Em que acredita um cientista?

Excertos da minha recente intervenção feita em Coimbra a convite do Instituto Justiça e Paz, sobre aquilo em que acredita um cientista (estou mais a pensar num físico, sei que há várias formas de fazer ciência):

- O cientista começa por acreditar que a ciência – a descrição e explicação do mundo - é possível através de trabalho continuado, quer dizer, que é possível saber mais sobre o mundo a partir do saber que os outros lhe deixaram (pode-se "subir aos ombros de gigantes", para usar a expressão de Newton).

- O cientista acredita que é possível usar com êxito o método científico, baseado na observação e na experimentação, para saber mais a respeito do mundo, isto é, que o mundo revela a sua ordem quando interrogado de uma forma metódica.

- O cientista acredita que é possível convencer os outros das conclusões a que chegou, quer dizer, que a ciência é propriedade de todos e não de um só, sendo comuns os valores da experiência e da razão.

- O cientista acredita que existem leis ou regularidades no mundo. E começa por acreditar nas hipóteses que sujeita à prova para confirmação... E deixa de acreditar nelas se as provas não as confirmarem.

- O cientista acredita que a ordem do mundo é descrita pela matemática, isto é, que o mundo é matemático (Galileu afirmou que "O Livro da Natureza está escrito em caracteres matemáticos".)

- O cientista acredita que as leis da Natureza são universais e funcionam sempre, isto é, existem causas universais que provocam a, partir das mesmas condições iniciais, repetidamente os mesmos efeitos.

- O cientista acredita que pode relacionar o que parece estar separado, isto é, que são possíveis descrições ou explicações do mundo gerais e simples.

- O cientista acredita que as previsões fornecidas por leis científicas vão ser confirmadas. Se não o forem, reformula as leis científicas...

- O cientista acredita que existe um mundo objectivo independente da sua intervenção... (Bem, nem todos acreditam, mas Einstein acreditava!)