terça-feira, 26 de abril de 2011

Clonagem, no Ciclo Fronteiras da Ciência em Coimbra

Informação recebida do Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho relativa uma palestra sobre Clonagem na 6ªfeira, 29 Abril, às 21h15, no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho, em Coimbra:

O tema da Clonagem (ou mais correctamente, o tema da Transferência Nuclear Somática), entrou de súbito no léxico e imaginário populares em 1996, com o nascimento da ovelha “Dolly”. Nunca tanto foi dito e escrito, especulado e exagerado a propósito de uma única ovelha. No entanto, a investigação nesta área era bastante antiga, remontando à década de 1950, e pretendia responder a uma questão de ciência básica muito simples. Uma célula de um embrião tem a possibilidade de formar muitas células diferentes. À medida que o embrião se desenvolve as células perdem essa capacidade, vão sendo cada vez mais especializadas e passam a desempenhar funções muito específicas no organismo. Um pouco à semelhança da escolaridade, onde a escolha de ramos, áreas ou cursos vai progressivamente limitando as saídas profissionais dos alunos. Chama-se a esse processo Diferenciação. Mas será possível voltar atrás no tempo e transformar uma célula especializada (da pele, do sangue) de um indivíduo adulto no equivalente a uma célula embrionária? Será possível reprogramar uma célula adulta para ser outra coisa? A Clonagem é uma das abordagens a essa problemática, que não se limita a tentar reproduzir cópias idênticas de indivíduos, algo de resto impossível. Mesmo que conceptualmente simples de explicar, a técnica levanta inúmeras questões científicas, técnicas e éticas. As questões científicas e técnicas, relacionadas com uma taxa de sucesso muito baixa e variável de espécie para espécie, e com várias malformações em fetos clonados, são universais. Já as questões éticas não o serão tanto.

A Clonagem é também um tema fascinante porquanto, se continua a ser muito debatido na sociedade, a verdade é que muito poucos investigadores trabalham neste tópico, e o mesmo não é considerado pelos especialistas particularmente interessante. Isto porque surgiram entretanto outras técnicas para reprogramar células, como a Pluripotência Induzida, mais simples, menos complexa do ponto de vista ético e mais reprodutível do que a Clonagem, apesar de ter também as suas limitações. Uma característica importante da noção das Fronteiras em Ciência é estarem em constante mutação, nunca ficando onde as julgamos encontrar.

João Ramalho-Santos
Centro de Neurociências e Biologia Celular
Departamento de Ciências da Vida
Universidade de Coimbra
jramalho@ci.uc.pt

1 comentário:

José Batista da Ascenção disse...

Que jeito que um texto tão curto, tão simples e tão claro dava nos programas de biologia (e geologia!) do ensino secundário, nos manuais e nos cadernos/livros de exercícios. É certo que os professores dizem isto aos alunos, mas as tranquibérnias lexicais de certos escritos relativos ao assunto são capazes de provocar a maior perplexidade no mais paciente dos espíritos.
E por isso o ensino da biologia no ensino secundário se tornou (n)uma mortificação.
De que quase nenhum indígena se atreve a queixar-se.
Obrigado ao autor.

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