sábado, 9 de abril de 2011
Revisitando uma Opinião de H.G. Wells sobre Portugal
A propósito de uma sessão muito interessante sobre "Ficção Científica no Ensino da Ciência", que decorreu hoje dia 9 de Abril, de tarde, no Exploratório Ciência Viva, em Coimbra, Carlos Fiolhais guiou os presentes por uma breve visita á história da ficção científica.
Uma das constatações, muito curiosa, foi a de que a ciência moderna e a ficção cientifica nasceram num mesmo berço, pelas penas de um Francis Bacon (The New Atlantis, 1624), primeiro filósofo do método científico, ou de um gigante da ciência como Johannes Kepler (Somnium - Sonho - 1634).
Depois de revisitar vários autores incontornáveis (Cyrano Bergerac, JulesVerne, entre outros), Carlos Fiolhais deteve um pouco o nosso passeio em H. G. Wells (autor de "A Guerra dos Mundos", por exemplo) e leu uma passagem do seu livro de 1924 “A Year of Prophesying” (Fisher Unwin, Londres), cujo capítulo 25 é dedicado a Portugal. A páginas tantas Wells escreve o seguinte sobre o Portugal de então:
"Quer esteja a chover ou não, o ar em Portugal tem uma felicidade particular e as pessoas desse país deviam ser tão felizes e prósperas como qualquer povo do mundo. O país tem uma situação magnífica e grandes territórios ultramarinos. Lisboa é o porto natural da Europa para a América do Sul e para a África Ocidental. As oliveiras e as laranjeiras e espécies semelhantes podem ser aqui cultivadas nas melhores condições possíveis. A riqueza mineral é muito diversa e extensa, embora em larga medida inexplorada, e inclui filões radioactivos de importância mundial. E por aí fora. Existem todas as condições para haver uma grande prosperidade. Mas, de facto, nunca vi uma nação com um aspecto tão pouco próspero. Uma enorme pobreza prevalece em toda esta terra. Nunca vi em lado nenhum do mundo, nem sequer na Rússia, trabalhadores tão andrajosos, tão remendados e esfarrapados, tão manifestamente mal-cuidados e subnutridos. E há também numerosas doenças que podiam ser prevenidas. As mulheres estão velhas aos trinta anos, dando à luz filhos que vão morrer; os homens estão corcundas aos cinquenta. As casas mais pobres são casebres, e metade da população é analfabeta. E, no entanto, não se trata de uma população inferior."
E neste mesmo De Rerum Natura, Carlos Fiolhais já nos apresentara (aqui) as interrogações de Wells sobre Portugal.
"(...) Os comboios em Portugal estão num estado miserável e as estradas metem medo. Por todo o lado se vêem sinais evidentes de uma administração incompetente ou corrupta. Um pequeno país como este, com uma moeda instável, não consegue assegurar uma educação moderna para o seu povo. Não existe um público que leia o suficiente para manter uma imprensa com poder e uma literatura de crítica política. Os ministros não são suficientemente vigiados. E sobre as coisas que se passam nas colónias portuguesas dificilmente podemos saber alguma coisa lendo a imprensa portuguesa. Parece que não existe opinião pública que olhe para lá. Os portugueses que enriquecem nas colónias depositam e investem o seu dinheiro no estrangeiro, em geral em Londres; há uma saída permanente destes tributos do império português para os estados maiores e mais estáveis. Em nenhum lado da Europa se tem um sentimento tão intenso de um país penhorado ao capital guardado lá fora.”
Pura predição ficcionista com cerca de 90 anos de antecedência? É que salvaguardando algumas alterações geográficas no palco da ordem internacional, de analfabetismo, de saúde pública, podemos rever muitos portugueses (e não Portugal) neste retrato. Descubra as diferenças!
António Piedade
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6 comentários:
O estado de alma deste país pode traduzir-se pelo estado de alma desta canção irlandesa relativa a uma fase negativa da vida dessa não menos periférica Irlanda, tão semelhante à nossa periferia no que ela encerra de desconsolo, desastre, desconforto, iniquidade, irresponsabilidade, infantilismo governativo vitalício, e atracção pelo abismo, tradução fiel do Salmo, 41,8, "abyssus abyssum invocat".
A diferença reside na resistência irlandesa que conseguiu ultrapassar o pior cenário negro da sua vida no período de 1845-1850 conhecido pela designação The Irish Famine que vale a pena visionar, quanto mais não seja pelo enquadramento dantesco que nos espanta, e a caminho do qual, pelo quadro que, entre nós, diariamente se vai divulgando, de famílias em insolvência pela dívidas acumuladas e postas na situação de "a caminho da pobreza", a caminho da "sopa dos pobres".
O que nos permite viver ou assistir ao mundo lusitano vegetando entre a iconofilia e a iconofobia, como ocorreu ontem sexta-feira quando alternando o visionamento da RTP1, onde a iconofilia entre aplausos eufóricos se reverenciava o secretário geral do PS, com o visionamento da SIC onde a iconofobia patenteava a miséria de casais desempregados, de reformados reduzidos à sua expressão minimalista A pobreza alastra enquanto em Matosinhos se idolatra a figura que a criou.
Um dos entrevistados foi um padre de Fátima que declarou ter-se notado de há dois anos para cá uma crescente afluência de fieis à Igreja. Perguntado se isso era sinal de a fé ter voltado, respondeu: “Eu não diria tanto. Talvez uma vinculação maior à esperança.”
Há famílias que estão impossibilitadas de alimentar os filhos, porque os governos as põem nessa situação (desemprego, redução de salários) para aparecerem como os únicos salvadores a resolver os problemas. Como ? Pondo as cantinas das escolas, no período de férias, a fornecer comida às crianças deste país.
Eça de Queiroz já tinha avisado que este país será, um dia, o primeiro da Europa com tendência a desaparecer. Escreveu-o em 1900, estamos em 2000, os sinais já os prenunciam. Para a Alemanha era menos um peso, menos um incompetente no quadro europeu, menos uma pedra na engrenagem da máquina Europa.
1ºLucianus de Samósata
Λουκιανός ο sírio viagem à Lua século II d.c
já nem falo de Cyrano de Bergerac
ahora dizer que a ciência moderna e a ficção cientifica nasceram num mesmo berço,
ou que Francis Bacon (The New Atlantis, 1624), ou Kepler (Somnium - Sonho - 1634 são ficção de jêto é nunca ter lido ficção
científica ou não
pode-se arranjar um arrazoado semelhante
escrito por Karel nas cartas Anglické listy,nos anos 20
ou em Tales from Two Pockets sobre a miséria nos bairros de Londres
ou na miséria em Paris e Londres de Orwell
logo pegar nas afirmações de um turista ocasional
tendo em conta que são sempre pouco abonatórias
é o mesmo que chamar F.C a....etc
Pobre não é Portugal:
a pobreza em nós está,
uma postura mental
que dura há séculos já!
JCN
Se o nosso povo tivesse
mais alguma formação,
talvez nenhuma nação
ultrapassar nos pudesse!
JCN
Isto são mesmo textos de gajos que nunca ouviram falar da África, Darfur, Etiópia, nem da sudueste asiático nem da América do Sul. Nem da Alemanha de Hitler nem do tratamento dado aos pretos nos Estados Unidos, nem de... fico por aqui... o resto imaginem...
Se povo existe talvez
difícil de definir
sem se deixar iludir,
é de longe o português!
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