O beijo que Deborah Kerr e Burt Lancaster deram numa praia deserta do Pacífico, com rochas alongadas e um mar aprazível por enquadramento, e que as câmaras de Fred Zinnemann captaram é, dizem alguns cinéfilos, o mais belo, o mais ousado, o mais erótico de todos aqueles que foram vistos na tela. Talvez seja. Pelo beijo em si; ou pela rebeldia que representa face a rígidas e muito particulares esquadrias morais; ou pela fantasia que invoca e que permite sobreviver quando o cheiro a guerra paira no ar; ou por todas estas razões, em conjunto; ou por outras que me escapam.
O que é facto é que o beijo gerou escândalo assinalável nos idos de cinquenta e deixou Deborah, a actriz de porte austero e elegante, estreitamente ligada ao belíssimo e inquietante filme “From Here to Eternity”, justamente incluído pela Academia Americana de Cinema na lista das cem fitas mais românticas.
Mas não foi só neste filme que a estudante escocesa de arte dramática e dança, que um dia rumou a Londres e depois a Hollywood, empenhou o seu enorme talento. Daqueles que vi, dos muitos em que ela desempenhou o papel principal, recordo com particular emoção: “Quando os Sinos Dobram”, de 1947, “As Minas do Rei Salomão", de 1950, "Quo Vadis", de 1951, "Bom-dia, Tristeza", de 1957 e “O Grande Amor da Minha Vida”, também de 1957.
Curiosamente, neste último, é pela ausência física da actriz que a cena mais emblemática do filme ganha toda aquela intensidade. A desesperada subida de Cary Grant ao Empire State Building e a sua ainda mais desesperada espera no último andar, fica retida na memória, não por Deborah lá estar, mas por lá não estar e desejarmos que estivesse.
"Tenho de confessar que vivi tempos maravilhosos", foi o que disse a "rosa inglesa", nome pelo qual Kerr era conhecida nos meios da sétima arte, quando, já depois de ter feito setenta anos, a “Academia” lhe atribuiu um Óscar Honorário. Devem, de facto, ter sido magníficos esses tempos e essa vida que por eles passou. Assim como magníficos são os papéis que essa vida proporcionou em tempos idos e para tempos que virão. Até à eternidade, Deborah Jane Kerr.
Imagens retiradas de:
1 - http://home.hiwaay.net/~oliver/dkformal.jpg
2 - http://images-eu.amazon.com/images/P/B00005N52K.02.LZZZZZZZ.jpg
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2 comentários:
Belissimo post.
Esta convocação subtil que Helena Damião nos faz ao sublime, que ainda resta no nosso imaginário, é fundamental para a experiência do maravilhoso amor entre homem e mulher, difícil de explicar em toda a sua complexidade por meio da racionalidade de tipo científico.
Um certo processo de desmitologização levou o pensamento científico a modificar a relação com os símbolos e os mitos, mas para além de não os ter eliminado, não pôde ocupar o seu lugar.
Como pedagoga Helena Damião pede-nos para darmos mais atenção à mensagem inscrita em alguns mitos clássicos, como a vivência dos mitos ligados ao amor e sexualidade, para compreendermos melhor a revolta dos jovens na sua relação com os pais e mestres, espelhados nos seus ritos de passagem para a vida adulta. É esta moldura do desenvolvimento psíquico que dá maior dimensão ao processo de formação e transformação.
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