quarta-feira, 20 de abril de 2011

PÁSCOA EM…LUA CHEIA



Crónica publicada no Diário de Coimbra.

Porque é que a Lua está sempre em fase cheia na semana Pascal?

Desde os primórdios da cristandade que a data da Páscoa, dia em que se celebra a ressurreição de Cristo, é fundamental para a estruturação de todo o calendário litúrgico cristão.

A determinação inequívoca do dia da Páscoa para que esta seja celebrada no mesmo dia do calendário por toda a cristandade, independentemente da sua localização geográfica, constituiu um problema que só foi normalizado no primeiro concílio de Nicéia em 325 d.C.

Nesse concílio, convocado pelo imperador romano Constantino, foi determinado que o dia da Páscoa fosse celebrado no primeiro Domingo depois da primeira Lua Cheia que ocorra em ou logo a seguir ao equinócio da primavera, no hemisfério norte (21 de Março).

Mas a determinação do equinócio, através do calendário então seguido, não garantia uma “coincidência” entre a previsão e a realidade, por imperfeição contida no mesmo. O calendário Juliano (assim designado em honra a Júlio César) em vigor ao tempo do primeiro concílio de Nicéia continha em si uma imprecisão de cerca de 11 minutos e 14 segundos em excesso em cada ano.


Por volta de 1582, a inexactidão do calendário Juliano teve como resultado que o equinócio da primavera ocorreu no dia 11 em vez de 21 de Março como se esperaria. Este desfasamento, introduzia erros no calendário religioso cristão e, na prática, o dia de Páscoa era celebrado em dias diferentes em diversos pontos do hemisfério. Era preciso fazer alguma coisa para reacertar o calendário oficial.


O Papa Gregório XIII (1502 - 1585) criou uma comissão liderada pelo jesuíta matemático e astrónomo Christoph Clavius (1537-1612) para resolver o problema. É de referir que este Papa terá convidado primeiramente o matemático português Pedro Nunes (1502 - 1578) para solucionar o problema, mas este morreria antes de acabar essa tarefa.


Na sua bula Inter Gravissimas, o Papa Gregório XIII consagra o trabalho matemático e institucionaliza o calendário que ainda hoje seguimos no ocidente e que tem o seu nome (calendário gregoriano). Resulta de um muito satisfatório conjunto de regras de acertos regulares nos anos ditos bissextos, o que assegura um compromisso aceitável na predição dos movimentos relativos de translação da Terra ao redor do Sol e da Lua em redor da Terra.

Acrescente-se, contudo, que a determinação do dia de Lua Cheia, para a determinação do domingo pascal, não faz uso das tabelas astronómicas, mas sim do definido nas Tabelas Eclesiásticas que, apesar de não incluírem com rigor o movimento complexo da órbita da Lua, são suficientes para permitir uma regular e uniforme determinação de um mesmo momento por toda a cristandade, independentemente da sua latitude e longitude.

António Piedade

4 comentários:

Anónimo disse...

Haverá, caro Dr. António Piedade, qualquer razão, de ordem estética ou outra, para lexicalmente preferir o termo "pascoal" a "pascal", mais corriqueiramente português?! JCN

António Piedade disse...

Caríssimo amigo
Já corrigi a falta que foi uma demanda inconsciente sem explicação estética que a suporte.
Uma feliz Páscoa para si e para os seus.

António Piedade

Cláudia disse...

Feliz Páscoa! Para António Piedade e aos familiares.
Que estendo aos demais, De Rerum Natura.

Cláudia da Silva Tomazi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

UM TIPO DE CENSURA DE LIVROS AINDA SEM DESIGNAÇÃO

Não sabemos ao certo, mas podemos colocar a hipótese, muito plausível, de a censura da expressão humana, nas suas mais diversas concretizaçõ...