participa nele. Ajuda a reificá-lo. Neles, as fronteiras entre o real e o imaginário nunca são bem definidas.

Sobre a doninha Cantimpré expõe: “O Papa Clemente diz dela que concebe pela boca e pare pela orelha. Mas, pelo contrário, Isidoro afirma que se equivocam os que afirmam que a mustela concebe pela boca e dá à luz pela orelha”.

Sobre a formiga-leão, que, explica, pertence à família das formigas mas é muito maior, afirma que, ”no verão, por não ter aprovisionado nada, saqueia e destrói os trabalhos das outras formigas. Esta classe de animais representa os hipócritas e os malvados”.

Aquela era uma época em que viajantes traziam informações de longas viagens por paragens pouco conhecidas no ocidente. Faziam descrições fantásticas sobre animais que povoam essas terras longínquas, que excitavam a imaginação.

Vejamos o que Cantimpré afirma sobre os grifos – é difícil falar aqui de animal imaginário, porque a divisão não fazia muito sentido então. Os grifos “são aves … de desmedida crueldade, de corpo tão grande que vencem e matam os homens mesmo armados. […] Guardam ouro e pedras preciosas em algum lugar inacessível da Sythia asiática … e, ao verem os homens, atacam-nos com violência, como se tivessem sido criados por Deus para castigar a temeridade e a cobiça.”

É fascinante a forte contradição presente nestes textos, entre o desejo de descrever objectivamente a realidade que rodeia o autor e os seus preconceitos e fantasmas, que não deixa de inscrever nas suas descrições. Até porque a melhor teoria da natureza que possuíam era a religiosa: a do cristianismo. As reflexões exprimem, assim, uma visão profundamente religiosa da natureza.

Os Bestiários são, certamente, uma tentativa de sistematizar e descrever a natureza. O problema é que faltava uma teoria fisicalista da natureza. Uma teoria que explicasse os fenómenos por princípios da própria natureza e não remetendo para uma esfera sobrenatural. A natureza era largamente incompreensível e tal era aceitável, por se tratar da vontade de Deus; e os seus desígnios são insondáveis. Aceder a compreender o significado da natureza era aceder à compreensão do pensamento do criador. Só através dele se poderia chegar a essa compreensão.

A revolução iniciou-se pela física com figuras com Galileu e Newton, que encontraram ‘Leis’ que explicavam o funcionamento da natureza por razões tangíveis e reais, sem recurso a entidades exteriores a ela.

Muito mais difícil foi estender essa lógica aos seres vivos. Certamente por estarem mais próximos de nós, mas também por serem mais variados e complexos. Por exemplo Lineu, o grande classificador da natureza, a quem devemos o sistema binomial de nomenclatura – Homo sapiens, Passer domesticus, Tilia cordata, etc – e que desenvolveu um método lógico e uma metodologia muito consistente para descrever a natureza viva, estava prisioneiro da mesma lógica. No prefácio da sua grande obra Systema Naturae, onde descreve milhares de espécies de animais e plantas, afirma: Creationis telluris est gloria Dei ex opere Naturae per Hominem solum (a criação da Terra é a glória de Deus, vista através das obras da Natureza pelo Homem apenas). Segundo a lógica desta corrente de teologia natural, uma vez que Deus criou o mundo será possível compreender a sua sabedoria estudando a sua criação.

Uma compreensão da natureza viva que decorre da interacção complexa de intervenientes físicos, de factores e forças reais, só se tornou possível com Darwin. A revolução darwiniana tem essa outra dimensão. A partir da sua teoria da evolução dos seres vivos, a natureza tornou-se compreensível e lógica, no sentido do que já vinha acontecendo com o universo físico, através do conhecimento produzido por Galileu, Newton e os que se lhes seguiram. O que em Lineu era um sistema de classificação dos seres vivos baseado nas suas semelhanças físicas, mas sem outro significado, passou a constituir uma teia – melhor dito, uma árvore – de relações filogenéticas que estabelecem níveis de parentesco entre as espécies que se relacionam com a sua história evolutiva. Subitamente, o sistema de classificação dos seres vivos adquiriu uma profundidade imensa – sabemos hoje ser de mais de 3 mil milhões de anos. Uma natureza descritiva da biologia deu lugar à procura de explicações causais para os padrões de diversidade existentes.

O apêndice-engodo localizado na extremidade da cabeça do tamboril, a cauda do pavão, as hastes do veado, as brilhantes cores vermelhas de certos insectos, rãs ou cobras, as flores, que tanto apreciamos, não têm causas insondáveis. São compreensíveis porque há evolução na natureza e porque os organismos se adaptam. E temos uma boa teoria para o explicar.

21 comentários:

Anónimo disse...

Recentemente vieram a público várias notícias que podem ser uma ajuda para a causa criacionista, visto que tratam de “evidências” da evolução durante muito tempo apresentadas como “refutação” do criacionismo.

1) Os Neandertais afinal são verdadeiros seres humanos. Isto mesmo é afirmado pelo antropólogo Erik Trinkaus, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences
2) Richard Leakey manipulou o crânio 1470, de um macaco, para se parecer com o de um ser humano. Também esta fraude foi recentemente descoberta, à semelhança do que tem sucedido noutros casos, entre os quais se destaca as recentemente descobertas fraudes do antropólogo Alemão Rainer Protsh von Zieten, que manipulava esqueletos para os vender aos museus como “evidências” da evolução.
3) A conhecida “Lucy” foi afastada dos ancestrais do ser humano, passando a ser qualificada como um macaco. Um recente artigo na revista Proceedings of the National Academy of Science, escrito por três cientistas de Tel Aviv, veio sustentar que o Australopitecus afarensis não é ancestral do ser humano, como durante muito tempo se afirmou.

Parece que o Rerum Nstura vai ter que actualizar a sua lição sobre "fósseis" e "ossos".

Logo agora que as coisas até pareciam estar a correr tão bem...

Anónimo disse...

Uma comparação do Big Bang com outras cosmologias alternativas, permite tirar uma conclusão surpreendente: as mesmas observações podem ser interpretadas de forma completamente diferente, mesmo dentro das leis da física. Com efeito, uma avaliação comparada das cosmologias do Big Bang, o Modelo “Quasi-Steady State, de Bondi, Gold, Burbidge, Nalikar e Hoyle, o Modelo da Relatividade Geral Cosmológica, de Moshe Carmeli, o Meta Modelo de Van Flandern, entre muitas outras que poderiam ser aduzidas, demonstra que, de acordo com os vários modelos, o universo tanto pode estar em expansão, como ser estático. Por seu lado, a gravidade tanto pode ser atractiva, como repulsiva. Do mesmo modo, os quasares tanto podem estar longe, como podem estar perto. A isto acresce que a radiação cósmica de fundo tanto pode ser evidência do Big Bang, como o resultado da termalização da luz estelar. Além disso, o universo tanto pode consistir largamente de “matéria negra”, como também pode integrar apenas a matéria observável. Ele pode ser igual ao que vemos em todo o lado, ou o que vemos pode estar rodeado de espaço “vazio”. Que isto é assim, pode ser confirmado por qualquer pessoa que se dê ao trabalho de cotejar as conclusões dos proponentes desses modelos. Estas possibilidades, que diferem uma das outras em escalas colossais, demonstram que a ignorância dos cientistas acerca do universo, a despeito das suas observações, é muito maior do que o seu conhecimento. Daí que as suas afirmações devam ser encaradas com o maior cepticismo, principalmente quando pretendem fazer juízos definitivos sobre a “natureza das coisas”. Daí que os leitores do “Rerum Natura” devam encarar as especulações avançadas apenas como mais uma forma de entretenimento, por mais “brights” que elas possam parecer.

Anónimo disse...

Não confudamos as coisas quando nos metemos a falar do estado da arte do conhecimento científico, seja em que assunto for. O problema dos ignorantes é meterem-se a falar de coisas cuja complexidade ultrapassa os pressupostos e o vocabulário que acreditam ter por bom.

A razão e a honestidade intelectual já deu provas de que é o que temos de melhor para não ter medo que nos digam que estamos a ofender alguém, quando esse alguém corre o risco de cair em irracionalidades e convicções assentes em ignorância e crenças dogmáticas que deturpam a vastidão da verdade dos factos.

Fernando Dias

Anónimo disse...

Banalidades genéricas e grandiloquentes não são propriamente argumentos convincentes. Quando muito, elas mostram alguma limitação argumentativa.

Os mesmos factos podem ser interpretados de várias maneiras.

Por exemplo, a ideia, de Paulo Gama Mota, de que "o sistema de classificação dos seres vivos adquiriu uma profundidade imensa – sabemos hoje ser de mais de 3 mil milhões de anos", só pode ser uma intrepretação (sempre baseada em premissas indemonstráveis), na medida em que ninguém estava lá para ver o que aconteceu há 3 mil milhões de anos!

Não se pode confundir os factos, com as interpretações evolucionistas dos factos.

Por outro lado, a actualidade de um sistema de classifcação durante tanto tempo não deixa de ser problemática, do ponto de vista da evolução.

Anónimo disse...

O objectivo da crítica respeitosa aos comentários precedentes, é simplesmente o de sublinhar o facto de que as coisas não são assim tão simples. É difícil decidir se uma dada interpretação é boa, mas em contrapartida é mais fácil reconhecer as más. Assim, o meu objectivo não é dizer por onde devemos ir, mas pelo menos por onde não pode ser.

Fernando Dias

Anónimo disse...

E no entanto, os IDiotas, ainda não conseguiram a mais pequena prova de que deus existe, e ainda aparecem ignóbeis que se limitam a dizer que "dado que algo defendido por um evolucionista estava errado, todo o resto estava errado".
Usando apenas a lógica mentecapta usada num cometário anterior, como está provado que a Terra não é o centro do universo, e os padrecos que quiseram queimar o Galileu defendiam isso, está provado que toda a religião cristã está errada. Mais ainda, como há 3 mil milhões de anos não estava lá ninguém para testemunhar, e por isso a evolução é uma mentira, também é mentira a criação, pois não estava lá ninguém a testemunhar o facto, e a mesma foi feita às escuras, como os próprios IDiotas descrevem, pois a luz não tinha sido criada, e por isso nem é possível testemunhar algo que não é possível vêr.

Anónimo disse...

O Criador estaria lá para testemunhar a Sua Criação e tem capacidade para dizer como foi. Quem fez a razão pensa, quem fez os olhos vê, quem fez os ouvidos ouve, quem fez a boca fala.


Alguns cientistas ficam todos satisfeitos com a sua inteligência quando percebem que conseguem juntar as letras ID e jogar com elas. Essa auto-satisfação é, no mínimo, preocupante porque, que se saiba, até um chimpanzé consegue juntar duas letras. Seria melhor que gastassem as suas energias a desenvolver argumentos mais convincentes.

Anónimo disse...

Mais uma vez, deus é testemunha em causa própria... Fácil essa lógica. Quer vêr?...
Sabe que os antepassados do homem estavam lá para testemunhar a evolução, e apesar dos aldrabões religiosos, eles conseguiram passar o testemunho até aos nossos dias, e porque eles descreveram como as coisas eram no passado, o registo dessas alterações prova que a evolução é real, e os religiosos andam a espalhar mentiras.
Afinal isto de inventar religiões é fácil! :-) É só dizer que o nosso deus assim o disse, que está logo provado que é verdade.

Anónimo disse...

Isto o melhor é mandar benzer este blogue!

guida martins

Anónimo disse...

Já agora aconselho-o a lêr o post do Desidério Murcho sobre argumentos de autoridade, pode ser que perceba porque é que o argumento que apresentou é IDiota.
Para o tornar válido, a primeira, e única, coisa que tem de conseguir é provar que deus existe. E cuidado que provar que deus existe, não é dizer que ele assim o disse.

Bruce Lóse disse...

É como sócio-gerente de um circo de pulgas que tenho o prazer de contratar os circunstantes para nova temporada em Bratislava.

Anónimo disse...

As declarações categóricas não tornam as afirmações verdadeiras. Por outro lado é bom ter cuidado em não confundir a cominidade científica toda com alguns ateus dogmáticos. Aceito que é tão perigoso um ateu dogmático como um crente dogmático.

Quem tem de provar o quê a quem? Os evolucionistas tiveram o ónus da prova durante muitos anos depois de Darwin, mas agora o ónus da prova é dos criacionistas. Cabe a eles mostrar o fundamento em que se apoiam para dizer que o criacionismo é que está certo. Toda a comunidade científica (que é constituída por milhões de pessoas em todo o mundo) aceita várias versões de evolucionismo e nunca vi ninguém sensato dizer que são imbecis.

Fernando Dias

Anónimo disse...

Que as afirmações categóricas não tornam, por si só, as afirmações verdadeiras aplica-se também à evolução a partir de um ancestral comum (cuja origem e configuração todos desconhecem) e ao Big Bang (que até agora ainda não conseguiu explicar, e mal, mais do que uma nuvem de gás).


O Intelligent Design Movement procura exactamente demonstrar que a sintonia do universo (v.g. por vezes designada por princípio antrópico, ou coincidências antrópicas) e a extrema complexidade integrada e irredutivel da vida e dos organismos vivos só se percebem com base num princípio de inteligência e nunca em processos aleatórios (não observados) ao longo de milhões de (não observados) anos. É isso que se pretende demonstrar, sendo certo que estas coisas da ciência levam o seu tempo.

Se os darwinistas querem realmente que os adeptos do Intelligent Design Movement demonstrem as suas posições, têm, obviamente, que deixar que estes o façam livremente, em qualquer contexto.

Se o Intelligent Design não puder apresentar livremente os seus argumentos, então também não pode ser criticado por não exercer o seu ónus da prova. Caso contrário temos uma falácia.

Quando o Intelligent Design Movement procura exercer o seu
onuis da prova os seus proponentes são insultados e ridicularizados. Seria melhor que fossem livremente debatidos.

No século XIX, toda a comunidade científica ridicularizou um médico austríaco, apenas porque este defendeu que os instrumentos cirúrgicos deviam ser desinfectados entre cada intervenção cirúrgica e que os médicos deviam lavar as mãos por essa mesma altura!!

Em que ficamos? Podem os proponentes do Intelligent Design apresentar os seus argumentos, cumprindo assum seu ónus da prova, ou não? Será que têm o ónus da prova mas sem a oportunidade de o exercer?

Anónimo disse...

Provem!
Agora, aquilo com que interveio neste post, não é prova de coisissima nenhum, é apenas aquilo em que foi atacado, que é vir com conversa ridicula, a dizer que está provado que o evolucionismo está errado porque determinadas teorias foram revistas, e estariam erradas. Bestial... mas, parece-me que o "médico austriaco" é o evolucionismo, pois quem entrou de rompante a dizer que ele estava errado foi... alguém.
Já agora, aprenda que a lógica é fonte de conceitos teóricos espantosos, mas, pouco uteis, e por vezes falsos, e é um mero conceito lógico o que o ID defende, mas, provas concretas, como os fósseis e as mutações genéticas visíveis em diversos organismos, que sustentam o evolucionismo, a IDiotaria não tem nada! E diverte-se como você, a espectáculos de refutar toda a evolução, com base em algumas teorias supostamente erradas. Como já lhe disse, pela sua mesma lógica, na epoca de Galileu, ficaram completamente refutados todos os criacionistas e religiosos afins.

Passe bem.

Anónimo disse...

Os fósseis não provam a evolução. Apenas provam a morte abrupta de biliões de seres vivos nos cinco continentes. Por seu lado, as mutações não criam informação genética complexa e especificada no genoma. Antes destroem o genoma, como mostram as doenças que temos e que herdamos. Por sua vez, Galileu era criacionista.

Anónimo disse...

Os fósseis não provam a evolução. Apenas provam a morte abrupta de biliões de seres vivos nos cinco continentes. Por seu lado, as mutações não criam informação genética complexa e especificada no genoma. Antes destroem o genoma, como mostram as doenças que temos e que herdamos. Por sua vez, Galileu era criacionista.

Paulo Gama Mota disse...

Anónimo,

Garanto-lhe que você nasceu, embora não tenha estado lá para ver. A sua lógica é a de uma batata. Voçê acredita que um Deus o criou mas também não esteve lá para ver. A diferença é que eu me baseio numa regularidade da natureza que tem sido confirmada sistematicamente.

As propostas IDiotas só podem fazer-nos recuar aos tempos do abade Thomas de Cantimpré. Aliás estou a ser injusto para Cantimpré. Ao menos ele tinha um espírito aberto e queria conhecer o mundo, mesmo dentro das limitações do seu enquadramento teórico.

Não é certo se a Lucy é uma nossa antepassada directa. Pode ser que seja ou que seja outro primata muito semelhante. Mas - vou dar-lhe uma notícia - isso não é muito importante.


É falso o que afirma sobre Richard Leakey - e já estamos habituados a distorções sistemáticas dos factos pelo grupinho.

Essa das extinções parece o Cuvier. Mas, isso já foi há mais de 200 anos. Veja lá se se actualizam.

Há mais de 700 espécies de ciclídeos no lago Vitória em África. E todos existem há menos de 4 mil anos. Porque o Lago Vitória não existia antes!

A leveza com que a ignorância postula a ignorância dos outros é confrangedora. E não há pachorra para tanto disparate junto.

Anónimo disse...

Há pouco tempo tive o prazer de participar num Colóquio: "Darwinismo versus Criacionismo. Onde começa e onde acaba uma teoria científica?" que decorreu na Faculdade de Ciências de Lisboa, na qual sou estudante. De entre vários cientistas, professores, filósofos e inclusivamente defensores do criacionismo (que me recuso a chamar cientistas), todos tiveram oportunidade de falar e expressar a sua opinião. No final ainda houve tempo para uma discussão, onde por "acaso" o único defensor do criacionismo presente na sala não pôde participar devido a um compreensível compromisso.

No entanto, ainda ouvi a apresentação desse senhor, que dá pelo nome de Jónatas Machado, a defender e argumentar a "teoria" criacionista.
Não pude deixar de notar, depois de ter lido mais alguns argumentos, desta vez vindas de "anónimo", em algumas semelhanças no discurso: a primeira delas, e respondendo também a Fernando Dias, é a incapacidade dos criacionistas apresentarem dados novos e argumentos próprios, que defendam a sua "teoria", em vez de tentar ao máximo ridicularizar e desmentir dados científicos sólidos, que resultaram de décadas de trabalho por parte de investigadores competentes.
Em segundo lugar, a crença desmedida por parte desses defensores, que se sobrepõem largamente à razão e que os impede de acreditar em qualquer coisa que seja que envolva evolução, sem que tenha tido um toque divino de uma entidade "Inteligent".
Terceiro, e penso que o mais grave de todos, principalmente quando se quer ter uma discussão séria e minimamente intelectual e culta, que é a tremenda falta de conhecimento científico básico (se calhar um pouco devido ao segundo ponto que referi). Porque quando eu tenho a infelicidade de ler coisas do género "Os fósseis não provam a evolução" ou "mutações não criam informação genética complexa e especificada no genoma" eu fico realmente preocupado com a falta de conhecimento científico que existe na população. Penso que discutir qualquer coisa em ciência com uma pessoa que diz este tipo de disparates passa a ser um insulto ao intelecto.
Finalmente gostaria de acabar este meu comentário com um pequeno esclarecimento científico, dizendo que a Evolução é um facto! Ela realmente ocorre. Um facto é uma hipótese, que de tão bem suportada pela evidência, consideramos como verdade (Futuyma, 2005). O que está em causa é a Evolução como teoria, e aí sim, existem muitas discussões entre os cientistas.
Resumindo, quero dizer com isto que a evolução é algo que de facto ocorre, é uma verdade, ela é observável. O processo como ocorre é uma discussão em aberto, onde existem várias Teorias para explicar a mesma Evolução (e se calhar nunca se saberá bem qual a correcta).

Diogo Rombo

Haddammann Verão disse...

"Esotérico?" ... Pode ser que tenhas tido essa suspeita por constar num texto que postei a frase: "(Ei! Tá vendo é Ciência!". A moçada fica fula contigo. "Pô, Haddammann, detona logo com esse cara!"; "Ele tá parecendo com esse pessoal que pósa de superior, mas a Terra tá aí em prejuízo ambiental, e muitas sociedades (des)governadas por embusteiros e usurpadores"; "Será que ele tem uma corda no pescoço e um punhal apontado pro coração?"; "Que negócio é esse de 'esotérico'?". Moçada, o cara é baum. Ele se equivocou: Se prestar atenção verá que referi-me aos espíritas que cismas que a babozeira e plágios em que nadam é ciência.
05 de fevereiro de 2009.
O Mais Terrível Mêdo e Sentimento do Ser Humano.

Recue. Puxe o fôlego para encarar. Este é o texto do ultimato; o fecho do desenlace. O documento de decisão da consciência. O ser humano se encontrará agora diante de seu mais temível, e jamais sondado, MÊDO, que está dentro, frio, calado; mas que esmagaça suas entrâncias. Porque esse mêdo soma um sentimento quase intraduzível que reúne a um só tempo: o sentir-se sozinho, impotente, sem absolutamente o que possa referenciá-lo. E esse sentimento está recôndito no mais cruel fato, no mais duro pensamento; que só em se insinuar perto da consciência estremece um calafrio de pavor, e o ser humano se esconde e faz tudo para não ter de vê-lo; porque ele agita até toda sua identidade, e ele prefere a exclusão do pensar do que deparar com tal embate psicológico … porque não é dor … é o encontro com o não ser … de não ser encontrado como existência, de não ver referência que dê sutento ao seu existir.

Existe algo estranho numa jornada de vida, não há como saber quanto está alinhavado cada nó do bordado onde cada um de nós toma e retoma sua linha de história; e é esse esquivo fenômeno que fêz neste exato momento essas linhas que você lê.

Talvez não haja neste instante em toda a extensão deste globo alguém com uma história tão absolutamente posta como traço desde a natura tenra até ao alcance de ter o peso de deflagar um juízo sobre uma nação, sobre uma civilização, sobre uma espécie.

Os olhos humanos vêem nitidamente o cirandar dos rumos, o voleio dos ventos, tomando o volume do assombro repentino, e vê o correr espavorido e galopante do desgraçado arrogante e do covarde a encarar o relâmpago estampado diante de seu lívido olhar sem mais tempo algum diante de seu montante de estupidez e inútil futilidade.

Nos dias idos nossos ancestrais se apavoravam com o temor de não ter onde pisar, o que o cobrir, o que o sustentar. E ao pensar que a Terra seria um platô, um “plano” sem fim, só lhes cabia ver o “em cima” como céu; e imaginar que quando o chão se revolvia debaixo de seus pés, que lá em cima poderia estar a segurança. “O que sou?” … “Como poderei assegurar minha vida?”. Esse tormento psicológico terá se insinuado antes mesmo de qualquer um de nós ter tido a conquista do falar, ou, do claro pensamento expresso no falar.

O relâmpago riscava assombrosamente no céu, a Terra se enfurecia abrindo chanfros enormes nos solos que pareciam tão calmos e seguros. “Onde estou?” …

E foram-se os tempos … E uns rumaram pros confins do mar e não voltaram; “Caíram num abismo” …
Uma nova inferência surgia; “O que há mais que não sabemos” …

Mêdo. “Eu posso falar, e pergunto, e nós nos perguntamos”; “Que segurança há pra nós nesse solo, que abruptamente nos surpreende? “E vemos catástrofes e fúrias de fogo e água e gêlo” …

Assim nossos genes em nossos pais se impregnavam de impressões de cuidados e insegurança. Tínhamos que procurar amainar nossa jornada de vida. E nós nos arrumávamos socialmente e começávamos a montar nossas casas e a ter os mesmos sentimentos de tê-la em segurança como os que tínhamos em esperança dum amainar de TEMPERAMENTO do ambiente (às vezes repentinamente hostil) que nos inquietava.

Queríamos o conforto psíquico do sossêgo. E inventamos um “regente” que se comiserasse de nosso temor e no qual pudéssemos aplacar nosso receio de corte de vida sempre iminente. E inventamos nossas supertições. E simbolizamos nosso Mẽdo. E criamos um “deus” terrível. Totalmente associado ao nosso sofrimento e nossas frustrações e esperanças. E as inferências se propagaram e tornaram-se crenças. Começamos a dotar nossas sociedades de rituais de consôlo, e víamos que era bom que fosse assim. Éramos tribais. Rudes. Infantes como seres vivos; inflamados de violentos temores e sentimentos.

Quando alcançamos o estágio da polis, das cidades, à medida que rompíamos o cordão da rudeza selvática e nômade também já deixáramos a crueza da caça aberta e retínhamos em controle o que domesticávamos e o que comeríamos. Aplacávamos aos poucos nosso maior mêdo; mas também já não o discutíamos, e o perdíamos no nosso subconsciente. E nossos símbolos tornavam-se severamente cruéis. Descobríamos que por eles então podíamos escravizar nossos próprios semelhantes; e torná-los como reses, como bichos amedrontados. Já não endeusávamos nossos símbolos para protegermo-nos de nossos receios e pressentimentos; criáramos a mentira acintosa, usurpadora de todos os direitos de nossa liberdade civil: Inventáramos a Religião. Uma pantomima de efeito civil catastrófico, tão mais daninho à sociedade do que todas as catástrofes naturais.

Hoje temos os políticos escorados em um auge do embuste dessa pantomima; ávidos por nos manterem cegados; cuidando sempre do domínio de nosso estado civil escravo (fartamente açulado pelas frases insanas dos manuais de embustes); mas de maneira nenhuma cuidando da melhoria de nossa sociedade. Todos os desenvolvimentos genuínos emperram com entraves estapafúrdios e venerados pelo açulamento de nossa própria escravidão psicológica. Sucumbimos geração após geração, degenerando-nos como espécie, enfeiando-nos como seres, e já comprometendo gravemente a Terra com nossa própria invencionice, que se transformou numa armadilha psíquica de alto dano civil.
O Dossiê Haddammann Parte 6

Cláudia da Silva Tomazi disse...

De boa emissão o projecto turva.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Sim. São compreensiveis , da natureza .

EMPIRISMO NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES E NO DE ROGER BACON, MUITOS SÉCULOS DEPOIS.

Por A. Galopim de Carvalho   Se, numa aula de filosofia, o professor começar por dizer que a palavra empirismo tem raiz no grego “empeirikós...