quinta-feira, 28 de abril de 2011
DOGMAS
Texto de Hugo Penedones incluído no seu livro electrónico "A Nossa Vez":
Nos últimos anos temos assistido a um debate aceso nos Estados Unidos quanto ao papel da ciência e da religião. Movimentos religiosos conservadores defendem que se devem ensinar as teorias criacionistas nos programas escolares, lado a lado com (ou mesmo substituindo) as teorias evolutivas de Darwin.
Ter uma educação sobre a história das religiões do mundo, é certamente algo de muito útil. É uma peça fundamental da nossa cultura. No entanto, será que o Criacionismo e a Evolução são duas teorias igualmente válidas? Será que os cientistas acreditam na Evolução da mesma forma que os religiosos acreditam no Criacionismo?
A resposta é um estrondoso “não”!
E a explicação é muito simples, como Richard Dawkins descreve no seu fantástico livro “The God Delusion”: para um cientista, o que conta é o teste da realidade. Um cientista “acredita” na teoria de Darwin enquanto toda a evidência experimental a suportar. Se amanhã aparecerem fósseis de espécies consideradas “recentes” e se forem datados como tendo centenas de milhões de anos, algo tem de ser revisto. A atitude científica seria de imediatamente dizer: “a teoria de Darwin estava errada ou incompleta. Temos de encontrar uma melhor!”.
Por contraposição, para um crente dogmático, a realidade não importa. Mesmo que tenhamos toda a evidência para suportar a evolução das espécies (testes de DNA, registo de fósseis, etc.), um crente continua a “acreditar” que Deus criou o homem diretamente. E a mulher a partir de uma das suas costelas!
Mesmo havendo evidência de que a idade do planeta Terra é cerca de 4500 milhões de anos, um crente continua a defender que o mundo foi criado há menos de 10 mil anos. A partir do nada, em 7 dias.
Esta atitude seria engraçada se não tivesse uma propriedade: é perigosíssima.
As crenças dogmáticas são perigosas na religião e também na política. Não sei os números exatos, mas os dogmas devem ter servido para justificar uma grande percentagem de guerras no mundo. Desde as Cruzadas, passando pelas Guerras Mundiais, até à Guerra fria. E continuamos a lutar por dogmas. Gostamos de matar por isso.
Se defende uma ideologia pré-definida, que nunca se questiona, um dia vai estar errado(a) e não se vai aperceber. Se escolher ser “Marxista”, “Capitalista”, “Anarquista”, ou qualquer outra teoria “completa”, corre o risco de fechar os olhos para o mundo.
Como disse Einstein: “A verdade é aquilo que passa no teste da experiência.”.
O que precisamos é de pessoas que aceitem a realidade como ela é e que façam o seu melhor para a transformar de acordo com os interesses comuns - os interesses que todos partilhamos.
Hugo Penedones
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10 comentários:
Estes confrontos entre ciência e religião são sempre interessantes de seguir. Joseph Ratzinger deu o seu contributo recentemente. Na revista LER deste mês há um pequeno artigo (págs. 38-41 e 88)de Henrique Raposo que sintetiza, de uma forma curiosa, outra vertente desta temática.
"Para Ratzinger, Dawkins&Cª não desrespeitam a humildade epistemológica que está no coração da ciência. Quem defende a ciência pode dizer que Deus não existe (uma crença), mas não pode invocar a ciência para afirmar que Deus não existe (uma farsa)."
NF
Os mitos da ciência dão-me pânico. Dá-me pânico saber que os cientístas são de uma ingenuidade absurda, quase infantil. Mais do que saber história da religiões, os cientístas deveriam aprender epistemologia durante a sua formação. Porque se o soubessem saberiam como é patética a afirmação: "para um cientista, o que conta é o teste da realidade. Um cientista “acredita” na teoria de Darwin enquanto toda a evidência experimental a suportar."
"evidência experimental", o que é isto? Newton, Galileu, Bohr, Einstein, Dirac, Darwin, etc, etc, nenhum deles teorizou a partir de "evidências experimentais". E, curiosamente, todos eles foram tremendamente conservadores. Newton sempre atomísta. Galileu sempre aristotélico no movimento dos planetas. Bohr nunca acreditou nas partículas sub-atómicas. Einstein nunca acreditou na Mecânica Quântica. Dirac odiava essa coisa das experiências. Darwin ocultou todas as "evidências" que iam contra a sua teoria. Os cientístas deveriam ser como defende o Popper. Mas são mais como o que defende Lakatos, senão mesmo - e isso é arrepiante - como afirma Kuhn.
"Mesmo havendo evidência de que a idade do planeta Terra é cerca de 4500 milhões de anos, um crente continua a defender que o mundo foi criado há menos de 10 mil anos. A partir do nada, em 7 dias."
Caro amigo, um crente não são Todos os crentes, é só um.
Nuno Castel-Branco
Sem querer ser desagradável tenho outro entusiasmo.
A motivação para guerra nasce da tiraria humana, e a tirania da obscuridade.
Por conseguinte conflitos de todo gênero são frutos de discordância, insatisfação e espaço, as quais as leis da seleção natural ditam a liderança.
O projeto humano versa pela potência da descoberta, enquanto é identidade por objeto de sua verdade. O homem é um ser em busca de evolução. A sede e o fascínio pela proximidade da natureza das coisas a que desta relação em comunhão aos elementos, têm a mesma força de sua realidade, enquanto existência da resposta o impulsiona avante para o despertar. O ato da descoberta é o ato de descobrir-se.
Quanto ao humano que remonta pela consciência de sua longevidade enquanto espécie sobre a terra, tem se distanciado do primitivo, mais está condenado à convivência com o primitivo, enquanto não consciência da sua verdade (identidade) pela realidade que o cerca do não saber (base de conflito).
A qualidade do Dogma concorre para vertente do re- ligare, como conteúdo do imaginário e que portanto ocupa espaço, por proporcionar a disciplina na mobilidade desta evolução e ao que o homem somente avança para defender ou provar sua crença ou lei de razão.
São as religiões, parte fundamental do motor humano através da possibilidade metafórica para arte, invenção e procriação, aplicado ao modelo da criação divina, pois o criar desde que o mundo é mundo, é apenas atribuído a Deus, como ordem ao caos. No entanto, não vejo uma secção entre um humano 2,5 milhões de anos, porque este conserva o mesmo medo pelo que desconhece e faz arte ou inventa, mesmo antes de ser considerado capaz para tal, sendo que este homem anterior a crença, já é levado pelo ato de sobreviver a morte, mediante ao registro do apego à sua existência.
Desculpe, são pensamentos originais e lançados pelo que vejo quando às vezes, há descuido em valorizar discussões sem sentido, quando devemos dar exemplo da pacificação e disseminação do saber, a não atiçar as diferenças.
"Será que os cientistas acreditam na Evolução da mesma forma que os religiosos acreditam no Criacionismo?
A resposta é um estrondoso “não”!"
Estrondoso mas apesar disso, da minha experiência, frequentemente surpreendente para os crentes por julgarem que a ciência é a religião dos cientistas.
Certa dia, há muitos anos, bateram-me à porta duas jovens de um igreja (não me recordo qual). Ao perceberem que era ateu, perguntaram-me, literalmente: "Acreditas naquelas coisas que te ensinam na escola, não é, o Big Bang?". Eu respondi que sim mas que era só uma teoria, a que me parecia mais provável mas que a qualquer altura podia-se concluir que afinal estava errada.
A reacção foi de duas caras de total confusão que nunca mais esqueci.
Os dogmas são, entre outras coisas, uma reacção humana, natural, à insegurança provocada pela incerteza (quem não se lembra do que é ser criança?). Como tudo o resto, devem ser discutidos, de forma aberta. Sem dogmas...
Nem poderia ser diferente para uma questão que implicam fé e princípios.
E que malícia, poderia compactuar ao que subestima a classe científica, inclusive por fazer do que seja natural talvez, um “não” passar-se por estrondo. Ao nem ser crueldade a nuance da especulação. Ou, seria?
Já cheira mal a questão
entre a crença e a ciência:
são coisas que, em sua essência,
não têm qualquer relação!
JCN
Eu peço desculpa, mas é um bocado complicado falar de dogmas, quando eu leio a seguinte frase deste texto:
"Não sei os números exatos, mas os dogmas devem ter servido para justificar uma grande percentagem de guerras no mundo. Desde as Cruzadas, passando pelas Guerras Mundiais, até à Guerra fria. E continuamos a lutar por dogmas. Gostamos de matar por isso."
Não sabe os números exactos e apenas presume (ergo crê, ergo acredita) que toda e qualquer atrocidade atrocidades estejam relacionadas com "dogmas".
E talvez por experiência, eu não percebo a denominação de "capitalismo" como uma ideologia, quando na verdade apenas é usado para explicar um sistema completamente orgânico de responsabilidade individuais.
Percebo que é o inverso do colectivismo, que coloca o ser humano como um grupo homogéneo removendo qualquer espírito critico e sem qualquer obstáculo metafórico. É por isso, que muitas vezes, o "bem comum" ou o "bem da maioria" é muitas vezes contra-producente em salvaguardar os direitos de todos, incluíndo as minorias.
Outro pormenor que gostaria de salientar, a questão dos 7 dias e caso não estejam a ver a questão, toda a nossa existência temporal decorre precisamente numa semana, e teve de ser ajustada ao longo dos anos, pois inicialmente um ano era especificado como tendo 10 meses.
A questão temporal é importante, porque qualquer pessoa minimamente informada sabe dizer 65 000.bc e 1965.ac, se é que me estou a fazer entender.
Obrigado pela atenção e tenha um bom dia.
Desculpe, caro anónimo das 18:27: onde é que Vossemecê viu que "inicialmente um ano era especificado como tendo 10 meses"? JCN
O link para o livro nao funciona.
Aqui fica o endereço correcto:
www.anossavez.net
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