sexta-feira, 29 de abril de 2011
UM GOVERNO QUE NÃO GOVERNA
Uma das principais razões porque os cidadãos são hoje assaltados não apenas na rua, mas também aos balcões de empresas, é, decerto, a falta de protecção por parte do governo. Um governo que não defende os direitos dos contribuintes, que permita que haja pseudo-concorrências ou mesmo concorrências nenhumas (não é só a má qualidade da reduzida oferta de TV por cabo, são também, por exemplo, os preços uniformes dos combustíveis nas placas da auto-estrada), está objectivamente a proteger empresas sem escrúpulos ao mesmo tempo que ignora que um governo democrático emana do voto dos cidadãos. Fui daqueles que acreditou que o ainda primeiro-ministro, quando começou o seu primeiro mandato, tinha alguma veleidade de proteger os cidadãos-consumidores. Não tem, está à vista que não tem! Este é um dos piores governos que Portugal tem tido e não é só por nos ter conduzido à ruína financeira e económica. É ainda por nos ter conduzido à ruína ética e moral, com base numa prodigiosa deficiência na educação.
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11 comentários:
Não poderia concordar mais, Carlos.
A crise só se ultrapassa
por uma fumigação
que provoque a deserção
das moscas da nossa praça!
JCN
Totalmente de acordo consigo.
Sobretudo com a parte final.
Pior que a falência financeira é a falência moral a que esta forma de governação de faz de conta nos conduziu.
Nunca votei Sócrates, mas houve uma fase em que me convenci que das opções disponíveis em 2005, este seria um mal menor.
Em finais de 2007, devido às sucessivas situações duvidosas que envolviam a pessoa em questão e que vieram a público, mudei de opinião.
A crise internacional veio pôr a descoberto o facto de o governo ter uma influência nula no desenvolvimento do país.
A crise chegou, tem permanecido e mesmo agravado enquanto outros países parecem ter já recuperado.
Ainda ontem no fórum da TSF, a quase totalidade dos participantes elogiavam o seu "querido líder" e faziam questões que mais pareciam pré-estabelecidas.
Qualquer semelhança com a democracia pode ser mera coincidência.
Enfim, o mais grave é que já não basta mudar as pessoas porque as ideias, os tiques, o "chico-espertismo", o sobrevalorização da forma, do aspecto, da encenação em detrimento do conteúdo ficaram inculcados nas cabeças de muitíssima gente neste país.
Porque hei-de cumprir a lei se quem ocupa cargos públicos também não cumpre e nada lhe acontece?
Porque hei-de respeitar a autoridade da polícia se quem chefia também não a respeita?
E assim se percebe que nas imediações do estádio da Luz, a polícia seja insultada e agredida com pedras e garrafas como por duas vezes recentemente o foi.
Portugal é isto? Portugal tem de ser isto?
É preciso reduzir o número de deputados, moralizar a vida pública.
Num país sério da Europa um qualquer José Lello saía de cena depois do que recentemente fez.
Porque é que Teixeira dos Santos remeteu-se ou foi remetido ao silêncio desde o pedido de ajuda ao FEEF/FMI?
Temo que as coisas mudem para ficar na mesma.
Acalento a ideia de que estejamos no início de um ponto de viragem em que a ética e a moral renasçam das próprias cinzas. Já se ouvem muitas vozes nesse sentido. Caso contrário, nem os meus piores pesadelos conseguem prever o que se seguirá.
HR
O comentário do Carlos Fiolhais padece de um erro de conjugação verbal. Porque em Portugal o verbo «Governar» só tem a conjugação reflexiva. E, indubitavelmente, eles «Governam-se» até bastante bem.
Governar-se e governar
são faces da mesma cara:
tão iguais, postas a par,
que já nem Deus as separa!
JCN!
nem governa nem sai de cima
DISCURSO PARLAMENTAR EM SESSÃO DE 09.10.1837
(…) O que hoje quase é a classe média para o povo foi ao princípio a aristocracia – um protector, um abrigo, um escudo contra o Poder. Foi-lhe mister lutar contra os Reis; e o povo ajudou: venceu, e não tardou a abusar da vitória; de protectora e aliada tornou-se senhora, usurpou tudo, invadiu tudo, abusou de tudo. E o ciúme dos Reis primeiro, a inveja e o ódio dos povos depois, fez justiça ao usurpador. Caiu, como nós havemos de cair, apedrejada da indignação popular, se não reflectirmos e nos não moderarmos a tempo. E mais fácil, e mais pronto, e mais tristemente havemos de cair. Que a nossa oligarquia efémera é estátua de pés de barro: aquela tinha alicerces de ferro e sangue que ia até às entranhas do País. E caiu !
… … …
Nós, se com os nossos abusos trouxermos esse dia, se fizermos a loucura de tornar obnóxia ao povo a nossa classe, que ele ainda ama, que invocaremos no dia em que nos pediram contas ? Falaremos na História ? Mas nós ainda a não temos. Apelaremos para a gratidão dos serviços prestados ? Mas quais fizemos nós, quais que a nossa prol não fossem ?...
Não podemos, digo, apelar para a gratidão dos povos, porque ainda não fizemos nada a favor dos povos. Disse e provo: o povo trabalha e produz, a classe média adquire. Dir-me-ão que a classe média fornece os oficiais aos exércitos, os juízes aos tribunais, os legisladores ao Senado, os literatos às academias. É isto que dizem ?... Assim é: e grande serviço temos feito em verdade ! Por cada oficial que a classe média dá ao Exército, quantos soldados dá o povo ?
… … …
Damos os juízes aos tribunais; mas quem lhes paga ? Nós ou o povo ? Damos legisladores ao Senado. Mas se a rebelião ataca o Senado, as baionetas do povo é que o defendem. E o Senado decreta mais tributos, e o povo paga. Que do nosso mais rigorosamente se pode dizer que de nenhum país ser o povo quem paga os tributos, porque reduzido quase o Erário a viver dos indirectos, sobre o povo vão eles pesar quase todos.
Damos-lhes livros e doutores. Mas essa não é uma produção exclusiva da nossa classe: os sábios saem de todas e não pertencem a nenhuma. Assim eles fossem menos e melhores.
… … …
E se a questão actual é mera questão de algarismos, se nada mais do que o número queremos considerar, se calculam de quantidade, e a qualidade se despreza, eu desde já apelo (que também o sei fazer…) para o povo duma decisão que, dando à classe média a posse exclusiva do Estado, constitui uma classe absoluta e suprema, em perigo e para ruína da liberdade do povo, cujo nome se invoca para a usurpação (…)
Almeida Garrett
Já lá vai século e meio, e continuamos mentalmente em 1837.
Governo que não governa
não é governo nenhum:
é uma espécie de caserna
onde são... todos por um!
JCN
Governar dá muito trabalho e ganha-se muito pouco com isso...
O erro base, que não vale a pena discutir aqui, é pensar-se que o que acontece é determinado pelo primeiro ministro, seja ele quem for. Se assim fosse a solução não seria difícil.
Mas o Fartinho diz uma coisa certa: na actividade política "ganha-se muito pouco". Quem tem coragem para, nos dias que correm, se opor a isso?
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