sexta-feira, 22 de abril de 2011
DEUS E OS GIGANTES DA CIÊNCIA
Minha crónica no "Sol" de hoje::
Foi o físico inglês Isaac Newton quem afirmou, numa carta escrita em 1676: “Se consegui ver mais longe é porque estava aos ombros de gigantes”. O carácter cumulativo da ciência não podia ter sido melhor explicitado. Com efeito, sem os contributos dados pelo astrónomo polaco Nicolau Copérnico, pelo astrónomo alemão Johannes Kepler e pelo físico italiano Galileu Galilei, Newton não teria podido realizar a sua notável obra que unifica os movimentos no céu e os movimentos na Terra. E, sem conhecer bem todos esses contributos (como de muitos outros), o físico alemão Albert Einstein não poderia, mais tarde, ter alargado a nossa descrição do mundo.
Que visão tinham de Deus os referidos gigantes da ciência? A Revolução Científica, iniciada em 1543 com a publicação da teoria heliocêntrica de Copérnico, ocorreu no seio de uma Igreja que vivia tempos de convulsão devido à reforma luterana. Lutero foi aliás um dos primeiros a ridicularizar as ideias científicas de Copérnico, que era cónego na catedral católica de Frauenburg. Tanto Kepler como Galileu foram ardorosos crentes. Kepler foi protestante, tendo começado por se preparar na Universidade de Tuebingen para uma carreira teológica. O seu contemporâneo Galileu foi católico, tendo estudado a doutrina da Igreja num mosteiro perto de Florença antes de ingressar como estudante na Universidade de Pisa. Kepler deu provas nos seus livros de um grande arrebatamento religioso, nalguns passos mesmo com um tom místico. E a fé de Galileu, relacionado de perto com a mais alta hierarquia da Igreja de Roma, não esmoreceu com a pena a que o Tribunal da Inquisição o condenou.
Newton era, por formação, anglicano. Tal como os gigantes a cujos ombros subiu, também ele estudou teologia. Para o sábio inglês não havia dúvidas de que o Universo era obra de Deus, iniciada na Criação e continuada depois. Porém, o seu pensamento religioso esteve longe de ser ortodoxo. Não aceitava a doutrina da Santíssima Trindade, defendendo antes que Deus era unipessoal. Teve de manter secreta essa posição até porque era membro do Trinity College na Universidade de Cambridge. E também manteve secretos alguns seus estudos sobre a Bíblia...
Einstein conseguiu, do ponto de vista religioso, ser ainda menos ortodoxo do que Newton. De ascendência judaica, nunca entrou, contudo, numa sinagoga para rezar. Não acreditava num Deus pessoal, tal como aparece na Bíblia, mas achava que o transcendente se encontrava na ordem misteriosa do mundo. O rabino de Nova Iorque perguntou-lhe um dia, por telegrama, se acreditava em Deus. E a resposta foi curta: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordenada daquilo que existe, não num Deus que se preocupa com os destinos e as acções dos seres humanos.”
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17 comentários:
Quanto mais procuro Deus
menos consigo encontrá-lo,
pois escondido nos céus
longe de mim tento achá-lo!
JCN
Mais que nos astros do céu
deve Deus estar presente
no fundo da nossa mente
que ele próprio concebeu!
JCN
Não vale a pena buscar
fora de Deus o elemento
para o seu ser comprovar
quando Ele é o próprio argumento!
JCN
Não vejo em que é que a ciência
constitua impedimento
para o nosso pensamento
de Deus supor a existência!
JCN
Para chegar até Deus
bastam-me os versos que faço
acompanhando o compasso
da sinfonia dos céus!
JCN
Se aos gigantes não foi dado
a face verem de Deus,
como havemos nós, pigmeus,
de ver seu rosto sagrado?!
JCN
Acredito no Deus Da Guerra
E Em Deimos E FOBOS
contra os cortes marchar marchar
EXISTEM VALORES COMO A DEFESA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TODOS OS MILITARES QUE TERÃO DE SE SOBREPOR A QUESTÕES FINANCEIRAS
A INSTITUIÇÃO MILITAR REGE-SE POR PRINCÍPIOS QUE ESTÃO PARA ALÉM DO SABOR DO MOMENTO
ciência? razão?
Quando ouço falar de cultura
tiro a pistola do bolso?
Princípio
Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma.
Miguel Torga,
in 'Penas do Purgatório'
Ignoto Deo
Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.
Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.
Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,
Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!
José Régio,
in 'Biografia'
A estes ddois poemas, filhos da angústia de viver dos seus autores, respondo com a minha
PERPLEXIDADE
Sejas quem fores, sejas o que sejas,
chames-te Deus ou nome equivalente,
estejas dentro ou fora das igrejas,
não te posso arrancar da minha mente!
A Ti vão dar meus pensamentos todos,
minha ânsia de saber o que me espera
após fechar os olhos, quais os modos
da tua face... amável ou severa!
Não penso noutra coisa, na certeza
de que só Tu conheces o mistério
das leis por que se rege a natureza!
A tragédia maior da minha vida,
que me recuso a encarar a sério,
seria... ela não ter qualquer saída!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Em deuses creio
Nos homens não
A guerra veio
E veio em vão
Deuses,deuses serão
Nas terras desertas
Mas os homens não
Em campas abertas
Seus ossos estão
a nã ser que a erosão dê cabo deles
há 7mil milhões de ossadas potenciais
rosas têm acúleos
nã têm espinhos
espinhos não têm acúleos
Sempre gostei muito desse pensamento e pu-lo como lema na minha tese de doutoramento. Porém, eu lera-o em Umberto Eco, e na altura desconhecia que tivesse sido promovido por Newton.
Mais tade dscobri que, de facto, Umberto Eco se limitara a repetir essa frase de Newton. E mais ou menos na mesma altura descobri também que a o próprio Newton se limitara a repetir essa frase de um filósofo medieval, que foi o seu verdadeiro autor: Bernard de Chârtes, 500 anos antes de Newton.
eu não sabia que Eintein tinha dito " a harmonia equilibrada daquilo que existe" . fiquei mesmo contente por saber que ele achava que a natureza é perfeita e equilibrada...os anões da ciência deviam meditar nisso. e deixar de desequilibrar o mundo.
É que para a satisfação humana, ou aprendizado comum prestam-se como orientações as descobertas, embora desta não apercebam de quão simbólica seja a finitude humana, diante do processo que eleva o estímulo destes, quais justificam-se por aprofundamentos em estudos, apaixonados, desafiados ou seduzidos ao limite de onde a natureza possa desvendar-se, como chamado ou missão.
Agradeço Prof. Carlos Fiolhais por trazer a luz esta discussão que por vezes ausente do que em origens, traça o sentido das pesquisas.
De mau sentido é buscar
aos gigantes da ciência
uma qualquer precedência
do seu jeito de pensar!
JCN
Em se tratando de um texto
quanto à sua primazia,
há que ver em que contexto
ele veio à luz do dia!
JCN
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