“Onde Sancho vê moinhos / D. Quixote vê gigantes. / Vê moinhos? São moinhos. / Vê gigantes? São gigantes” (António Gedeão, 1906-1997).
Numa altura em que “dois capitães de Abril” (para mim, apenas, capitães de um exército que servi com muita honra como oficial miliciano), Otelo e Vasco Lourenço, se encontram desavindos publicamente sobre as razões que conduziram ao chamado "Movimento dos Capitães", para Otelo razões de natureza profissional, para Vasco Lourenço razões altruístas para mudar o rumo do país, julgo de interesse cultural, quanto mais não seja, a transcrição deste texto de Fernando Pessoa, figura ímpar da Literatura Portuguesa:
“Todo o dia a sua desolação de nuvens leves e mornas, foi ocupado pelas informações de que havia revolução. Estas notícias, falsas ou certas, enchem-me sempre de um desconforto especial, misto de desdém e de náusea física. Dói-me na inteligência que alguém julgue que altera alguma coisa agitando-se, A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana. Depois todos os revolucionários são estúpidos, como, em grau menor, porque menos incómodo, o são todos os reformadores.
Revolucionário ou reformador – o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.
O homem de sensibilidade justa e recta razão, se se acha preocupado com o mal e a injustiça do mundo, busca naturalmente emendá-la, primeiro, naquilo em que ela mais perto se manifesta; e encontrará isso em seu próprio ser. Levar-lhe-á essa obra toda a vida.
Tudo para nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, modificar o mundo pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós” ("Reformar é não ter emenda possível", in “O Livro do Desassossego”).
Na imagem: Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho.
5 comentários:
Revolucionário ou reformador – o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.
Até pode ser mas é da natureza humana
tentar mudar o mundo para melhor estarmos nele instalados
quer fosse por razões profissionais -a maioria principalmente os da artilharia de Vendas Novas(os capitães milicianos que subvertiam a hierarquia das promoções de resto dos que ficaram em Vendas Novas alguns eram ex-sargentos que tinham ascendido de tenentes e a capitães durante a guerra
curiosamente nenhum destes capitães vindos da classe de sargentos chegou acima de major
(artilharia tinha mais vagas, um ou dois mais novos de cores partidárias interessantes chegaram já na reserva a tenentes-coronéis
Quando se pensa que os restantes passaram todos do corenelato pra cima...
eram all truistas
truismos desta vida
ou por bondade extrema ou martelados por ideologias várias
excepto os que foram saneados
Brigadeiro Passos Morgado para reitor na Covilhã
General otelo para coronel
etc etc a história desse pessoal é muito intressante
isso faz lembrar a carrada de brigadeiros com 40 e muitos anos que andam na força aérea
e nem são de chocolate
e o Otelo era major
falar de capitães de Abril...é esquecer todo o restante pessoal que tinha mais a perder se desse pró torto
os capitães iriam prós Açores
os praças e sargentos iam pra áfrica
Ao fim e ao cabo, quanto às razões subjacentes ao 25 de Abrol, há tantas versões... quantos são os portugueses! JCN
Ao fim e ao cabo há gente com memória
e gente desmemoriada ou com falsas memórias
ou daquelas que ficam bem em livros de memórias
Associação de amizade Portugal-URSS
é verdade já nã há URSS
Felizmente! JCN
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