sábado, 16 de abril de 2011

As pessoas ficam nervosas...

Na sequência do texto "A palavra começada por ene" recupero parte de uma entrevista, que aqui reproduzi, a um professor americano - Sam Pickering - e publicada na revista World Media.

Põe este professor a tónica num aspecto se me afigura muito preocupante no ensino: para evitar eventuais melindres entre alunos e/ou com os alunos (com estensão às suas comunidades de pertença), contorna-se ou reinventa-se a realidade. Acrescenta-se a recomendação aos educadores para que sejam absolutamente neutros e, assim, se abstenham se orientar os alunos em que sentido seja.

E, assim, o que existe de verdadeiramente digno de ser ensinado fica pelo caminho ou é mistificado.

World Media: E o que acha do valor cada vez maior que se dá ao multiculturalismo nas escolas.

Pickering: É bom pensarmos que sim, mas, na realidade, não acredito que funcione. O multiculturalismo é muito superficial. Não sei se ele existe e de certeza que não acredito estou convencido de possa ser ensinado (...) temos tendência a falar de banalidades. O que pode realmente aprende, quando a primeira história que você lê é da autoria de WASP (branco protestante de origem anglo-saxónica) do Mississipi, a segunda é de uma índia americana lésbica, a seguinte, é de um Amã sobrevivente do Holocausto e, outra, de um escritor sul-americano? Fartamo-nos de ler histórias e os garotos não se lembram delas. Nem chegam sequer a afectá-los. Todos os anos, em todas as turmas, os meus alunos embirram com a matéria sobre os americanos índios, fartam-se daquilo, desprezam-nos, não querem ouvir falar dos índios. Em vez de os tornarmos mais sensíveis, marcamo-los. Nunca demos nada sobre os lituanos, os estónios, os ucranianos e, no entanto, temos montes de gente com essas origens. (...)

World Media: Ensinar a ser "politicamente correcto" serve a algum objectivo social?

Pickering: (...) O problema do multiculturalismo é que não se torna multiculturalismo, torna-se etnocentrismo. As pessoas deixam de falar umas com as outras porque ficam nervosas com medo de que a outra pessoa se ofenda. Hoje, quando falamos com alguém de uma raça diferente, a conversa é tão vazia que nunca conversamos sobre as coisas que interessam, pelo receio de ofendermos a pessoa. Costumo dizer à minha turma que até ao fim da aula, vou insultar todos os grupos étnicos e todas as religiões. Na realidade, não faço tal coisa, mas afirmo-lhes isto porque não quero que concordem com o que eu digo (...) Peço-lhes que procurem aprofundar um pouco para além das banalidades.

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