segunda-feira, 11 de abril de 2011
DESIGUALDADE VS. DESCONFIANÇA: um feitio bem português.
Crónica publicada no semanário regional "O Despertar".
De surpresa em surpresa, de aparente irracionalidade em embuste maquiavélico, as notícias que nos enrouquecem os dias parecem ressoar em escritos centenários, brotando do pó dos livros como flores num deserto de objectivos. Na sua passagem ignorada por Portugal, Einstein terá escrito que lhe parecia que o povo português vivia como se não tivesse objectivos!!
Repetem-se evocações a outras esgrimas parlamentares indiferentes à cronologia histórica, como se as personagens transitassem no tempo e não no espaço, com outros disfarces mas com os mesmos feitios.
Parece que existem constantes na nossa história enquanto povo, carruagens de interrogações permanentes: como é que este povo e o seu engenho luso se acostumou, resignou, a ser pobre? Pobre não só de capital, que já existimos, antes dele, mas pobre de não sermos capazes de pensarmos enquanto comunidade, enquanto povo, de termos orgulho do bem-estar do nosso vizinho em vez coscuvilhar despeitosamente a desgraça alheia, ilusão vil, uma vez que o mal alheio rápido se transmuta em próprio.
Tropecei há dias num post de André Barata no blogue da Sedes, no qual são enumerados 10 pontos sobre o "problema português", pontos de partida para reflexão que o autor ensaia a partir de um estudo "The spirit level: why equality is better for everyone" de dois investigadores norte americanos, publicado primeiramente em 2009 e publicado em Portugal pela editora Presença em 2010 (O Espírito da Igualdade - Por que razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor). André Barata inicia o seu post analisando o gráfico que reproduzi acima.
Segundo a sinopse da editora portuguesa, "Richard Wilkinson e Kate Pickett, dois académicos britânicos, defendem neste livro polémico que são as desigualdades sociais, e não a pobreza em si, que mais contribuem para alguns dos problemas com que o mundo dito desenvolvido se debate actualmente. Através da análise dos indicadores presentes em relatórios publicados por diversas instituições, revelam como a violência, a toxicodependência, a obesidade, as doenças mentais ou a gravidez na adolescência são menos frequentes em comunidades onde a disparidade de rendimentos é menor, independentemente de estas serem consideradas ricas, e sugerem medidas para alcançar o equilíbrio e conceber uma sociedade mais justa. Um livro fundamental que nos obrigará a repensar a forma como nos organizamos e aquilo que valorizamos no nosso quotidiano."
Relembro o cuidado metódico que tem de haver na transposição dos resultados e conclusões de determinados estudos efectuados para fins bem específicos, noutros contextos e realidades estranhas ao mesmo. Recorrentemente, utilizar alhos para explicar bugalhos resulta no empobrecimento de alguém...seguramente no engano de muitos.
Mas não me parece que o exercício efectuado por André Barata caia neste engodo.
No post de André Barata, o qual merece uma leitura muito atenta, é identificado um "problema Português" que advém de uma marcada desigualdade de rendimento e de desconfiança interpessoal no nosso pais, a qual não é de agora, nem de ontem, mas enraiza-se num sub produto entérico da nossa diáspora descobridora que, principalmente, forjou ao longo dos séculos uma cultura de regime o qual, como o ditado "dividir para reinar", promove a desigualdade e a desconfiança entre todos.
A confiança foi trocada pela lealdade; a gestão hierárquica mas critica e participativa do bem comum substituída pela pura vassalagem acefala.
Lembram-se dos "Velhos do Restelo" que por aqui ficaram?
António Piedade
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3 comentários:
Desconfiados não somos,
creio bem, pelo contrário:
nosso espinho está no erário,
de que nem todos dispomos!
JCN
Buenas tardes...
Se houvesse mais igualdade
na nossa população,
Portugal era a nação
mais feliz da humanidade!
JCN
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