domingo, 17 de abril de 2011

A democracia de opinião

A frase que a seguir reproduzo, da autoria de Jean-Marie Colombani, em 2006 director do jornal Le Monde, não é propriamente actual nem explica completamente o actual estado da democracia na Europa, mas tem algo de premonitório em relação ao actual estado da democracia na Europa ...

“Estamos a passar de uma democracia representativa — com intermediários fortes e poderes equilibrados que se contrapõem — para uma democracia de opinião. Só que ninguém sabe como ela funcionará, qual é o seu ponto de equilíbrio e não está garantido que seja mais democrático do que o actual. O populismo a que assistimos hoje na Europa mostra que as coisas podem correr mal."

Referência: Colombani, J-M. (2006). O futuro é a Internet. Expresso (Actual), de 22 de Abril , 18-19.

3 comentários:

Cisfranco disse...

As coisas podem correr mal, mas para mim o populismo parece-me que não tem grande hipótese, simplesmente porque a coisa está tão má que praticamente já ninguém acredita na garganta dos populistas. Prometer o quê? Já se prometeu tudo e a maior parte ficou por cumprir como não podia deixar de ser. Agora resta a triste realidade e só falta que apareça o líder que, entendendo a situação, tenha também o condão de a saber explicar bem ao Povo, arregace as mangas e nos contagie a todos a trabalhar, trilhando o caminho da produção nacinal, nas PME's, na agricultura, nas pescas e por essa via (porque não há outra)travar o nosso endividamento.

joão boaventura disse...

O extracto da frase relembra uma chamada de atenção da Hannah Arendt que, no seu "La crise de la culture, vérité et politique" (Gallimard, 1972) escreveu:

"Os factos são a matéria das opiniões, e as opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões, podem diferir amplamente e permanecerem legítimas, desde que respeitem a verdade dos factos. Liberdade de opinião é uma farsa, se a informação sobre os factos não é garantida e se não são os próprios factos que constituem o objecto de debate."

De certa forma encaminhou-me para a leitura do velho e sarcástico Luigi Pirandello, neste trecho do "À chacun sa vérité", quando teatraliza:

"Mme Sirelli - D’après vous, on ne pourra jamais savoir la vérité ?
Mme Cini - Si on ne peut même plus croire à ce qu’on voit et à ce qu’on touche !
Laudisi - Mais si, Madame, il faut y croire ! Seulement, je vou le dis : respectez ce que voient et ce que touchent les autres, même si c’est le contraire de ce que vous, vous voyez et touchez."

O teatro da vida retratando, de diversas formas, o mesmo tema. Não há volta a dar, porque o palco é o mesmo, ainda que os actores sejam outros.

Anónimo disse...

Tem muitas faces a democracia,
seja ela ou não de base partidária:
o que não pode nunca é ser contrária
ao desempenho da cidadania!

JCN

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