segunda-feira, 4 de abril de 2011

Há coisas que não devíamos tolerar...

Tenho-me detido, neste blogue, em práticas (supostamente) educativas que se me afiguram inquestionavelmente abusivas das pessoas que os alunos são. Refiro-me à exposição do que é privado e íntimo da e na sua vida aos olhares de outrem: colegas, professores, comunidade escolar (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ...).

Recentemente percebi que estes círculos, já alargados, se alargaram ainda mais… ao mundo inteiro: inúmeros blogues de turma, de escola disponibilizam fotografias dos alunos sozinhos e em grupos, dentro e fora da sala de aula, bem como os seus nomes, os seus trabalhos, muitos dos quais traduzem o que pensam e o que sentem em matérias sensíveis.

Hoje descobri que também o diagnóstico psico-pedagógico de alunos identificados como problemáticos, sob o ponto de vista da aprendizagem e do comportamento, é afixado, por várias escolas, na internet.

Desta vez não teço comentários à manifesta lógica de exibição, consciente ou inconscientemente, levada a extremos por parte daqueles que, por serem maiores e terem um especial dever de cuidado dos menores que tem a cargo, escolhem um caminho ética, psicológica e pedagogicamente errado. Limito-me a deixar um pequeno apontamento ilustrativo (omito os elementos identificativos) do que vi numa breve investigação na internet, por me ter faltado, confesso, coragem para mais investigar.

Transferências ……….,
n.º 27 – foi transferida para a Escola de ........... em .......... ….……,
n.º 28 – veio transferida da Escola de …….. em ............ Em ......... foi transferida de novo para a Escola EB 2/3 de ……... ……….,
n.º 11 – foi transferido para uma escola ............. em .................

Alunos com maiores dificuldade de aprendizagem

……….., de onze anos, tem tido acompanhamento ao nível da fala. ……….., já frequentou o 5.º ano no ano lectivo anterior – tem problemas de hiperactividade, fala e linguagem.
……….., de doze anos, que já teve duas retenções no 1.º ciclo e veio proposto para APA. O Conselho de Turma propõe desde já o Apoio Pedagógico visto que ele revela dificuldades de aprendizagem.

Alunos que revelaram dificuldades durante o 1.º período:
……….. de 10 anos, dificuldades de atenção, concentração, ao nível da expressão escrita e oral, cálculo mental e raciocínio lógico.
……….. de 12 anos, dificuldades ao nível da expressão escrita e oral, cálculo mental e raciocínio lógico.
……….. de 11 anos, dificuldades ao nível da expressão escrita e oral, cálculo mental e raciocínio lógico.
……….. de 13 anos, falta de assiduidade às aulas.

Alunos que revelaram dificuldades durante o 2º período:
……….. aluna integrada nesta turma com o número 27, em ……….., com muitas dificuldades de aprendizagem. Foi transferida em ……….. para ………...

Alunos que revelaram dificuldades durante o 3.º período:
……….. , de 13 anos, tem dificuldades de Aprendizagem e já teve retenções em anos anteriores. Em ……….. foi transferida para a Escola EB 2/3 de…...

8 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Cara Professora Helena Damião:

Fique a saber que, por via do moribundo(?) e miserável e celebérrimo sistema de avaliação de professores, ainda há poucas semanas, no afã de conseguir "evidências" para rechear o respectivo "portfólio", muitos professores do ensino básico e secundário chegavam a fotografar alunos em plena aula a... resolver exercícios no quadro! Essas fotos eram depois arquivadas em dossiês em papel ou em pastas digitais, disponíveis na rede, com o fim de impressionar da "melhor" maneira o avaliador.
Ora digam lá que não vale a pena ressuscitar e zelar por tal sistema de avaliação!
Agora, muitos professores não se estavam a preocupar em ensinar, preparar e avaliar os seus alunos. Estavam era a trabalhar para a sua própria "avaliação"...
Quem tiver a mais ténue dúvida que se informe...

Helena Damião disse...

Caro Professor José Batista da Ascenção
O que diz está de acordo com o que tenho ouvido dizer. Também percebi que a multiplicação de blogues de turma e de sala se precipitou em virtude da circunstância que refere. Mas tudo isto tem razões mais profundas e muito preocupantes. As consequências ainda não sabemos bem quais serão.
Muito obrigada
Maria Helena Damião

Fátima Lopes disse...

Meus amigos,

Vocês têm de largar o passado. O sistema de ensino vai ter de mudar DRASTICAMENTE. As crianças não são recepientes onde cada um pode "despejar" o conteúdo que bem entende. As crianças são seres humanos e precisam ser tratadas como tal. Elas precisam ser ensinadas a pensar por si próprias, não a decorar e debitar informação que na maioria das vezes já está desactualizada e não faz sentido nenhum.

Percebam os ventos da mudança e fluam com eles. Tudo o que é caduco e não funciona vai ter de ficar para trás.O actual sistema de ensino é um exemplo disso.

Vejam o que eu escrevi a propósito

http://hopeinsunrise.blogspot.com/2009/11/novo-sistema-de-ensino-precisa-se.html

E actualizem-se por favor. Chega de querer arrastar o passado para o futuro violentando todas as lei naturais.

Cumprimentos

Fátima Lopes

Anónimo disse...

Ora aqui está um tema que vale a pena comentar.
Pois é, mas é este o tipo de atitudes muito do "pedagogicamente correcto" que está instituído por todo o lado no sistema vigente e que começa logo a ser inculcado na formação de professores.
Enfim, como tudo na área da educação há quem considere muito positivo e quem questiona estas coisas "muito modernas" com as TIC à mistura, é logo apelidado de "Velho do Restelo"...
E eu que nem sou uma coisa nem outra...
Isto cansa-me...
O excesso de pedagogice, os supostos problemas de aprendizagem dos meninos, quando na realidade o que eles têm é uma tremenda falta de educação, mas isso ninguém admite sem posto em causa nem pais nem professores...
Ao ponto que isto chegou, temo que não haja ponto de retorno, que o caminho será sempre a descer, que o professor está em permanente julgamento do que faz, do que não faz, do que permite que se faça ou do que não permite e curiosamente as práticas "inovadoras" continuam a disfarçar a triste realidade da degradação e do falhanço do sistema.
Estou farto de ser conivente só para ter um emprego precário, diga-se de passagem, dentro deste sistema que apodrece diariamente.

Helena Damião disse...

Caro Anónimo
Agradecendo o seu comentário, permita-me salientar que a matéria referida no meu texto não tem qualquer fundamentação pedagógica, filosófica, ou ética. Entendo trata-se de uma ideia peregrina vigente na sociedade contemporânea e lamentavelmente acarinhada na instituição que a Escola é.
Cumprimentos,
Maria Helena Damião

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

foi mantido na escola apesar do seu comportamento agressivo
anti-social etc
um dia de suspensão por defecar repetidamente nos espaços da escola

Francisco Domingues disse...

Valerá a pena "bater" mais na educação? Os professores querem realmente ser avaliados? Apresentaram propostas alternativas e exequíveis ao modelo imposto/deposto? E os alunos querem aprender e aprender a ser educados? E os que não querem continuam, uns a dar aulas, os outros a irem à escola obrigatoriamente?
Tudo mudava se os primeiros fossem competentes e quisessem ser avaliados, e os segundos quisessem aprender e aprender a ser educados!...
Francisco, prof. quase apos.

José Batista da Ascenção disse...

Caro (colega do ensino secundário?) Francisco Domingos:

Vale sempre a pena debater a educação. É obrigação de todos os cidadãos debater, a cada momento, o sistema de educação. Julgo.

Sendo o caro Francisco Domingos professor e não tendo eu tido conhecimento de que tenha apresentado propostas alternativas e exequíveis ao modelo de avaliação de professores existente (?), posso concluir que será partidário dele?
Ora, eu dei conta, em comentário acima, de muitos professores que se esfalfam para serem avaliados. De muitas e variadas maneiras... Desconheço se serão esses os que, no seu critério, serão competentes. Mas, sempre lhe digo que há entre eles alguns que eu não quereria (aliás não quis...) para professores dos meus filhos. E poupo-me a mais acrescentos...
Mas admito que o caro Francisco, que está quase a aposentar-se, ande amarguradíssimo por deixar a escola numa altura que ela está servida por um (adequado e justo?) sistema de avaliação.
E olhe, não quero ofender ninguém, mas, se não arranjarem melhor, eu não me importo de elaborar um sistema de avaliação de professores simples e exequível (embora não perfeito) na primeira semana que tiver disponível. Só peço que não me chamem inovador e não quero que me paguem nada por isso.
Cumprimentos.

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