sábado, 14 de abril de 2007

Ao serviço de Sua Majestade

G. W. Bush justificou a guerra no Iraque com uma experiência mística, mais concretamente ouviu uma «voz» divina que lhe incumbiu conduzir uma guerra contra o «eixo do mal»: «Sou conduzido por uma missão de Deus. Deus disse-me 'George vai e luta contra estes terroristas no Afeganistão'. E eu fui. E então Deus disse-me 'George, vai e acaba com a tirania no Iraque'. E eu fui.»

Tony Blair foi mais discreto a expressar o seu fervor místico, por aconselhamento dos seus assessores, que Blair classificou de «um bando de ateístas». Mas parece que a onda mística que varreu os mais altos cargos da política inglesa e norte-americana é contagiante.

Documentos recentemente desclassificados dão conta que o misticismo assolou os serviços de informação britânicos do Ministério da Defesa. Em 2002, no auge da procura por Osama bin Laden, responsáveis do ministério contrataram psíquicos para estes localizarem bin Laden por «visão remota». Dezoito mil libras dos impostos dos contribuintes depois chegaram à conclusão óbvia: a «visão remota» é simplesmente uma fraude, como todas as restantes pretensas «capacidades» psíquicas.

Nem o MI5 ficou imune a esta onda psíquica: o novo responsável do MI5, Jonathan Evans, que assumiu funções no dia 1 de Abril, descobriu que tinham sido recrutado psiquícos e quiromantes para preverem onde Osama bin Laden lançaria o novo ataque. Aparentemente o dislate foi inspirado no Stargate, um programa «paranormal» de espionagem da Defense Intelligence Agency que desbaratou 20 milhões de dólares aos contribuintes americanos.

Evans não perdeu tempo a acabar com este programa completamente absurdo - embora muito divertido, especialmente depois de os quiromantes terem concluído das impressões palmares de Blair que ele era um dignitário católico com possibilidades de vir a ser um futuro Papa. Mais que considerações sobre o total desperdício de dinheiro dos contribuintes é preocupante que estes programas obscurantistas e cretinos tenham sequer tido lugar!

7 comentários:

José Luís Malaquias disse...

Cara Palmira,

Permita-me a ousadia de, mais uma vez, discordar de si (prometo penitenciar-me), mas desta vez é por uma questão táctica e não de objectivos.

Eu acho que os serviços secretos e as forças armadas quer norte-americanas quer britânicas deveriam gastar muito, mas muito mais em psíquicos, videntes, cartomantes, astrólogos e até no nosso querido Prof. Karamba.

De preferência, até deveriam esbanjar todo o seu orçamento militar nesse empreendimento.

A questão, cara Palmira, é que quanto mais dinheiro eles gastarem nessas parvoíces todas, menos dinheiro lhes sobra para bombas, soldados, artilharia, porta-aviões e demais brinquedos dedicados a matar e estropiar pessoas.

Além disso, a consulta regular e, de preferência, pública a esses amigos do além ajudará a expôr a estupidez intrínseca da administração que o povo norte-americano elegeu. Será, digamos assim, mais um prego no seu caixão. Eu sei que eles estão agora na mó de baixo, mas com vermes nunca se sabe...

Por isso, ver os apologistas da invasão do Iraque a recorrer a métodos pseudo-científicos para fazer valer as suas ideias, só me tranquiliza. Quando eles recorrem aos cientistas para atingir os mesmos fins, aí confesso que fico bem mais preocupado.

Joana disse...

Esta gente passou-se dos carretos!

Mas também, acreditar em trindades, virgens mães, milagres e criacionismos não é muito diferente de acreditar em quiromancias e outros disparates.

José Luís Malaquias disse...

Cara Joana,

Neste momento da minha vida, não sei muito bem em que é que acredito.
Não sei se existe um Deus ou se existe apenas uma mãe natureza.
Agora, acredito na liberdade de culto religioso e parece-me que comparar quiromancias a cultos religiosos é um pouco ofensivo para a dignidade de muitas pessoas que crêem e praticam a sua fé.

Camarelli disse...

caro José:

não deverão os quiromantes ficar ofendidos por serem dados por charlatães, mesmo por pessoas que acreditam em misticismos tão improváveis como o deus da bíblia?

porque é que há cultos com privilégios sobre outros?

lb disse...

Quando oiço estas histórias, fico sempre preocupado que a indignação nos leva a colocar a pergunta errada:
«O que leva os poderosos no mundo a acreditar em tais disparates?»

A pergunta importante é outra:
«Como chegam pessoas que acreditam em tais disparates a serem eleitos para nos governarem?»

Anónimo disse...

G. W. Bush justificou a guerra no Iraque com uma experiência mística, mais concretamente ouviu uma «voz» divina que lhe incumbiu conduzir uma guerra contra o «eixo do mal»: «Sou conduzido por uma missão de Deus. Deus disse-me 'George vai e luta contra estes terroristas no Afeganistão'. E eu fui. E então Deus disse-me 'George, vai e acaba com a tirania no Iraque'. E eu fui.»

A fonte da Palmira? As declarações de um dirigente palestiniano anti-semita, Nabil Shaath, que foi o único entre dezenas de pessoas a afirmar tê-las ouvido.

Shaath later qualified his comments, saying that he and other world leaders at a Jordan summit two years ago "understood that he was illustrating [in his comments] his strong faith and his belief that this is what God wanted." Both the White House and Palestinian leader Mahmoud Abbas, who was also present at the meeting, deny that Bush ever made such a statement.

Eu não quero defender o Bush, mas será que no post não deveria constar que a reputação da fonte é seriamente posta em causa?

Palmira F. da Silva disse...

Caro anónimo:

A minha fonte por acaso foi um documentário em três episódios da BBC, que analisava as tentativas de paz no Médio Oriente, de Outubro de 2005. Apenas pus estes links porque não encontro o link para o programa.

Mas não percebo muito bem as suas objecções até porque G. W. Bush reafirmou inúmeras vezes o seu papel de cruzado divino. Papel já abordado no seu livro autobiográfico, «A charge to keep» e dissecado no livro "Crusade: Chronicles of an Unjust War" de James Carroll do Boston Globe.

e Reafirmado publicamente pelo próprio Bush, por exemplo:

« his favorite, post 9/11 theme: that God is calling America to free the world, and Bush himself is heeding that call.

"America is a nation with a mission," Bush said, not afraid, in this crowd, to connote the crusade he is on.

"We're called to fight terrorism around the world," he said, intentionally using the religious term "called," a term he has repeatedly invoked over the last two and a half years.»

Papel de cruzado perfeitamente entendido e interiorizado pelo seu Departamento de Defesa, nomeadamente pelo general William "Jerry" Boykin, o sub-secretário da Defesa encarregue da caça a bin Laden, que considera ainda que os terroristas tentam destruir a América porque «somos uma nação cristã e o inimigo é um tipo chamado Satanás» considerando que «o nosso inimigo espiritual só pode ser defendido se lutarmos contra ele em nome de Jesus».

Boykin, um fanático que vê Satanás até em manchas escuras de fotos (de Mogadishio, capital da Somália), afirmou ainda que Bush, que foi eleito em 2000 sem a maioria dos votos, que foram para Al Gore, não foi posto na Casa Branca com o voto popular mas sim nomeado por Deus.

Mais alguns links para confirmar:

http://www.beliefnet.com/story/121/story_12112_1.html
http://www.blessitt.com/bush.html

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Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação e...